Por toda a Europa, é a mesma coisa: os velhos partidos querem convencer-nos de que o único problema são os novos partidos. Chamam-lhes “populistas”, como se chamar um nome fosse, só por si, um argumento. De facto, não têm argumentos. Na metade ocidental do continente, os velhos partidos são geralmente os mesmos desde a redemocratização no fim da II Guerra Mundial, arrumados em duas grandes famílias, a da democracia-cristã e a da social-democracia. Os seus governos falharam estrondosamente nas últimas décadas, e é esse, e não o chamado “populismo”, o problema da Europa.

Vamos ser justos. A Europa a ocidente da Rússia continua a ser uma das melhores regiões do mundo para viver. Comparada com as suas imediações – Rússia, Médio Oriente, África — ainda é livre, ainda é rica, ainda parece segura. O problema está em que, sendo ainda essas coisas, é cada vez menos essas coisas. Por comparação com os EUA, os europeus estão cada vez menos ricos. Uma das grandes promessas dos regimes europeus desde a II Guerra Mundial foi a convergência com os EUA. A Europa está agora em divergência. Também não está segura. Em muitos Estados, as migrações descontroladas, conjugadas com a importação do wokismo americano, deixaram demasiada gente inquieta com a coesão nacional, um dos fundamentos da democracia e do modo de vida numa Europa de nações. Finalmente, a guerra da Ucrânia mostrou como, sem o chapéu-de-chuva americano, a próxima etapa de Putin poderia talvez estar dentro da UE.

Só a restrição da liberdade no resto do mundo faz a Europa destacar-se ainda em termos de Estado de direito e democracia representativa. Mas isso deixa aos europeus a questão de saber o que fazer com essa liberdade, perante o fracasso das oligarquias. Em eleições, têm-na usado para rebaixar oligarquias que consideram, muito legitimamente, responsáveis pelas suas frustrações e incertezas. Como seria de esperar, aumentou a oferta de partidos que apela ao “povo” contra os velhos partidos. Daí, tecnicamente, o “populismo”. Mas em demagogia, os novos “populistas” não conseguem competir com as antigas oligarquias. Nada encanta tanto um oligarca como a perspectiva de obrigar os eleitores, como tem feito Emmanuel Macron em França, a votar no velho sistema como única alternativa ao “fascismo”. O truque, porém, funciona cada vez menos.

E as instituições da integração europeia? A UE tem sido outra cortina de fumo político. Foram as velhas oligarquias que construíram essas instituições, para depois se esconderem atrás delas, esperando que as frustrações populares se dirigissem contra uma Bruxelas mais ou menos abstracta. O Brexit provou que a perda de soberania era mais uma lenda. Em 2016, os eleitores britânicos devolveram a soberania à sua oligarquia política, e, livres de Bruxelas, o que viram desde então foi a mesma incapacidade de liberalizar a economia, o mesmo descontrole das migrações, e os mesmos ataques de wokismo, apesar de o governo ser do Partido Conservador e de todas as facções desse partido terem passado pelo poder. O problema nunca estivera em Bruxelas, mas numa velha oligarquia política que, sem o alibi europeu, revelou toda a sua mediocridade. É assim no Reino Unido, seria assim em todos os outros países, se saíssem.

Nas próximas semanas, dois partidos de governo, o do presidente Macron em França e os Tories no Reino Unido, podem desaparecer. As velhas oligarquias, de esquerda ou de direita, não têm remédio. Não é que não saibam ou que não vejam. Sabem e veem. Mas estão reféns dos sistemas de interesses e cumplicidades que construíram para se manter no poder. Nunca farão as “reformas” que admitem ser necessárias. Aos eleitores europeus, só resta deixarem tudo assim, ou votarem de outra maneira.

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