O Ageing in place (“envelhecimento em casa”) deveria passar a estar na ordem do dia e ser tema de debate obrigatório em Portugal, no sentido de que, quem pretender permanecer em casa no período do seu envelhecimento, possa perceber que o seu conforto e bem-estar saem melhorados.
Chegados a uma determinada idade, as pessoas deparam-se com a necessidade de escolha daquela que julgam ser a melhor solução para o seu bem-estar: Ou permanecem em casa e têm soluções que permitem viver mais confortáveis; ou mudam-se para uma residência sénior, onde os cuidados são permanentes; ou ainda, como acontece amiúde, são acolhidos pelos filhos, amigos ou familiares, que os ajudam na fase mais avançada da vida.
Dentro destas alternativas, muitas pessoas optam por escolher envelhecer em sua casa, tentando manter a sua independência o maior tempo possível. A sensação de segurança, de controlo contínuo da sua vida, e a ligação que têm à memória afetiva de toda uma vida, leva a que as pessoas optem, em grande parte das vezes, por ficar em sua casa até ao fim dos seus dias. Mas isso deve ser feito de uma forma ponderada, e desde que com garantia de conforto, qualidade e bem-estar, situação essas apenas proporcionadas se dispuserem de acesso a adequados serviços ao domicílio (sejam estatais ou privados).
Neste sentido, o Ageing in Place , termo técnico que engloba esta temática, é muito pouco discutido ou debatido em Portugal, dando-se muito maior atenção e relevância a outras soluções institucionais (como é o caso das residências seniores).
Se analisarmos este tema noutras geografias, ele aparece muito mais debatido e valorizado, sobretudo em países anglo-saxónicos, como o Canadá ou os EUA, o Reino Unido ou a Irlanda, países esses onde existem apoios efetivos e iniciativas concretas que transformam esta alternativa de viver os últimos anos de vida em casa numa solução muito válida para grande parte das famílias.
Em boa verdade, este é um tema que deveria sair rapidamente para a agenda pública e privada em Portugal, por diversas razões, entre as quais destaco três.
A primeira, é sobretudo demográfica, pois não é difícil encontrarmos previsões relativas ao envelhecimento em Portugal e a sua posição nas próximas décadas. Assim, segundo o INE, a população com mais de 65 anos terá um peso cada vez mais significativo, devendo atingir 37% da população em 2080, quando hoje representa cerca de 22% (2,2 milhões de pessoas), pelo que certamente aparecerão cada vez mais pessoas a decidir envelhecer em casa.
A segunda, é a resposta estatal a esta evolução, não se vislumbrando por agora medidas concretas e vigorosas, projetadas a diversos anos, para o seu combate e resposta a esse cenário. Sabemos apenas que a população mais idosa irá atingir em Portugal, dentro de algum tempo, um número superior a 3 milhões de pessoas, e que as respostas que devem ser dadas, quer a nível hospitalar, quer ao nível de apoio domiciliário, quer ainda ao nível de residências seniores, não estão ainda hoje claras e orientadas para essa população projetada. Assim, numa perspetiva de longo prazo, podemos facilmente confirmar que o número de camas disponíveis e projetadas em hospitais e em residências afiguram-se claramente insuficientes para fazer face à tendência de crescimento desta população mais idosa.
Por fim, mas não menos importante, a razão financeira. Com a constante redução do valor das reformas face ao último salário, perspetivada para os próximos anos, a que se junta a baixa capacidade de poupança da população portuguesa, as famílias poderão chegar ao seu período de reforma com rendimentos bastante mais baixos, não lhes permitindo continuar a ter uma vida capaz e condigna. Desta forma, se nada fizermos com antecedência, iremos ter, em poucos anos, uma população idosa muito mais empobrecida, com níveis de rendimento muito baixos, conduzindo tudo isso a um problema social agravado. Assim sendo, problemas como a falta de integração comunitária, o isolamento social, e até a solidão, agravar-se-ão e tornarão a sociedade ainda mais frágil.
Em suma, devemos considerar o Ageing in Place um tema que deveria passar a estar na ordem do dia, permitindo que o mesmo seja bem planeado e bem trabalhado, e com tempo, obrigando a repensar as condições de habitabilidade, os impactos sociais e as condições financeiras da população mais idosa.