As últimas semanas têm sido de uma enorme pressão para com a Iniciativa Liberal, pelo simples facto de pretender apresentar uma solução diferente aos eleitores. Para o “clube de casamentos forçados” em que a direita portuguesa se está a transformar, o facto de um partido querer ir sozinho a votos é uma ameaça gigante à construção de uma alternativa não socialista e um partido levar o seu programa a sufrágio dos eleitores é um erro estratégico.

Paulo Portas, para quem a possível inexistência de futuro para o CDS pode ser um entrave a uma candidatura presidencial, elucidou-nos sobre os 10 deputados a mais que uma coligação PSD-IL-CDS poderia ter obtido nas últimas legislativas. Ou seja, um anterior presidente de um partido que ficou sem representação parlamentar devido ao nosso rudimentar sistema eleitoral, em vez de assumir as suas responsabilidades por nunca ter tentado alterar esse sistema eleitoral, prefere tentar arrastar a Iniciativa Liberal para o destino do CDS (os novos “verdes”), um partido satélite destinado a recolher mais uns minutos de tempo de antena parlamentar.

Pelo lado do PSD, com destaque para alguns dos seus vice-presidentes, ficamos a saber que ninguém percebeu que a Câmara de Lisboa foi conquistada pelo simples facto de a esquerda não ter sentido necessidade de se coligar em torno de Fernando Medina, o que pode ser comprovado somando a votação de PS, CDU e BE e verificando que obtiveram 50,02% dos votos. Agora imaginem o que teria feito a esquerda lisboeta se suspeitasse que podia perder esta eleição? Rescrever a história não ajudará o PSD a ganhar eleições nacionais e com a IL na coligação de Moedas a esquerda não teria deixado fugir a câmara de Lisboa.

Descobrimos ainda que a IL é a culpada pela iminente queda do governo açoriano em que PSD, CDS e PPM se têm dedicado a aumentar a dívida regional e simultaneamente alargar o número de cargos políticos. De facto, para quem está habituado a cheques em branco a IL é um problema! O PSD Madeira já tinha chegado à conclusão de que existem partidos mais fáceis de convencer, visto que não esteve disposto a pagar o preço de se coligar com a IL.

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A solução que nos é apresentada passa por nos conformarmos com o uso que o PSD e PS fazem de um sistema eleitoral que desperdiça 700 mil votos a cada eleição! Os dois maiores partidos aproveitam a existência de pequenos círculos eleitorais para chantagear os restantes partidos e eleitores, opõem-se à criação de um círculo nacional de compensação, e ainda fazem birra se alguém não sede às suas exigências. No fundo os saudosistas da Aliança Democrática (AD) comportam-se como “crianças mimadas” ao mesmo tempo que se autoproclamam de “adultos na sala”.

Por outro lado, quem ouviu o congresso do PSD concluiu que as suas prioridades vão passar pela distribuição de benesses por pensionistas e funcionários públicos. Esta estratégia pode até ser eficaz a conquistar votos de algumas clientelas políticas, mas é claramente oposta ao que os liberais têm defendido. Deve a IL esconder-se num PSD que quer fingir que o nosso sistema de segurança social é sustentável e não demonstra nenhuma vontade de agilizar a nossa administração pública? Acreditam mesmo que o votante tipo da IL se vai sentir atraído a votar nesta coligação? Acham mesmo que eleger Cavaco Silva como referência faz com que os liberais queiram deslocar-se à cabine de voto?

Acresce que, a estratégia de anunciar que só formará governo se ganhar as eleições é um risco que não foi bem medido. Será muito difícil num espaço muito mais fragmentado o PSD ser o partido mais votado, pelo que não convencer a IL a coligar-se antes das eleições pode ser o fim da liderança de Luís Montenegro.

Há uns meses, um estudo da Universidade Católica, mostrou que a o resultado obtido por PSD, IL e CDS a concorrerem individualmente é superior a uma coligação entre estas 3 forças políticas, o que a meu ver é justificado pela possibilidade que a IL traz aos eleitores de optarem simultaneamente por liberdade na economia e costumes. Se a este facto associarmos a capacidade em resgatar eleitores da abstenção, concluímos que se torna indispensável que exista uma solução liberal no boletim de voto.

Por último, é bom lembrar que a engenharia eleitoral e luta por lugares diz menos aos eleitores do que a defesa de ideias políticas claras. Se os eleitores ficarem com a ideia de que os adversários do Partido Socialista passam mais tempo a salivar pelo poder, desenhar formas engenhosas de o atingir, ou em tentativas de castrar a energia que sempre caracterizou os liberais, é bem provável que sejamos premiados com uma nova geringonça, com a agravante de o seu novo comandante ser um genuíno defensor dessa solução.