A palavra holocausto sempre me impressionou. E partilho a curiosidade que sempre tive pela sua etimologia. No grego ou no latim o holocausto é caracterizado por algo que é destruído pelo fogo e oferecido em sacrifício. A verdade é que o termo passou a ser usado, a partir da segunda guerra mundial para traduzir a dizimação de milhões de judeus pelo regime nazista.

Destruição ou dizimação do humano que nos dias de hoje parece intolerável mesmo que continue a existir no obscurantismo de alguns Países totalitários.

Só que mesmo no Ocidente ou, talvez mais correcto, principalmente no Ocidente, corremos hoje riscos de uma nova e mais sofisticada forma de destruição do humano.

A expressão holocausto psicológico não é minha e surgiu de uma conversa distensa com alguém, muito próximo de mim, num dia sereno onde conseguimos pôr a nu os nossos medos, as nossas fragilidades. A expressão servia para ilustrar o descontrolo a que chegou o avanço tecnológico e a destruição que esse descontrolo poderia causar, senão física, pelo menos psicologicamente no ser humano.

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Falamos, no essencial, da mais recente e frenética evolução da inteligência artificial.

Confesso que a minha primeira impressão foi de dúvida perante o “tremendismo” da expressão que me parecia querer aludir a algo que nos devasta ou nos mata por dentro. Um bocadinho exagerado, convenhamos!

Mas, depois, esmiuçamos. Reflectindo nos avanços e nas consequências dessa inteligência que cada vez tem menos de artificial e ganha contornos que nos causam, primeiro perplexidade e depois, medo verdadeiro!

O Chat GPT ou para ser preciso o “Chat Generative Pre-trained Transformer” é apenas a face mais mediática de algo que pode revolucionar as relações económicas, sociais e culturais, tais como hoje as conhecemos. O conhecimento deixa de ser uma aspiração e muito menos um factor necessário à aptidão do género humano para as relações profissionais, sociais ou culturais.

O trabalho mecânico desaparece e o trabalho intelectual… também!

A inteligência artificial representada por robots, computadores, o que quiserem, mas mais provavelmente por uma realidade paralela à do humano chamada metaverso, irá baralhar as relações humanas que deixam de ter uma qualidade diferenciadora e identitária de um género ou de uma espécie dominantes no planeta. No final, esta nova realidade paralela irá progressivamente dispensar-nos de tudo, no limite até do interesse de viver.

O verdadeiramente mais impressivo é que para além da criação prevalecer sobre o próprio criador, esta realidade paralela alicerçada na Inteligência Artificial parece não ter limites e poder assumir consciência e, no limite, até emoções.

As próprias relações afectivas ou mesmo parentais passarão a ser descartáveis. Será mais fácil ter uma namorada ou mesmo um filho gerado numa inteligência artificial onde nos é dada a ilusão de sermos nós a definir o algoritmo que transformará o nosso ente querido, no homem ou na mulher perfeitos.

Recentemente ouvia Fernando Alves “dar sinal” na TSF da revolução verde e energia limpa que nos é trazida pela folha artificial que por reprodução mimética se encarregará da definitiva fotossíntese. Até a natureza será artificial. E a sua relação connosco…, também!

Deixaremos de distinguir entre o real e o virtual, entre o bem e o mal, entre o presente e o futuro. De tal forma que a vida de tão fácil, acessível ou previsível deixa de ser uma experiência, um crescimento ou um desafio. Perde o interesse. E a humanidade arrastar-se-á numa dolência psicológica que a devastará. No tal, agora previsível, próximo e real… holocausto psicológico.

A minha desesperada conclusão leva-me a berrar: – Oh malta das governações do Mundo! Vamos lá controlar com muitos asap esta coisa da evolução tecnológica, se faz favor! Para já, antes que entendamos para onde queremos ir, desligue-se o Chat GTP, deixemos a computação em casa e voltemos ao tempo dos assobios do amolador de facas e dos pregões da senhora do peixe.

E deixem-nos pasmar com a maravilha de um pôr de sol nos horizontes infinitos do mar Português que já desperta para as maravilhas do Verão libertador que se aproxima.

Assim seja!