O verdadeiro conhecimento resulta da partilha desinteressada de experiências, entre as Pessoas. Nesta partilha de conhecimento, que emergem dos inúmeros fóruns nos nossos dias, gostaria de focar a minha atenção nos fóruns de partilha que reúnem Mulheres. Porquê? Porque emerge neste contexto uma nova buzzword, o “Empoderamento” Feminino! O que significa isto? Trata-se de um processo de tomada de consciência feminina em que as mulheres assumem o controlo sobre a sua vida em toda a extensão. Parece-me brilhante!!
Sinto-me privilegiada quando sou convidada a partilhar a minha visão, ou apenas, a ouvir o percurso inspirador de uma outra mulher que “fez o caminho das pedras até chegar ao topo da montanha”. Estas múltiplas conversas que emergem nas redes sociais (Instagram, Facebook, Linkedin, antigo Twitter), também elas servem de fonte de inspiração para outras tantas outras mulheres que estão a fazer “o seu caminho” e que almejam chegar ao topo. Estas partilhas são salutares, mas por vezes podem não transferir para o público em geral a realidade, e podem não refletir os custos para a saúde devido à multiplicidade de exigências que emergem deste “processo de tomada de consciência feminina”.
Entenda-se que saúde de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um “estado global de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.” Para tal, temos de equilibrar o esforço investido e as expectativas, porque pode existir um gap para a saúde! Quando a gestão das expectativas não é realista, vai inevitavelmente, conduzir à indução do aumento dos níveis de stress, de ansiedade, do Síndrome de Burnout e, numa situação mais avançada, vai despoletar doenças do foro mental. Por essa razão é vital compreender a relação entre o “empoderamento” feminino e o Síndrome de Burnout.
Ser mulher, é desempenhar uma multiplicidade de papeis sociais: (1) ser profissional, (2) ser mãe, (2) ser esposa, (3) ser companheira, (4) ser doméstica, (5) ser líder, (6) ser amiga, (7) ser filha, (8) ser tia, (9) ser gestora, (10) ser a cuidadora, (11) ser a edificadora, (12) ser provedora do lar, poderíamos listar uma diversidade enorme de papeis sociais desempenhados por uma única mulher, mas parece-me prudente não ir até à exaustão! Um estudo relativamente recente realizado pela SATA Health Reaport de 2022, reflete esta dura realidade para as mulheres. Os níveis de stress no caso das mulheres está na casa dos 45%, no caso dos homens está situado nos 30%. O mesmo estudo diz que 57% dos portugueses (homens e mulheres), estiveram perto ou podem vir a sofrer de Burnout. São números assustadores!
Posto, isto relacionar o Síndrome de Burnout com esta nova buzzword – o empoderamento feminino – é inevitável. O Burnout é um síndrome reconhecido pela OMS desde 2019, “que resulta do stress crónico no local de trabalho que não foi gerido com sucesso”. Mas, para muitas mulheres a ideia do profissional multitasking, com disponibilidade total para se dedicar ao trabalho (orientação para a carreira), que responde aos múltiplos e-mails e chamadas telefónicas a toda a hora (incluindo, fins-de-semana e férias), com imensas reuniões e sem tempo para respirar em nome da “produtividade”! Desenvolve nestas mulheres em particular um profundo sentimento de culpa que as está a adoecer!
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) vem dizer que sim, de acordo com os números para Portugal, um trabalhador português dedica em média por semana 40,2 horas. Ou seja, Portugal encontra-se acima da média da Zona Euro com 36,4 horas e da União Europeia com 37,1 horas.
Portugal, ocupa assim o terceiro lugar dos países em que mais se trabalha na Europa (1º lugar Polónia e 2º lugar Grécia). O que significa que culturalmente os trabalhadores em Portugal estão a trabalhar muitas horas por semana, e que em particular as mulheres dedicam muito mais horas para garantir que cumprem com os seus múltiplos papeis (a “Super Mulher” da modernidade)! Uma das explicações possíveis para as mulheres adoecerem, de acordo com os estudos realizados é a difícil conciliação entre o trabalho/família ou trabalho/vida pessoal (como preferirem!). Acredito que é fácil sentir o peso da responsabilidade, a necessidade de provar de forma sistemática que se é “merecedora” e “excelente profissional” no que se faz, de facto somos! Mas, ainda assim, não estaremos a ser muito exigentes connosco? Acredito, que a resposta é sim, somos muito exigentes, mas é o resultado do contexto político, social e económico que caracteriza o papel das mulheres na sociedade.
Em suma, acredito que nós Mulheres somos fantásticas, capazes de feitos extraordinários, mas temos de estabelecer os nossos limites para travar as nossas lutas de forma saudável! Um grande bem-haja a todas Nós!