O nosso passado colonial, volta não vai vem à liça. Não sei o suficiente de História para elaborar um texto que o retrate razoavelmente. Sei disso coisas muito genéricas. Mas, ao contrário, sei sobre “conquistas”, a partir da minha experiência e com a chancela de Manoel de Oliveira, que num dos seus filmes em particular, Non ou a vã glória de mandar, nos deu a sua visão das guerras, bem como a solução para a paz.

Conquistar é-nos tão natural como o respirar. E não me refiro apenas às conquistas amorosas. Desde o berço vamos por aí acima, pondo a bandeirinha em tereno nosso, não fugindo à regra o período dos Descobrimentos.

A vontade de poder é-nos vital, como  magistralmente mostrou Nietzsche. Virá-la a meu favor é obra de uma vida, a elogiar as conquistas como hino à vida ou mood para uma visão positiva do tempo e dos tempos. Não é revisionismo mas conversão, sinal de progresso, a  demonstrar que sempre se aprende  com as ações passadas, e que o caminho é em frente.

Venho então aqui falar sobre este período da nossa História com tanta naturalidade como falo de mim e da minha vontade de poder, a de defender a pés juntos o que é “meu”.

A época colonial tem sido tema recorrente nesta semana, depois das declarações do Presidente da República, num jantar com os jornalistas estrangeiros. Por isso  trago isto a terreiro porque entendo que a memória do passado é um ponto de vista obrigatório para quem se quiser enxergar. Digo-o quer  em relação à história de cada um de nós enquanto indivíduos, quer em relação à História de Portugal.

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E não me esqueço que estamos em pleno período de Comemoração dos 500 anos do nascimento de Camões, que de forma ímpar e excelsa, cantou  a epopeia dos barões assinalados que somos nós. Tempo propício à memória, portanto.

O Presidente Marcelo veio mesmo a público para defender a necessidade de ressarcir de bens e ofensas, todos os que sofreram atentados na sua dignidade e na dos povos a que pertencem.

Vem a este propósito, como sempre, em meu auxílio Manoel de Oliveira, porque me ajuda a olhar o nosso passado de forma justa. No seu filme Non, ou a Vã Glória de Mandar, numa das cenas iniciais põe na boca de Diogo Dória  as palavras que põem luz àquilo que é uma Conquista: “só se conquista o que se dá”. Para depois acrescentar uma advertência: Mas não é um “toma lá! “.

Para ilustrar a lei do retorno começo por dar um exemplo, fora do âmbito do tema que hoje pretendo abordar. O caso do exercício físico é prova de que só se conquista o que se dá. É o esforço, a disciplina e empenho que leva ao resultado pretendido, a conquista de uma boa forma física. Só conquisto se dou!

E depois das Conquistas, de 500 anos de coabitação, convivência, troca mútua, resta agora apenas a memória de erros e virtudes.  O que fazer com eles, com a memória do passado?

Faremos com a História, o que fizermos também com a nossa  história pessoal.  Termos connosco e com esses povos uma relação adulta, sem preconceitos nem saudosismos.

Do agora findo período da nossa História pluricontinental, nem tudo se esvaneceu.  Antes de mais, podemos dizer que conquistamos para sempre o que demos.  Se ódio, ódio, se amor, amor. Neste campo, não se escapa à lei do retorno. You only get what you give, cantam hoje os New Radicals.

Oliveira nas duas principais épocas retratadas no filme, em 4 de agosto de 1578 e 25 de abril de 1974, mostra como a insistência em manter o império colonial é associada à loucura, que arrasta toda a pátria para a perdição.

Manoel de Oliveira não se exime de indagar qual o lugar de Portugal, após a perda do Império. A sua obra revela que não é possível fazer esse balanço sem revisitar os mitos do passado. Mais que isso, não dá para refletir sobre a identidade da sociedade portuguesa pós Revolução dos Cravos sem evocar e redimensionar uma certa visão mítica do destino português (Eduardo Lourenço).

O Cineasta denuncia que há mais de quinhentos anos os portugueses têm pagado caro por essa aventura. Ergue a voz, como novo velho do Restelo, para afirmar a incondicional premência de dar um basta, dizer um não à glória de mandar, à vã cobiça.  O elogio da Conquista é então um sim à vontade de poder que favorece a vida, o único valor a que Nietzsche quis obedecer.