Vivemos numa sociedade cada vez mais complexa, com fluxos de informação sistemáticos que alimentam a nossa sede de conhecimento, tudo à distância de um “click”. A crescente democratização do acesso à informação e, concomitantemente, ao conhecimento de forma “mais ou menos” transversal à sociedade, permite que neste contexto floresçam novos fenómenos comportamentais muito interessantes de observar. Nesse sentido, eu hoje quero fazer uma proposta à comunidade científica internacional, “parece” que existe um novo síndrome na nossa sociedade, a “Síndrome do Sem Noção”.

Decorrente da minha experiência como pessoa, profissional e investigadora expresso a minha crescente preocupação com um fenómeno que emerge sistematicamente em vários domínios da nossa vida em sociedade, a “falta de noção”. O que é isto da falta de noção? É a falta de humildade e um excesso de soberba que torna míopes muitas personas comuns, algumas conhecidas do público em geral, que sofrem deste “novo síndrome”. Sinto que cada vez mais pessoas identificam este problema na nossa sociedade, que faz as suas vítimas em todos os quadrantes, não discriminando ninguém em função do sexo, idade, profissão, raça ou credo. É um síndrome democrático e integrador, mas não promove o conhecimento sustentável, nem a curto prazo.

A “Síndrome do Sem Noção” (gostaria muito de descrever este estado psicológico, desta forma) caracteriza-se por um estado de ignorância, que em certos casos roça a arrogância e é profundamente reforçado pela “impressão” que se gera de que estes indivíduos são cultos e detentores de um conhecimento profundo sobre determinada área. Entenda-se que poderão ser quiçá, a encarnação da sabedoria! A realidade é outra: utilizam as buzzwords da moda, burilam com leviandade temas sérios e fraturantes, emitem opiniões profundamente consubstanciadas em juízos de valor pouco credíveis onde proliferam imensos preconceitos.

Não me julguem mal, não quero também eu ser arrogante, mas creio que todos nós de alguma forma já fomos vítimas de algumas destas pessoas (ex: amigos, colegas, chefes, clientes, figuras públicas, etc.). Percebe-se que existe um grande gap entre o que realmente são e sabem e, a ficção que criam. Imbuídas de falta de noção, estas pessoas são altamente tóxicas nas relações que estabelecem porque aceleram os níveis de stress e levam à exaustão as restantes comuns mortais que com elas tenham de se relacionar, porque são autênticos “vampiros de energia”.

Não querendo denegrir a imagem de quem sofre desta nova síndrome, a “Síndrome do Sem Noção”, mas apenas no sentido de construir e deixar algumas pistas rumo ao caminho da superação da doença (atenção, não sou psicóloga) quero deixar umas breves notas a estas personas: 1) é importante entender que não existem verdades absolutas e que não é suposto saber tudo; 2) devemo-nos colocar em causa, tal como aos nossos conhecimentos e as fontes onde vamos beber esses mesmos conhecimentos; 3) sem a “discussão saudável” não é possível crescer e evoluir.

Contudo, reitero que a realidade é que existem cada vez mais pessoas a sofrer deste enviesamento, “do sem noção”!

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