Sexta-feira 29 de Novembro os jovens portugueses juntaram-se novamente à Greve Climática Estudantil que se tem repercutido às centenas por todo o mundo. Coincidentemente era Black Friday, daí que de todos os ecologistas portugueses apenas umas centenas tenham participado, bem menos do que nas anteriores edições – os restantes estavam na fila da Bershka para comprar uma T-Shirt feita de garrafas recicladas a metade do dobro do preço original.

Claro que estes jovens têm todo o direito de se manifestar, aliás, como já nos foi dito pelo nosso governo, eles nem precisam de educação básica, pelo que faltar às aulas ou não, é indiferente. O diploma será entregue no fim na mesma, em formato digital ou em papiro, claro está.

O problema não é que se manifestem, nem que advoguem que as alterações climáticas sejam uma questão que precise de solução, nem que faltem às aulas. O problema é a mentalidade. A falta de responsabilidade e senso comum em compreender que aquilo que advogam começa no indivíduo, começa em cada um deles.

Aqui o pensamento assemelha-se ao da abstenção: “um voto não faz a diferença, portanto eu não voto, tu também não, ele também não, e por aí em diante”, e prende-se a algo mais grave: um comodismo que grita mais alto do que os meninos de megafones no Terreiro do Paço.

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Se nós mesmos, seres racionais e conscientes da realidade que nos rodeia, não tomamos as opções mais ecológicas porque são mais caras ou mais difíceis de encontrar, no fundo, porque não dão jeito, que direito temos de ir pedir ao Estado que mude por nós?

Porque na verdade ninguém quer deixar de comprar vestidos feitos 95% de poliéster e 5% de algodão orgânico produzidos por pessoas exploradas em países que poluem 200% mais que nós, mas onde Santa Greta não vai chatear que não dá jeito. Nem quer deixar de ir ao supermercado e trazer um cabaz de produtos biológicos, vegan, que já atravessaram meio mundo embrulhados em 50 kilos de plástico pelas fadas da princesa Aurora.

Ninguém quer deixar de comprar aos seus filhos 99 brinquedos plásticos, dos quais eles vão ignorar 30, partir 40 e rapidamente perder o interesse nos restantes 29. Nem quer deixar de viajar para destinos paradisíacos, fazer 3 escalas e obrigar o/a namorado/a a tirar 333 fotografias das quais apenas 10 irão ser publicadas no Instagram para meter inveja, perdão, “influenciar” os seus “followers”, ignorando a miséria e a poluição que esses mesmos destinos, também sofrem.

Somos o produto de uma sociedade consumista, de excessos, comodista e altamente hipócrita. E por sermos hipócritas pedimos ao Estado para mudar aquilo que nós não mudamos, seja através do voto, seja através de ações quotidianas.

A verdade é bem dura de engolir, pois o problema reside não naquilo que consumimos, mas na quantidade. O planeta tem mais de 7 bilhões de habitantes e a larga maioria consume de forma exponencial, pelo que mesmo que todos fossemos vegan, vivêssemos em cabanas à luz das velas, e lavássemos a roupa no rio, continuaríamos a ter impacto no ambiente e os recursos continuariam a ser insuficientes.

Logo, a não ser que venham propor uma “Solução Final” para os que estão a mais na quota mundial, e uma esterilização de 25% dos que restarem, não estou a perceber como pretendem resolver o problema. Na minha opinião, a solução claramente não passa pelos excessos e histerismos aos quais temos assistido, mas sim por uma responsabilização do indivíduo, pela tomada de decisões conscientes, e pela moderação.

Uma vez li uma frase que dizia “o inventor da pen já salvou mais árvores que a GreenPeace”, e as empresas de facto respondem as escolhas comerciais dos consumidores, pelo que se queremos mudança, em vez de nos manifestarmos se calhar da próxima vez que formos às compras em vez de irmos ao Pingo Doce vamos ao Mercado, ou em vez de irmos a concertos deixar mais lixo no chão, apanhamos o mesmo como pessoas civilizadas.

E se não o quisermos fazer, então que não o façamos, mas não “assassinemos” árvores para ir para a rua de cartaz na mão, de punho cerrado tal comício comunista se tratasse, para provar a nós mesmos e aos outros, que temos a consciência limpa. Concluindo, a ideia da ecologia é muito bonita, mas só quando são os outros a pô-la em prática, que a mim não me dá jeito.

P.S.: Os números são quase todos satíricos, e quem se ofender com isso, por favor, aconselho a que calcule a sua pegada ambiental, se mude para o mato e viva da fotossíntese.