Nos dias de hoje, uma das problemáticas mais importantes — e que merece uma ampla e profunda reflexão — é a presença da religião no espaço público, em particular as (quase sempre) conflituosas relações entre os movimentos religiosos, a sociedade civil e o Estado. Na verdade, historicamente, as religiões/Igrejas sempre estiveram no domínio público, nomeadamente, como uma poderosa força económica e política.

Um dos exemplos da sua presença no espaço público é o Dia Mundial da Religião, comemorado sempre no terceiro domingo de cada mês de janeiro; em 2019, será no dia 20. É uma data muito importante, não só do ponto de vista da fé (do seguidor de um movimento religioso), mas, também, é uma boa oportunidade para reforçar o debate sobre a relação da religião e a sociedade: por um lado, como a religião influência a sociedade – infelizmente, mais como um elemento promotor de conflitos/guerra do que de paz — e, por outro, como a sociedade lida com o fenómeno religioso hoje.

Esta comemoração foi inicialmente criada pela “Assembleia Espiritual dos Baha’is” dos Estados Unidos, em 1950. De caráter universalista, esta data passou a ser celebrada também por outras religiões, como forma de incentivar o diálogo e o entendimento inter-religioso.

Mas quem são os Bahá’is? De forte influência islâmica (do ramo xiita), este movimento religioso foi fundado, no século XIX, na antiga Pérsia (hoje Irão), pelo líder espiritual Bab; nascido em 1819, foi perseguido pelo governo da época e executado em 1850. O seu sucessor foi Bahá’u’lláh (1817-1892) que, fugindo das perseguições, instalou-se na cidade de Haifa, Israel, onde hoje é a sede mundial. No início do século XX, expandiu-se para outras regiões da Ásia (Índia), África e, principalmente, para a Europa e Estados Unidos, contando hoje com cerca de 5 milhões de seguidores em todo o mundo.

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Enfatizando a união espiritual de toda a humanidade, a sua doutrina baseia-se em três princípios filosóficos-religiosos principais:

  1. Unicidade de Deus – existe apenas um único Deus, fonte de toda a criação, de toda a existência. A espiritualidade de todas as religiões no mundo provém deste Deus único.
  2. Unidade da religião – todas as grandes religiões históricas partilham a mesma origem divina; por isso, possuem os mesmos princípios, as mesmas verdades espirituais. Ao longo da história da humanidade, as religiões evoluíram por etapas/fases, através de revelações progressivas: os grandes líderes espirituais – como Abraão, Buda, Jesus, Maomé, Bab – são, na verdade, manifestações humanas de Deus, os testemunhos, os profetas, os mensageiros. Portanto, só há uma religião, que é revelada por Deus em diferentes estágios históricos, para promover a unidade e a salvação do mundo.
  3. Unidade da humanidade – todos os seres humanos foram criados por Deus como iguais, como uma família humana, com os mesmos direitos e deveres; por isso, é necessário respeitar todos os povos, todos os grupos étnicos-raciais. Partilhando estas ideias, o propósito do ser humano é buscar e amar a Deus, através de orações, reflexões e praticando a solidariedade.

Como todas as religiões, a fé Bahá’i defende uma série de códigos éticos-morais e estabelece rituais religiosos e regras de comportamento, tais como: leitura/estudo dos ensinamentos/mensagens, celebrações comunitárias das datas de nascimento e morte dos principais líderes religiosos, orações diárias, jejum, contenção sexual, defesa do casamento (contra o divórcio), abstinência de álcool e drogas, proselitismo, contribuição monetária e peregrinação ao locais sagrados, nomeadamente ao Centro Mundial Bahá’i, em Haifa.

Qual a razão do Dia Mundial da Religião? É um importante momento ecuménico para promover a convivência, o interconhecimento e o diálogo inter-religioso, buscando, desta forma, um futuro livre de preconceito (racial, étnico, nacional, social, género, sexual), discriminação e intolerância religiosa. Assim, é possível buscar uma maior igualdade, harmonia entre todas as religiões, união entre as nações e a promoção da paz mundial.