Tem a área não social/estatista a responsabilidade de construir e promover uma alternativa reformista que seja ganhadora, de forma a que se inicie um novo ciclo de desenvolvimento, crescimento e justiça social, como aconteceu na década de 90 com os governos de Cavaco Silva.
Precisa de fazer e ganhar a batalha ideológica.
Precisa de convencer os Portugueses que a única saída social está no crescimento e que este decorre da economia de mercado e da iniciativa privada.
Precisa de convencer os Portugueses que tem um sólido pensamento Social Reformista assente no real acesso, universal e com qualidade, de todos, aos bens sociais como a Educação, Saúde e apoio à 4ª idade; em oposto ao pensamento socialista dominante, assente na estatização que se traduz por pior acesso, menos qualidade e mais custos e que na Saúde obriga os Portugueses a pagarem em duplicado: um sistema público ineficiente e um sistema privado em regime livre e sem controlo.
O Manifesto abaixo, escrito em 1996, e que integrou a moção vencedora do Presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, no Congresso do Porto (1999), é um contributo para o pensamento social, incluindo a reforma do Estado Previdência, de uma Aliança Social Reformista.
Dentro deste espírito, aproveito para convidar todos para o lançamento do livro Um Manual para a Mudança na Saúde – Porque e como Mudar, que ocorrerá no dia 16 de Junho pelas 18 horas no Auditório da Universidade Nova em Campolide e que contará com a apresentação pelo Dr. Pedro Passos Coelho.
I Manifesto do Estado de “Mercado Social”
Considera-se um imperativo moral e uma indispensabilidade social a organização da sociedade de forma a que todos possam ver realizados, dentro dos limites do desenvolvimento económico do país, as suas legítimas aspirações à alimentação, vestuário, educação, ensino, cuidados de saúde, segurança, justiça, habitação, intercomunicação, e ver prevenidas as situações de doença, invalidez, desemprego e velhice.
Como tal, considera-se “Estado Previdência” (de prevenir) como a fórmula feliz que exprime a assunção pelo Estado do dever de zelar pela realização daqueles objectivos sociais.
Considera-se, no entanto, que o “Estado Providência” (de provir), que tem sido a forma como o Estado tem tentado realizar o Estado Previdência através da prestação pública de serviços e que constituiu uma etapa histórica de grande significado na evolução social e bem-estar da população, não só não é financeiramente suportável no futuro, como apresenta um elevado índice de ineficiência, uma baixa acessibilidade e qualidade medíocre, que justificam o sentimento de desconfiança permanente em relação a ele.
Considera-se que o gigantismo e o absolutismo do Estado Providência paralisa o Estado e favorece a corrupção e a iniquidade.
Considera-se que a sua perpetuação se deve, por um lado, à ausência de pensamento político que apresentasse alternativas credíveis e, por outro, ao peso dos interesses instalados que se autoprotegem por via legislativa e se autojustificam através da propaganda de mitos falsos.
Considera-se o Acesso de todos os Cidadãos a Serviços de Qualidade em tempo útil e de forma a que não se ponham considerações de ordem económica-financeira ao cidadão, como o fundamento das políticas sociais que importa garantir. Este conceito engloba a qualidade e empenhamento dos agentes, a existência de estruturas físicas de qualidade, a existência de vias de comunicação, a existência de democraticidade e equidade no acesso, a existência de capacidade económica e financeira.
Considera-se que, como em todas as outras áreas, também nos sectores sociais a livre iniciativa e a competição são as formas de conseguir melhores serviços e menores custos.
Considera-se, no entanto, que a transição de um Estado Providência para um Estado Liberal puro, não só diminuiria o acesso aos bens sociais e aumentaria a exclusão, como levaria ao colapso da prestação por falta de procura com capacidade económica para sustentar a oferta.
Considera-se que a actividade livre tem, apesar de tudo, um papel fundamental como contraponto, referência e válvula de escape e segurança do sistema, pelo que não só deve desempenhar o seu papel complementar como deve ser incentivada.
Considera-se errado o financiamento por dotação orçamental global, que assenta na contabilização das despesas e as empola, enquanto retrai a prestação. Defende-se, em conjunto com a liberdade de escolha, o pagamento por serviço prestado que estimula o desempenho do prestador, como a única forma de tornar, de facto, o utente em cliente.
Consideram-se as actuais limitações decorrentes do espartilho orçamental como uma falsa questão que deriva das naturezas públicas do financiamento e da prestação, sendo certo que o desenvolvimento destes sectores é factor de emprego, progresso económico, social e cultural, e enriquecimento do país.
Considera-se errado e politicamente inexequível, o princípio subjacente aos teóricos do Estado Providência de Segunda Geração de “os ricos que paguem a crise” (leia-se a classe média) por não só incentivar os ricos a esconderem os seus rendimentos, como fundamentalmente dividir os cidadãos, enquanto utentes e perante o prestador, em classes. A classe dos que pagam e por isso são fonte de rendimento para a instituição (1ªclasse) e dos que não pagam (3ªclasse) que são apenas fonte de despesa.
Considera-se, como princípio a seguir, a igualdade de todos os cidadãos no pagamento ao prestador. Cabe ao Estado e à sociedade encontrar esquemas de financiamento adequados a cada área que garantam uma acessibilidade estável e segura, e de co-financiamento selectivo e solidário ao cidadão.
Dentro dos princípios atrás definidos propõe-se a Constituição de um Estado de Mercado Social de Serviços através de :
- Criação de redes convencionadas através da transformação das instituições públicas (escolas, centros de saúde, notários. etc.) em unidades autónomas a serem cedidas ou concessionadas preferencialmente aos seus agentes e financiadas não por dotação orçamental, mas em função do pagamento dos serviços efectivamente prestados, remunerados por um Preçário Social acordado e dentro do princípio de que o dinheiro deve seguir o utente. Redes convencionadas que deverão ser igualmente apelativas a toda a iniciativa privada, individual ou empresarial, que a elas queira aderir.
- Criação de Fóruns de Negociação tripartida entre Estado, Prestadores e Utentes, de preçários sociais que, por um lado, deverão assentar numa contratualização esclarecida visando qualidade, acessibilidade, resultados e eficiência e reflectir a necessidade de contenção de custos, integrando mecanismos de auto-regulação que interessem os prestadores e os utentes; e, por outro, serem suficientemente compensadores e estimulantes para os prestadores.
- O financiamento dos vários sistemas deverá ser independente do Orçamento do Estado e assentar no cidadão, sem prejuízo de co-financiamento selectivo e solidário directamente ao cidadão.
- Sempre que, pela sua natureza, os custos individuais possam ser imponderáveis (Saúde) ou demasiados altos (Educação) deverá haver um terceiro pagador (Seguro Social de Saúde) ou esquemas de créditos acessíveis e a serem reembolsados a longo prazo (Fundo para a Educação), de forma a que nunca se ponham ao cidadão considerações de ordem económica ou financeira no acesso a qualquer bem social.
- O Mercado convencionado deverá ser complementado por um mercado livre, que deverá fazer parte do sistema, sendo livre a mobilidade dos utentes e dos profissionais entre um e outro.
- O cidadão deverá ter liberdade efectiva da escolha do prestador, quer ele seja público, convencionado ou privado, e o direito a ser apoiado (em valores absolutos) de igual forma, dentro do princípio que os direitos devem residir no cidadão e não nas instituições.
- Ao Estado, que se retira da prestação e se pode concentrar no estabelecimento das várias políticas sectoriais, na fiscalização e nas suas actividades específicas como cobrança de impostos, comunicações viárias, segurança, defesa e política externa, caberá ainda o papel fundamental de actuação enzimática na concertação, concretização, monitorização e regulação deste projecto.
- As propostas acima enunciadas são um todo indissociável, que constitui “O Estado do Mercado Social”.
- A construção desta terceira via é o papel, hoje, da Social-Democracia em Portugal e de todos aqueles que pretendem proporcionar aos cidadãos bem-estar e acesso efectivo a serviços de qualidade.
- É objectivo deste primeiro manifesto, necessariamente imperfeito e apelativo ao contributo de todos, contribuir para o debate profundo e atempado da Reforma do Estado Previdência, considerando esta como aquela que mais tem a ver com a realidade e qualidade do quotidiano dos Portugueses, e, como tal, tema central das próximas eleições legislativas.