Na Dinamarca o primeiro ministro pertence ao terceiro partido mais votado. Rasmussen é responsável por um governo minoritário (nenhum partido conseguiu a maioria desde 1909). Na Bélgica o primeiro ministro pertence ao quinto (!) partido mais votado. E outros exemplos podiam ser dados. O problema é que, nestes países, os eleitores sabiam para o que iam. Aqui não.

Em quase 5 milhões e meio de eleitores, só 19% dos eleitores votaram num mundo que não existe – não é uma questão de políticas, é sobre perceber a realidade. 32,3%  andaram desatentos com os últimos quatro anos de oposição (onde a “maioria de bloqueio” se começou a formar) ou acreditavam numa alternativa. Quase 37%, contentes ou descontentes, decidiram manter a confiança na coligação. É por estas realidades serem tão diferentes que os eleitores não sabiam para o que iam. Não há uma esquerda, há três. Por isso, sim, é legitimo. Mas cobarde.

Vou vos dar alguns exemplos de como o mundo real é diferente desse mundo partidário (já trabalharam fora daí?). Das duas uma, ou nunca vos explicaram ou são desonestos, porque isto é evidente. Suponhamos que estão só pouco informados. Vamos por partes:

A austeridade, camaradas, não é um fim, é um meio. Não é um slogan de campanha, é um necessidade. Ora bem,  se o défice é a diferença anual entre as receitas e as despesas do estado. A austeridade (rigor em alemão) é só a diminuição das despesas e o aumento das receitas para equilibrar as contas públicas. Parece-me óbvio que os países que estão a passar por politicas de austeridade são aqueles que gastaram e gastam mais do que recebem. Não foi uma opção política. Simple as that.

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A divida pública. Catarina, a divida é o acumular de défices. Ou seja, se um país recebe menos do que gasta tem de pedir emprestado. Propor o “abatimento de 60%, com juro de 1,5% e pagamento entre 2022 e 2030”, é o mesmo que dizermos aos nossos filhos para pagarem 60% da divida que tem para com o amigo da escola quando e como quiserem. E com isto esperar que o amigo volte a emprestar se for preciso. Se quer acabar com a austeridade, suponho que baixe os impostos e aumente os gastos (salários, pensões…). Mais défice, mais dívida.  E se não tivermos quem nos empreste, não temos dinheiro para comer. Difícil?

A inovação. Ah aqui temos consenso. Calma. Quero que saibam que a inovação é um séria ameaça para modelos de negócio existentes. Veja-se o exemplo dos taxistas ou os hotéis que vêm no Uber e no Airbnb o maior dos males. Continuamos juntos? Jerónimo, Uber? Airb quê? Hein?

O Investimento. António, um abraço. Olha, mais do que impostos baixos, acredito que os empresários privilegiam estabilidade nas politicas fiscais (e esse acordo sobre o IRC, bem sei que a palavra conta pouco para esses lados, mas não te estiques). Preferem pagar mais hoje e o mesmo amanhã, do que menos hoje e muito mais amanhã.

Podia ficar aqui o dia todo.

As vitórias e derrotas partidárias tendem a desviar-nos do essencial. Os partidos políticos existem para representar ideologias que defendemos. Nada mais, não são clubes de futebol. Os partidos não são um fim, são um meio. A única vitória que devia ter havido no dia 4 de Outubro era a de Portugal, mas perdeu.

Portugal será um país melhor se pagarmos as nossas dívidas, se as pensões corresponderem ao que podemos pagar hoje e amanhã. Um país onde os salários sejam aumentados conforme a capacidade das nossas empreses, onde o Estado não seja pai de ninguém, onde cada um seja responsável pelo seu destino, onde da competitividade venham as melhores ideias, onde os deputados são eleitos dentro dos partidos mas independentes (que votem ou aplaudam independentemente das cores, atentos ao conteúdo), onde os subsídios são merecidos, onde os jovens criem empresas, onde os Portugueses vão e voltam, onde a exigência seja constante, onde os melhores têm os melhores empregos, onde quem nos representa seja honesto.

Posto isto, tenho a esperança que um grupo de perdedores não governe um país que pode ser de vencedores.

Estudante na Nova School Of Business and Economics