O «efeito Greta» pode querer dizer que a jovem sueca tão badalada nos «media» pode vir a ter um impacto especial na questão ambiental, cuja complexidade não facilita porém a compreensão, pelo menos por parte de quem não tem bases científicas para compreender aquilo que os jornais repetem sem os próprios jornalistas conhecerem bem o significado dos termos e dos números que divulgam. Duvido, pois, que isso aconteça.

O caso Greta – chamemos-lhe assim – parece-me simultaneamente mais simples e mais complicado. Mais simples porque as peculiares características da jovem sueca – um pouco como sucedeu à nossa escala com as peculiaridades da deputada do «Livre» – têm representado um desses «objectos óptimos» para mediatizar qualquer tema, desde o ambiente ao racismo, durante algum tempo. Mas mais complexo também porque a condição de saúde da adolescente revelar-se-á cedo ou tarde, como já existem indicações manifestas – por exemplo, a insólita mistura entre racismo e ambiente – que acabarão por se virar contra a figura da mensageira da salvação ambiental.

Basta imaginar um motivo imprevisível próprio dos seus problemas de saúde para calcular que os «media» não poderão deixar se virar contra ela, como já sucedeu aliás com a deputada do «Livre». O motivo é que não há público permanentemente disponível para as encenações mediáticas montadas em volta de Greta Thunberg, cujo comportamento obviamente não legitima nem deixa de legitimar as reais questões do ambiente.

Com efeito, são no mínimo três as fragilidades da campanha contra as alterações climáticas. Em primeiro lugar, como dizia há dias António Guerreiro, porque a única prova insofismável da ameaça que pesa sobre a humanidade reside em dados científicos acumulados nas últimas décadas pelos investigadores mas que a esmagadora maioria das pessoas, incluindo muitos políticos, ignora completamente.

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Por outras palavras, os incêndios, inundações e terremotos que a população conhece – uns de longe mas muitos de perto – não constituem, em si mesmos, provas tangíveis das alterações climáticas que estarão ou não por trás delas. A própria aleatoriedade dos incidentes, em muitos casos devidos à incúria governamental como os incêndios, torna extremamente complexa a compreensão da emergência climática devido à ausência aparente de relação entre causa e efeito.

Em contrapartida, se os media se deliciam com catástrofes que mantêm as audiências em alta também não deixam de exibir, ao mesmo tempo, a enorme melhoria das condições de vida que se registou nas últimas décadas, virtualmente para todos os actuais residentes da terra: uns mais cedo, outros mais tarde; uns mais perto, outros mais longe. A ideia que acaba por prevalecer é sempre as houve tragédias, o que não desmente a emergência ambiental mas também não a prova, salvo para cientistas cuja linguagem não é fácil de traduzir no dialecto dos jornais televisivos.

Outro aspecto dos cataclismos que estamos a viver reside em discursos catastrofistas como os da jovem Greta e seguidores, fazendo vir ao de cima reacções espontâneas que se manifestam através de outro mito recorrente das nossas vidas que é a história de Pedro e o Lobo, a qual de tanto ser repetida acaba por perder efeito… Até ao dia em que o Lobo come o Pedro!

No limite, as pessoas que mais desconfiam da eloquência governamental em países que pouco ou nada fazem pelo meio ambiente, excepto promessas interrogam-se sobre possíveis interesses escondidos, perguntam se não se trata de desviar a atenção do dia-a-dia para uma emergência que a maioria tem dificuldade em conceber ou, simplesmente, protestam contra o custo da energia limpa…

Por último, dado o grau de competição que se verifica actualmente no mundo, a maior dúvida que se levanta é a que diz respeito à capacidade de os governos, nomeadamente os de maior peso, concordarem e implementarem uma efectiva campanha ambientalista. À vista desarmada, tal capacidade é nula ou quase. Citando de novo o artigo de António Guerreiro, a probabilidade de os grandes países que hoje mais pesam na economia mundial e na desordem política – como os Estados Unidos, a China, a Índia e a Rússia – agirem de acordo com uma política de forte redução dos riscos ambientais é mínima.

A remodelação sócio-económica exigida por uma mudança radical das práticas económicas e dos comportamentos individuais anti-ecológicos, desde as energias poluentes aos hábitos alimentares de biliões de indivíduos, é politicamente impensável perante o que se tem observado. Não só muitos dos obstáculos à mudança se traduzem pela baixa de produtividade como alguns são impossíveis de generalizar por motivos culturais, conforme sucede com a energia nuclear embora não tenha efeitos imediatos para o ambiente, enquanto a energia das barragens pode resultar em catástrofe se estas não resistirem à força da água… Exclusive do que a ciência conseguir inventar, a mudança ambiental hoje exigida dificilmente irá por diante!