Recentemente, autores e investigadores de ciência política têm renomeado algumas tendências observadas, desde sempre, em eleitorados. Um dos exemplos atuais é votar por trepidação. Qualquer tradução que possa ser feita da palavra inglês não faz jus ao original, vibes. Este é o eleitor que tem um pressentimento, uma impressão. Pode ter toda a informação necessária para tomar uma decisão consciente, mas prefere seguir a sua intuição. O número de crimes diminui? Sim, mas não parece dessa maneira. A inflação baixou? Sim, mas não se sente. As instituições são resilientes? Sim, mas parece que estão a colapsar. Numa era onde todos acreditam ter toda a informação que precisam, e muitos estendem isso até entrarem no Efeito Dunning-Kruger (pessoas com capacidades limitadas acham que sabem mais do que os outros), o votar por vibes está para ficar.

Porém, outro conceito contemporâneo, que novamente, sempre esteve connosco desde que os processos democráticos se consolidaram, é o votante pouco informado. Este termo foi desenvolvido pelo autor Samuel Popkin, em 1991, no livro The Reasoning Voter. Na obra, o autor explica que existe um tipo de eleitor que, apesar de ter pouca informação para fazer uma escolha racional (em quem votar), cria um argumento racional para justificar essa escolha. Porque é essa escolha é vista como racional, leva à criação de uma pseudocerteza, ativando a escolha política. Porém, sendo intrínseca, e baseada em processos incompletos, essa pseudocerteza, está, na maior parte das vezes, errada.

O crescimento do populismo tem sido, em parte, devido a trazer para o processo político esse tipo de cidadão, que apesar de pouco esclarecido, acha que detém toda a informação que precisa. Acrescenta a isso, há o facto que as fontes que utiliza para recolher a pouca informação que acha que precisa, estão, ativamente, a contar com esse seu desinteresse em saber mais. A nuance é perdida nesse processo, dados estatísticos não têm peso, e posições oficiais são vistas como elitistas e burocráticas. Quanto mais a informação é complexa, mais tende a não ser processada pelo votante pouco informado.

Depois há aqueles que, justificadamente, simplesmente não têm tempo para recolherem mais conhecimento sobre processos governativos, escolhas políticas, diferenças ideológicas. Isso é compreensível. Há que assegurar ter uma casa para a família, comida na mesa, poupança para uma necessidade na vida. Essas pessoas votam igualmente. Porém, observa-se um fenómeno de clubite: como sempre votei neste partido, faço-o novamente, apesar do programa político, apesar do líder, mas por uma questão de hábito (e de conforto). Uma pequena nota aqui para dizer que muitos destes vizinhos, sendo verdade que têm vidas preenchidas por trabalho, família, e despesas, usando isso repetidamente para se desculparam para não estarem mais informados sobre quem quer tomar decisões governativas no seu nome… conseguem encontrar tempo para formas de entretenimento, que sendo essenciais, não retiram a possibilidade de usar algum desse tempo para saberem mais sobre política. Estes são os eleitores que afirmam não terem tempo para ler um programa político, enquanto passam tempo em redes sociais consumindo opiniões políticas que não são fundamentadas, ou simplesmente à procura de causar polémica.

Alguns dos problemas apresentados aqui, para aqueles que acreditam nos méritos de uma democracia representativa, na perspetiva Madisoniana (como apresentado nos Federalist Papers), parecem irresolúveis na era em que vivemos, com o dilúvio de informação e desinformação, com as exigências do dia a dia e as constantes distrações. Com a substituição do conhecimento pelo facilitismo dos soundbites e formatação de notícias. A isto junta-se uma crescente necessidade de considerarmos que estamos sempre certos, em contrapartida aos outros que estão sempre errados, o que é reforçado pela permanência em bolhas ideológicas e câmaras de eco.

Porém, e como disse Aristóteles, “a esperança é o sonho do homem acordado”. Faz parte daqueles que defendem as democracias liberais estarem disponíveis para os eleitores pouco informados saberem um pouco mais. A facilitar o confronto algumas das suas pseudocertezas. A ajudar a dialogar com quem não concordam na procura de um consenso. Em jogo está a preservação do modelo de governação que, como disse Churchill, sendo o pior que há, é melhor que todos os outros.

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