Os congressos partidários dos grandes partidos políticos são momentos importantes para a vida política, mas também para o futuro da vida dos cidadãos. São também como os melões: só depois de abertos se sabe se são bons.
O 24º Congresso Nacional do Partido Socialista (PS), decorrido entre os dias 5 a 7 de janeiro, revelou-se um bom momento de afirmação do partido. Mas mais importante do que as questões internas, revelou-se uma oportunidade para a renovação do compromisso com o progresso com o país.
Sendo momentos importantes, são também altamente mediatizados. E já se sabe que a lente dos media valoriza determinados aspetos em detrimento de outros.
Assim foi com algumas intervenções sobre o atual presidente da República. No entanto, foram claramente hipervalorizadas, pelos media, face à generalidade dos temas que subiram ao palanque levados pelos congressistas.
Muitos foram os assuntos que estiveram na agenda dos trabalhos. Tendo assistido aos três dias de trabalhos, destaco aqui três características da reunião magna socialista:
Transição tranquila
A saída de António Costa como secretário-geral não era desejada pela maioria dos socialistas e ocorre pelos motivos por todos conhecidos. Deu-se assim a situação inédita de um novo secretário-geral iniciar funções quando o seu partido tem responsabilidades governativas com um outro primeiro-ministro que não o próprio.
Como iriam Costa e Pedro Nuno Santos coexistir neste Congresso? A expetativa era muita quanto à resposta a esta pergunta.
Para desilusão de muitos, assistiu-se a uma muito tranquila transição de poder. As notícias da morte política do ainda primeiro-ministro são manifestamente exageradas e o PS tem em Costa um ativo político que vai valorizar.
Pedro Nuno Santos, por sua vez, mostrou grande inteligência política ao compreender isso mesmo, não renegando o passado do PS, na era costista, na governação do país. Mas foi corajoso, mostrando – e verbalizando – que os olhos estão postos no futuro e que há nova energia e novas ideias para as políticas que o partido propõe aos portugueses.
Não foi preciso “matar o Pai” para iniciar uma nova fase na vida do PS. Não é habitual na política portuguesa uma tão suave mudança de protagonistas.
União nas bases
Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro (este último o candidato que apoiei nas eleições internas) anunciaram previamente que iriam apresentar listas conjuntas aos vários órgãos nacionais do partido.
Com isso mostraram que a refrega eleitoral – que como qualquer disputa eleitoral tem sempre os seus momentos mais acalorados – está ultrapassada. Efetivamente, é mais aquilo que os une do que aquilo que os separa.
Esse anúncio prévio permitiu um clima distendido e de grande tranquilidade entre as bases socialistas. Os congressistas puderam assim concentrar-se em discutir ideias e não pessoas, em debater propostas para a governação ao invés de questiúnculas internas, em olhar para o país em vez de ficarem fechados entre as quatro paredes da Feira Internacional de Lisboa.
O PS sai do congresso com as fileiras unidas e coesas. O objetivo está traçado: há umas eleições legislativas para disputar no dia 10 de março e é nesse objetivo que vão ser concentradas as energias. Há, em suma, uma energia positiva nas hostes e esse é um primeiro passo para uma vitória eleitoral.
O futuro do país
A intervenção final do novo secretário-geral do PS neste congresso é merecedora de ser conhecida, pois os pontos que foram servidos nos resumos mediáticos são redutores. Neste discurso há uma ideia forte transversal: a política não pode viver desligada daquelas que são as principais preocupações das pessoas.
Nesse sentido, Pedro Nuno Santos assume, sem complexos, que o PS deixa um legado globalmente positivo nos últimos anos de governação. Mas há ainda muito para fazer no futuro e o novo ciclo político do PS tem ideias e propostas concretas para o conseguir.
Essa capacidade para o exercício da autocrítica aliada a uma renovada visão das políticas públicas é uma verdadeira força eleitoral. O PS não está acantonado nos méritos da governação mais recente, não renega que existem muitos problemas, mas apresenta-se como a única política capaz de os resolver.
Prova disso mesmo foram as várias propostas concretas já apresentadas pelo agora candidato a primeiro-ministro Pedro Nuno Santos. Deste Congresso e desta intervenção final emerge como uma das grandes mensagens do PS a capacidade de encontrar novas respostas para os nossos desafios coletivos.
Terminado o Congresso, os olhos estão postos no futuro do país. A generalidade dos outros partidos segue o caminho a que já nos habituou: a crítica pela crítica, sem ideias e propostas para mostrar como fazer diferente.
Este vazio de ideias é péssimo para a nossa democracia. Não só porque dá azo ao crescimento do populismo, mas também porque mostra que não existe uma verdadeira alternativa política.
O PS está de novo em jogo. Segue forte e coeso, de cabeça erguida, apresentando-se aos portugueses como uma força transformadora da nossa sociedade e que tem uma visão de futuro para o país.