Somos uns felizardos. Vivemos numa época repleta de extraordinários estadistas, tanto internacionalmente como na nossa próspera nação. Lá fora, há Macrons e Draghis, Bidens e Trudeaus. Cá dentro, Marcelos e Costas, Costas e Marcelos. Tamanha abundância impressiona, tamanha grandeza comove. O mais impressionante e comovente, porém, é que a abundância não se contém, e a grandeza não se modera: constantemente, despontam na política novos valores que asseguram a continuidade da excelência actual. Um desses valores, a despontar há décadas, chama-se Jorge Moreira da Silva e é candidato à presidência do PSD. Sendo, como veremos, um homem voltado para o futuro, comunica através do Twitter. E comunica de modo sublime, com a sofisticação de vocabulário e pensamento que nos habituámos a encontrar num eng. Guterres. Os diversos “posts”, perdão, aforismos que publicou nos dez dias desde o anúncio da candidatura justificavam a edição em livro, ou medalha comemorativa, pela Imprensa Nacional. Na imperdoável falta do livro e da medalha, esta coluna repõe a justiça e divulga, pela primeira vez fora das redes sociais e devidamente anotada, a recente obra escrita do eng. Moreira da Silva. O prazer é todo seu.

Há quem venha agora definir o PSD como a casa comum dos não socialistas. Comigo não. Na casa do PSD não cabem racistas, xenófobos e populistas. (20/4)

Magnífico! Do que o regime carecia era de outro partido que percebesse que fazer oposição significa, no fundo, fazer oposição ao Chega e deixar o dr. Costa virar as páginas da austeridade, da pandemia e da guerra em paz. De facto, aquilo que hoje mais apoquenta os cidadãos é a possibilidade de, entre os dirigentes, militantes, simpatizantes e até eleitores, o PSD incluir racistas, xenófobos e populistas. Se incluir socialistas não faz mal.

A falta de ambição dos governos na resposta a desafios globais – como as alterações climáticas, a extinção de biodiversidade, a pobreza e as desigualdades, os conflitos e as migrações forçadas – demonstra que estamos a viver a crédito do Planeta. (20/4)

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Bravo! A prioridade de qualquer governo tem de passar pelos “desafios globais”, daqueles tão globais, difusos, distantes ou complexos que governo algum consegue resolver. Antes de se maçar com o assalto fiscal, um líder realmente ambicioso preocupa-se com o risco de extinção da toninha da Califórnia. De que vale o salário chegar ao fim do mês se a toninha da Califórnia não chegar ao fim do ano?

Defendo um combate sem tréguas às alterações climáticas e à perda de biodiversidade e quero posicionar Portugal como líder internacional no crescimento verde e azul. (20/4)

Fantástico! Eis como se combatem as alterações climáticas e a perda da biodiversidade: sem tréguas nem pausas para café. Também acho positiva a concepção patriótica da ecologia, em que um Portugal às cores será a inveja do mundo subjugado à carbonização e ao funeral da toninha da Califórnia.

O sistema partidário padece de sonambulismo, servindo de pasto ao fogo do populismo e da descrença. Portugal foi ficando para trás nos indicadores económicos e sociais e é do PS a principal responsabilidade pela situação em que Portugal se encontra. (20/4)

Deslumbrante! Na primeira metade do texto, duas impecáveis metáforas: a do sono e a dos incêndios. A segunda metade é um óbvio excesso, desculpável pelo entusiasmo do momento. Toda a gente sabe que os responsáveis pela situação do país são o Chega e a perda de biodiversidade.

Mais do que mera oposição, seremos alternativa. Seremos firmes no escrutínio do governo e na denúncia dos seus erros. Dentro e fora do Parlamento. E seremos audazes na formulação de alternativas.” (20/4)

Estupendo! O PSD que aí vem não será apenas oposição, mas alternativa, logo que, com audácia, formule alternativas capazes de promover a mera oposição.

“Comigo o PSD passará a ter uma cultura de start-up e não de incumbente. Seremos um partido-movimento, orientado por causas.” (20/4)

Incrível! Começamos a entrar num nível de transcendência lírico-programática. Uma cultura de “start-up” é coisa estrangeira e moderna, por oposição – ou alternativa – a uma cultura de incumbente, termo igualmente estrangeiro mas que tresanda a mofo. Prometo estudar ambos os conceitos a fim de percebê-los, mal acabe de investigar o significado de “partido-movimento”. A referência às causas também promete.

“Ontem, como hoje, movo-me por causas. E, nesta eleição, movo-me por uma causa maior – a reconquista do Direito ao Futuro.” (20/4)

Maravilhoso! Bem desconfiei que a alusão às causas prometia. Cumpriu. E se isso não bastasse para convencer as massas (basta), a “reconquista” do “Direito ao Futuro”, com maiúsculas e tudo, deixa as massas completamente rendidas.

“Apresentei-me como candidato para renovar o PSD, libertar o potencial de Crescimento Sustentável em Portugal e assegurar que os portugueses reconquistam o seu pleno Direito ao Futuro.” (20/4)

Portentoso! A renovação do PSD faz-se sozinha. O potencial de Crescimento Sustentável é infinito: desde que alguém nos sustente, Portugal cresce, ou pelo menos não encolhe muito. E a reconquista do Direito ao Futuro merece ser repetida até penetrar os cerebelos do bom povo.

“Estamos numa fase de escolher alguém que saiba ser oposição, mas também alguém capaz de realmente ser alternativa.” (21/4)

Fulminante! As pessoas esquecem-se de que existe oposição que não é alternativa e alternativas que não são oposição. As pessoas também se esquecem da corrupção, do nepotismo, da prepotência e da miséria crescente. O importante é que não se esqueçam da biodiversidade e tal.

Precisamos de líderes servidores. Líderes que assumem que o seu objetivo principal é servir os outros; que colocam as aspirações dos cidadãos em 1° lugar e que medem o seu êxito pelo impacto alcançado na vida das pessoas. (21/4)

Primoroso! É exactamente disto que precisamos: políticos samaritanos e caritativos, mas não a ponto de desprezarem o respectivo êxito. E este, qualquer sábio sabe, mede-se pelo rebuliço que infligem à ralé embevecida.

Não contem comigo para fazer política de soundbyte. Vivemos num tempo de emergência, com várias ameaças e frentes de batalha. A perda de biodiversidade é um dos maiores problemas que enfrentamos. Temos de responder. (23/4)

Espectacular! Aqui não há soundbytes, mas densidade filosófica. E alterações climáticas! E biodiversidade! E crescimento sustentável! E Direito ao Futuro! E start-ups! E causas! E palavras!

“Esta é uma campanha start-up, construída por todos. Portugal precisa de todos na reconquista do Direito ao Futuro! Se quiser colaborar, inscreva-se aqui e será contactado e integrado nas nossas equipas de voluntários. Obrigado pelo apoio!” (24/4)

Admirável! Nem consigo comentar: estou com os pêlos todos em pé. Ou quase todos. Os que se voluntariaram, vá. Obrigado, pêlos.

“Comigo os jovens não estão no banco de trás. Se queremos dar-lhes o Direito ao Futuro, temos de os trazer para o cockpit, onde se tomam as decisões. Neste dia da liberdade, era fundamental celebrar ouvindo quem precisa de beneficiar dela. Será essa a minha missão!” (25/4)

Divinal! Apesar de certa confusão entre os jargões automobilístico e aeronáutico, a analogia é belíssima. E pertinente: na aviação, há muito que é costume passar-se os controlos à miudagem, sobretudo na hora de aterrar. Quanto à liberdade, já era altura de alguém assumir que é assunto exclusivo da juventude. Aliás, os velhos que não morreram de Covid nos lares estão fechados nos lares para não morrerem de Covid. E ninguém se lembra deles.

Foi um gosto conversar com os jovens, no Dia da Liberdade, sobre as suas preocupações e falar sobre o meu projeto para garantir que vão ter Direito ao Futuro, com sustentabilidade aliada ao crescimento de Portugal! (26/4)

Lindo! Temos crescimento, temos sustentabilidade e temos o – como é que é? Está aqui na ponta da língua… – Direito ao Futuro, é isso. Além de uma campanha start-up, é uma candidatura win-win.

“Faz uma semana que apresentei a minha candidatura e tenho sentido no apoio dos militantes e dos simpatizantes a força para liderar este projeto reformista e inovador, uma alternativa em que os portugueses possam confiar. Juntem-se a mim na reconquista do Direito ao Futuro!” (27/4)

Encantatório! Seria preciso que os militantes e os simpatizantes do PSD fossem muito patetas para desprezarem tantas oportunidades de reconquistar o Direito ao Futuro. E já vimos amplamente que não são.

“É com enorme satisfação que anuncio que Francisco Pinto Balsemão será o Mandatário Nacional da minha candidatura à liderança do PSD.” (28/4)

Perfeito! Já há um jovem que reconquistou o Direito ao Futuro. Ou dois, se contarmos com o eng. Moreira da Silva. A biodiversidade está garantida.