A Ana, desesperada e sem saber o que fazer, mandou-me uma mensagem há uns dias: o pai de 80 anos foi diagnosticado com doença de Crohn.

As DII são mais comuns em jovens adultos, geralmente, entre os 15 e 35 anos. Podem, contudo, em menor número, ser também diagnosticadas na velhice.

A probabilidade de ser diagnosticado com uma doença inflamatória do intestino (DII) na velhice pode variar de acordo com diversos factores, como histórico familiar, estilo de vida e condições de saúde preexistentes.

De acordo com os estudos vigentes, a incidência e prevalência de DII em idosos são menores em comparação com jovens.

O tratamento dessas doenças em idosos pode ser desafiador, pois muitos têm outras patologias e tomam vários medicamentos, o que pode afetar o tratamento da doença inflamatória do intestino. Além disso, alguns medicamentos usados para tratar a doença inflamatória do intestino podem ter efeitos secundários prejudiciais no idoso. É,  por isso, importante que os idosos que sofrem de doenças inflamatórias do intestino tenham um acompanhamento médico frequente para monitorizar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme necessário. Uma equipa multidisciplinar, incluindo gastroenterologistas, nutricionistas e enfermeiros especializados, pode ajudar a garantir que os idosos recebam o tratamento adequado e sejam monitorizados adequadamente, para evitar complicações.

No dia 19 de Maio assinala-se o Dia Mundial de Sensibilização para as Doenças Inflamatórias do Intestino, este ano sobre o tema “DII não tem idade”.  Em Portugal, estima-se cerca de 25 mil pessoas que sofrem com este tipo de doença, sendo as mais comuns a doença de Crohn e a Colite Ulcerosa.

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Algo que parecemos esquecer é que, com o envelhecimento da população e o aumento da esperança de vida, o número de idosos com DII irá aumentar. Não só pelos novos diagnósticos, mas também por causa daqueles que foram diagnosticados jovens e, entretanto, envelheceram. Como irão evoluir os cuidados de saúde para fazer face a esta realidade tão próxima? Como irá a sociedade organizar-se para facilitar o apoio e cuidado necessários a estes futuros idosos com DII?

São questões que merecem reflexão mas que andam longe das prioridades da opinião pública em Portugal. Parecemos esquecer que investir hoje em cuidados de saúde e acesso rápido aos tratamentos, criar estruturas de apoio a estes doentes crónicos, é um investimento em maior qualidade de vida destas pessoas e uma poupança signicativa de recursos, tanto para o Estado como para a sociedade.

A criação de centros de referência para as DII visa melhorar a capacitação de mais profissionais de saúde e é uma forma igualmente importante de potenciar a investigação, em Portugal, para este tipo de doenças.. Portugal tem ótimos investigadores na área, com muito trabalho feito em parceria com centros de investigação internacionais, mas  faltam apoios e estruturas a nível nacional que potenciem não só o trabalho de investigação, como o envolvimento dos pacientes nessa mesma investigação.

O acesso à comparticipação rápida e equitativa de tratamentos, tanto de terapias biológicas como de podutos de nutrição clínica, é um imperativo no estado social que vivemos e na qualidade dos cuidados de saúde prestados a estas pessoas.

A criação do Estatuto do Doente Crónico dará o necessário enquadramento legal a todas as pessoas com DII e outras doenças crónicas, que garanta que todas as doenças crónicas sejam tratadas, naquilo que é transversal, de igual forma, e contemplando também, claro, as necessidades específicas de cada doença.

Um maior conhecimento daquelas que são as necessidades portuguesas, tanto em termos de recursos, como das necessidades dos pacientes, ajudará a estabelecer processos que se adaptam melhor à realidade do sistema de saúde e às exigências das DII em termos de cuidados de saúde.

No dia 19 de Maio, relembra-se que uma DII não tem idade, porque estima-se que, daqui a uma década, as pessoas com DII acima de 60 anos representarão um terço de todas as pessoas com DII. E, ainda assim, continua a existir pouca evidência dos impactos adversos deste tipo de doenças na saúde em geral e na qualidade de vida dos mais velhos.