Abre hoje em Lisboa o primeiro curso privado de Medicina em Portugal. É um facto histórico que se fica a dever à persistência dos dirigentes da Universidade Católica Portuguesa que, ao longo de décadas, viram a sua pretensão ser recusada pelas autoridades do Estado.
Pode mesmo dizer-se que hoje o 25 de Abril chegou finalmente ao ensino da Medicina em Portugal. Para a história fica o estranho caso de uma área de saber que sempre esteve interdita a uma fatia grande de bons alunos portugueses. O Estado, acolitado pelo lóbi da classe médica, decidiu que os médicos têm que ter pleno emprego e só podem trabalhar em Portugal. A consequência é que todos os anos o Estado disponibiliza apenas um número muito limitado de vagas para o curso de Medicina, deixando dezenas de pequenos génios em frustração. Alunos com médias de 18 e 19 são levados a dirigir-se à porta do curso do lado ou a emigrar, pagando uma fortuna para se poderem realizar profissionalmente.
Ano após ano, antes e depois da pandemia, a realidade é uma: não há médicos suficientes. Mas a conclusão absurda dos médicos, apoiada pelas autoridades do Estado, é outra: há excesso de médicos. Nós, pobres mortais, é que não vemos. Se calhar porque muitos morrem por não terem encontrado um médico que os socorra a tempo.
Sempre vivi intrigada com este fenómeno. Nunca se ouviu criticar a oferta de cursos de Direito, Arquitetura, Engenharia, Psicologia, Economia, Gestão. Será que não há em Portugal juristas a mais, engenheiros a mais, arquitetos a mais, economistas e gestores a mais? Haverá pleno emprego em todas estas profissões? Porque é que um jovem que sinta vocação e tenha capacidade para ser médico, só o pode ser se os doutores já formados autorizarem?
Será que todos os que reclamam um melhor SNS, médicos de família para todos os Portugueses, exclusividade para médicos e saúde acessível para todos, não percebem que nada disto é possível enquanto durar este condicionamento na formação de médicos? Percebem, mas preferem a ideologia à solução de tão graves problemas. E neste caso a ideologia da esquerda até pactua com os privilégios de classe, só para manter a narrativa.
Se houver mais médicos, os Portugueses ficam mais bem servidos e a livre concorrência faz o resto: mais oferta leva à racionalização de preços; o sistema vai buscar os melhores; quem não encontra aqui emprego vai procurar noutro lado ou muda de profissão.
Hoje é um grande dia, porque hoje acaba a ditadura de médicos e Estado sobre quem deve ou não deve, pode ou não pode estudar Medicina. A partir de hoje, tal como noutras áreas do saber, os alunos que tenham vontade e capacidade para ser médicos passam a poder tirar o seu curso em Portugal, tal como qualquer outro jovem.
Custou, mas foi. Obrigado à Universidade Católica por nos libertar desta última ditadura que o Estado, de braço dado com o lóbi dos médicos, nos impunha.