Não gosto de política e não gosto de políticos.
Quantas vezes ouvimos esta frase das pessoas que nos rodeiam? Prevalece um sentimento de desconfiança e desdém em relação aos políticos. Uma força omnipresente que molda a percepção pública do que é a política e para que serve. A relação paradoxal entre a criticável dança política e o catalisador indispensável para a melhoria e para o progresso da sociedade.
A diferença entre a visão idealizada da política e a violência da sua realidade promovem a dissonância entre as promessas feitas na campanha eleitoral e os compromissos assumidos. No entanto, é precisamente dentro dessa arena que o futuro das liberdades civis, igualdade social e da nossa qualidade de vida como um todo é moldado e refinado.
A política é a manifestação intrínseca das relações humanas e das suas dinâmicas sociais. Ao longo da história, a política evoluiu de um sistema rígido que impunha normas discriminatórias, para uma força dinâmica que impulsiona mudanças positivas. A título de exemplo, pensemos na transformação dos direitos das mulheres — uma evolução de uma época em que as mulheres eram proibidas do direito básico de votar para uma era em que a participação igualitária nos processos políticos não só é aceite, mas é defendida. Tudo isto com a mudança de “uma vírgula num papel” (e de todo o esforço de anos para que tal acontecesse, naturalmente).
A luta pelas liberdades civis, incluindo batalhas contra o racismo e a discriminação, destaca o poder transformador incorporado nas estruturas políticas. Embora o processo seja complicado e os resultados ocasionalmente imperfeitos, a política permanece como o veículo principal para traduzir ideais sociais em progressos tangíveis. Só através das políticas certas, podemos sonhar com uma sociedade cada vez mais inclusiva, equitativa e próspera.
Políticas que defendem a inclusão não refletem apenas a diversidade de uma sociedade, mas trabalham ativamente para desmantelar barreiras e garantir oportunidades iguais para todos. Desde o reconhecimento de injustiças históricas até à promoção de ações afirmativas, a inclusão na política significa um compromisso para com a correcção de desequilíbrios e a celebração das nossas diferenças.
Nesta era da simplificação, dos tweets aos tiktoks de dez segundos, o problema político é que relações humanas complexas não podem ser simplificadas. A simplificação excessiva prejudica a capacidade do público de apreciar a profundidade dessas interações, levando à desilusão generalizada.
Este desencanto e desconexão públicos com a política tradicional, conduz ao ressurgimento do populismo – de esquerda ou de direita – simplesmente porque é mais fácil prosperar num ambiente de frustração e soluções simplistas. Ouvir a conversa de café e replicá-la na TV, cria uma sensação de união entre o povo e o político populista. Propostas racionais, pragmáticas, justas e aplicáveis ao mundo real? Zero.
Para combater o apelo do populismo, torna-se imperativo preencher a lacuna entre o eleitorado e as complexidades da política, fomentando um sentido renovado de participação e a tomada de decisões informada. Ler os programas de governo nunca foi tão importante. Deixarmos o “carisma” dos políticos de charneira de lado e efectivamente lermos o que cada partido propõe para a sociedade e como podemos, através do nosso voto, influenciar o futuro do país naquilo que acreditamos ser mais importante.
O eleitorado moderado, muitas vezes negligenciado no fervor das ideologias extremas, detém a chave para moldar os cenários políticos. Líderes bem-sucedidos, como Tony Blair e Margaret Thatcher, entenderam esse equilíbrio delicado.
A moderação na política envolve encontrar pontos em comum no meio de opiniões divergentes de modo a forjar políticas que abordem as necessidades práticas do povo. É ao centro que as complexidades das relações humanas convergem.
A comunicação eficaz serve como o pilar que conecta os líderes e os programas ao eleitorado. Partidos que se destacam na comunicação eficaz conseguem articular políticas complexas de maneira acessível, compreensível e sem jargões. O povo merece e precisa de mensagens claras e compreensíveis, que fomentem uma relação de confiança para com os actores políticos.
Combater a intolerância e celebrar as nossas diferenças sem radicalismos torna-se hoje cada vez mais crucial na nossa convivência.
Pode estar repleta de complexidades e de contradições, ser mais emocional ou mais racional, mas, reconhecer a natureza paradoxal da política é fundamental. Mesmo imperfeita, a política, serve como a força indispensável para nos impulsionar em direção a um futuro mais justo, inclusivo e equitativo. Abraçar essa complexidade não é um apelo à aceitação cega, mas um convite ao bom senso para o bem da sociedade como um todo.
A frase de Bismarck é antiga, mas actual: “a política, é como as salsichas. Para se apreciar o seu resultado final, não se pode ver como é feita”.
Foquemo-nos nas ideias.