A malnutrição, especialmente quando associada a condições de saúde, não pode ser subestimada. Como representante de pessoas com Doenças Inflamatórias do Intestino, testemunho os desafios enfrentados por aqueles que lutam contra esta batalha muitas vezes silenciosa. Em Portugal, esta realidade é mais do que evidente e exige uma resposta imediata: a comparticipação de produtos de nutrição clínica, tanto entérica quanto parentérica, especialmente no ambiente domiciliar.
A malnutrição vai muito além da questão do peso; ela afeta todos os aspetos da vida de um indivíduo. Desde a falta de energia para realizar tarefas diárias até a incapacidade de combater doenças, os efeitos da desnutrição são avassaladores. Como paciente, vivencio diariamente a luta para obter os nutrientes necessários para manter um corpo saudável.
Em inúmeras situações, a nutrição clínica emerge como a única solução viável para pessoas que enfrentam desafios alimentares devido a condições médicas complexas. No entanto, a falta de comparticipação desses produtos em Portugal coloca um fardo financeiro insustentável sobre os ombros dos pacientes e as suas famílias. É cruel e injusto que o acesso a uma nutrição adequada seja determinado pela situação financeira.
A comparticipação de produtos de nutrição clínica é mais do que uma questão de comodidade; é uma questão de direitos humanos. Todos, independentemente da sua condição financeira, têm o direito fundamental de acesso a cuidados de saúde adequados. Negar o acesso a produtos essenciais de nutrição é negar a dignidade e a qualidade de vida aos mais vulneráveis.
Ademais, é fundamental compreender que investir na nutrição adequada dos cidadãos é investir no futuro da nação. A erradicação da malnutrição resultaria numa redução significativa dos encargos para o SNS, com uma poupança anual líquida superior a 166 milhões de euros. Cada euro investido nesta terapêutica nutricional representa uma poupança de 1,86€ para o SNS!
Uma população saudável é mais produtiva, apresenta menores custos com a saúde a longo prazo e contribui para uma sociedade mais resiliente. Portanto, a comparticipação de produtos de nutrição clínica não é apenas uma questão moral, mas também uma decisão inteligente do ponto de vista económico.
Urge que Portugal reconheça a gravidade da malnutrição e atue decisivamente para garantir o acesso equitativo a produtos de nutrição clínica. É uma questão de justiça, humanidade e responsabilidade social. Não podemos mais ignorar aqueles que mais necessitam de ajuda. O momento de agir é agora, e a oportunidade de fazê-lo está ao alcance no próximo dia 23 de abril no Parlamento, aquando da discussão em plenário de uma petição que abre a porta a a mudança em prol de milhares de pessoas em situação vulnerável possa ocorrer! É o momento de agir e garantir que TODOS os portugueses tenham acesso à nutrição clínica de que necessitam para uma vida saudável e digna.
É hora de colocarmos as pessoas em primeiro lugar e de agirmos em prol do bem-estar e da saúde de todos os portugueses.