A travessia da crise económica associada à pandemia da Covid-19 não será livre das mais profundas consequências sociais, vincando aquela que será, com certeza, uma nova era na história contemporânea. A inevitável resposta do Estado para com esta travagem, por força maior, da economia, servindo como intervenção de ambulatório para a atividade económica, provoca um agravamento daquela que já era uma dívida pública de dimensão no limiar do insustentável.

A governação no âmbito da política económica que não estimula a criação de riqueza por parte da iniciativa privada, constitui a crónica de uma morte anunciada para o futuro das gerações mais jovens. Uma preocupante herança para o futuro, cujos alicerces assentam em elevados níveis de dívida pública, em parco crescimento económico e na quebra da competitividade dentro e fora da UE.

As finanças públicas que foram, não há muito tempo, propagandisticamente classificadas de robustas, aparentemente não permitiram ao Governo ir muito além dos 5% do PIB, aquando da escrita deste artigo, no que toca a apoios à economia – um contraste verdadeiramente gritante, quando comparado com a realidade comunitária e extracomunitária no Ocidente.

Esta conjuntura atual vivida em Portugal não é, porém, feita só de desafios. Existe a oportunidade de mudar o paradigma da gestão pensada a curto prazo e da tomada de decisão baseada em resultados mais imediatos, de índole fundamentalmente eleitoralista. Mesmo com níveis de défice que podem chegar aos 10% e quebras históricas em termos de produto interno bruto. Essa oportunidade advém, claramente, de uma aplicação racional da chamada “bazuca” europeia, colocando de parte motivações ideológicas, propagandísticas e eleitoralistas na sua aplicação. O país precisa de reformas estruturais que criem condições propícias ao crescimento económico, por contraponto ao dogmatismo associado às políticas que acrescentam mais Estado. O equilíbrio político pede, agora mais que nunca, uma resposta equilibrada, moderada e verdadeiramente social democrata aos problemas que se avizinham, em todos os planos da governação.

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Portugal teve, desde o início dos anos 2000, um crescimento económico marginal. Mesmo com a aplicação, ao longo do tempo, de outros fundos com montantes consideráveis, também de origem comunitária. Será que é a história que se repete ou são os decisores que caem nos mesmos erros? Também a história poderá julgar aqueles que deliberarem, mais uma vez, a hipoteca do futuro de Portugal com as mesmas soluções de curto prazo e de retorno duvidoso no plano económico (mas seguro no plano político).

Impera, portanto, olhar para a bazuca europeia para lá do estímulo expansionista keynesiano e começar, finalmente, a instrumentalizar a oportunidade para retirar Portugal dos rankings nefastos para a juventude – o espelho demográfico do desempenho dos principais agentes económicos e sociais do futuro. Impera combater as altas taxas de abandono escolar. Impera combater a precariedade. Impera criar mais condições à criação do emprego, sobretudo para combater o flagelo do desemprego jovem. Impera estimular e acolher o empreendedorismo jovem. Impera a necessidade de uma transição digital e energética justa, ajustada à realidade socioeconómica do país, com viabilidade técnica e transparência, resistente a tentações megalómanas.

Só assim se consegue a esperança na recuperação, resiliência e sustentabilidade futuras.

Esperança essa, que não será, certamente, alimentada ao observarem-se investimentos de apenas um terço da “bazuca” no setor que representa, indubitavelmente, a esmagadora maioria dos postos de trabalho e da criação de riqueza para o país, bem como o conjunto dos maiores contribuintes em termos fiscais – o setor privado.