Falemos da liderança de Luís Montenegro no PSD. Não obstante a sua esmagadora vitória nas internas – com a maior diferença para o segundo classificado desde que esta força política usa o formato das diretas (2006) –, o incremento do seu capital político no partido e no país, desde então, parece não ser suficiente.

Perante a sua ausência da Assembleia da República e uma ala rioista na bancada, Montenegro faz bem em “Sentir Portugal”. Porém, entre a sua visita a 129 concelhos (9 distritos) e a sua participação em mais de 60 atividades partidárias, a verdade é que as sondagens não são animadoras para o presidente social-democrata. Com um Governo cheio de casos, casinhos e casões, o PSD não mostra a pujança nas sondagens que se esperaria. Além disso, um líder do maior partido da oposição que não fica colocado no pódio do destaque mediático (apenas atrás dos óbvios PR e PM) constitui uma distorção da ordem expectável das coisas (Montenegro ficou em 4.º, também atrás de Ventura, no primeiro semestre de 2023, num estudo da Marktest).

Montenegro tem propostas (já as abordou, por exemplo, em algumas entrevistas). Mas falta-lhe um maior reconhecimento social de que as tem ou de que elas são boas. Montenegro tem críticas e posições que o demarcam do Governo de Costa, mas falta-lhe, igualmente, um maior reconhecimento social de que as tem ou de que elas são adequadas.

Isto, claro, se quiser trilhar um caminho de sucesso que culmine numas legislativas que o levem ao lugar de primeiro-ministro. Mas, quando o próprio acha que perder por “poucochinho” as europeias não é um mau resultado, é fácil que se duvide da sua força de vontade ou, pior do que duvidar, que esta nem sequer seja objeto de pensamento (já que não se mostra). Além disso, é da responsabilidade de Montenegro a sua “pouca ou tardia reatividade em assuntos politicamente prementes” (citando as palavras da investigadora Paula do Espírito Santo ao Expresso), pelo que a sua ausência parlamentar não o iliba completamente.

O país tem vivido períodos conturbados politicamente, a que se juntam dificuldades socioeconómicas. A sociedade tende a esperar alguém que ponha a ordem na casa nestes momentos. Se franjas do PS e da esquerda namoram Pedro Nuno Santos, qual é a figura do centro-direita que se eleva carismaticamente? Nos últimos tempos, a aparição de Cavaco, o sebastianismo em torno de Passos e um conquistador-fazedor Moedas (desde a vitória em Lisboa até à JMJ) colocam Montenegro num bolso no seio deste espaço do espetro político. O PSD pensa em Passos e Moedas. E quiçá Moedas e Passos também pensam no PSD.

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