Dr. Rio, deixe o PS em paz /premium

Rui Rio ainda quer fazer reformas estruturais com o PS. Mas porque é que o PS haveria de se comprometer em reformas com a direita? Para dar espaço a movimentos à sua esquerda?
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rramos@observador.ptNasci a 22 de Maio de 1962, licenciei-me em história na Universidade Nova de Lisboa, e doutorei-me em ciência política na Universidade de Oxford. Sou professor e investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Escrevi, entre outros livros, A Segunda Fundação (1890-1926), volume VI da História ver mais... de Portugal dirigida por José Mattoso (Círculo de Leitores), e a História de Portugal (Esfera dos Livros, em co-autoria com Bernardo de Vasconcelos e Nuno Monteiro), que recebeu o Prémio D. Dinis em 2009. Na imprensa, tive uma coluna semanal no Diário Económico (2005), e depois no Público (2006-2009), Correio da Manhã (2009) e Expresso (2010-2013). Colaborei em programas de debate semanal na RTP-N, TVI-24, SIC-N e Canal Q, e fui autor da série de 12 episódios “Portugal de...”, da RTP-1 (2006-2007).
Rui Rio ainda quer fazer reformas estruturais com o PS. Mas porque é que o PS haveria de se comprometer em reformas com a direita? Para dar espaço a movimentos à sua esquerda?
Na cínica “ideologia do SNS” não temos qualquer preocupação com a saúde pública, mas um projecto de domínio da sociedade pelo poder político e ainda um cálculo eleitoral partidário.
Em Espanha, as direitas saem à rua para exigir a demissão do governo socialista; em Portugal, as direitas discutem em anfiteatros qual delas vai ajudar mais o governo socialista. Porquê a diferença?
Rui Rio vai voltar a querer acordos com o PS depois das eleições, e António Costa vai querer voltar à geringonça. Com tais líderes políticos, não veremos nada de novo nos próximos anos.
Nada melhor, para esconder os cortes e a agitação laboral na saúde, do que abrir uma guerra ideológica com outra lei de bases sectária. Mas desde quando é que a ideologia cura uma gripe?
A tirania chavista na Venezuela não é socialista? Quer dizer que nacionalizar, condicionar e subsidiar já não é socialismo? E nesse caso, porque é que tantos líderes da esquerda apoiaram Chávez?
Segundo o presidente da república, a oposição é fraca e o governo tão fraco como a oposição. Vamos preocupar-nos, ou só queremos ouvir o que o presidente diz a Cristina Ferreira?
Há preconceitos, mas menos derivados de qualquer ideal de supremacia branca, do que da suspeita que sempre visou os pobres. A “racialização” à americana, em que comungam os extremistas, não é solução.
Os partidos que há 44 anos monopolizam a representação política vivem do pão do Estado e não sabem ou querem viver de outro modo. Durarão enquanto houver contratos para genros e negócios de vereadores
Porque é que Rui Rio vai perder? Por este pormenor: a manobra de António Costa resultou de uma bipolarização do debate político, notória desde a Guerra do Iraque (2003) e a Grande Recessão (2008).
Rio não se distingue dos seus rivais no PSD por quaisquer ideias, mas por uma estratégia – ou melhor, por uma manha. Esta é clara: hostilização àquilo que ele trata como “direita”, e aproximação ao PS
Se houver mesmo um desafio a Rio, não é para o poupar a derrotas, mas para mudar uma estratégia que pode comprometer o PSD como grande partido. Rio é hoje apenas o nome do vazio que ele próprio criou.
Nenhum regime é apenas o que existe e como tal pode ser descrito. É também o que os seus líderes propõem, as expectativas e a confiança que as suas ideias são capazes de gerar.
O ideal era que houvesse nas europeias um qualquer fenómeno a que pudessem colar o rótulo de “populismo”, de modo a fazerem correr as legislativas em ambiente de pânico anti-fascista, à brasileira.
Estamos a assistir ao fim das grandes expectativas sociais que o próprio regime suscitou há décadas e que tornou a sua razão de ser. A onda vai morrer na praia, mas na ressaca poderá levar quase tudo.
Desde 2015 que este governo trata os funcionários como o factor decisivo das vitórias eleitorais. As greves são a maneira de os funcionários obrigarem Costa a pagar mais pelos seus votos.
A questão levantada pelas eleições na Andaluzia é esta: por que razão deveríamos admitir que compete aos fãs do chavismo e do estalinismo julgar os méritos democráticos dos outros actores políticos?
Os apelos do costume já não funcionam: nem o medo do “caos”, com que Macron tentou assustar os franceses; nem o medo do “fascismo”, com que as esquerdas se habituaram a inibir as direitas. E agora?
Há, na ideia de uma comunicação social estatizada ou ajudada pelo governo, uma contradição incontornável: como pode a imprensa depender da entidade que mais se queixa da imprensa?
A União Europeia não se pode deixar caricaturar como “uma prisão de povos”, onde não importa como os cidadãos votam. Por isso, o Reino Unido deve sair da UE.
Em Portugal, a maior ameaça à democracia não vem de populismos, mas do desaparecimento da responsabilidade política, tal como vimos em Pedrogão, em Tancos e em Borba.
Se o PSD e o CDS representam alguma coisa, é o repúdio do domínio socialista do Estado. Por isso, a oportunidade da direita democrática em Portugal se afirmar e crescer não é com o PS, mas contra o PS
A geringonça provou que um governo em Portugal pode degradar os serviços públicos sem enfrentar mais do que notícias avulsas. Precisa é de ser de esquerda.
O Bloco não está mais moderado: está até, na recusa do pluralismo, muito mais radical. Antes, atacava as “políticas de direita”. Agora, ataca a ideia de que possa haver uma “direita”.
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