Se há campo em que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa se movem como peixe na água é no de gerir expectativas dos agentes económicos. O último ano foi pródigo em boas notícias económicas, umas vindas dos agentes privados como as exportações, outras mais públicas como o controlo do deficit ou a redução da dívida. Marcelo e Costa funcionam em dupla para que nada seja deixado ao acaso na formação de expectativas dos agentes económicos. Algumas dessas boas noticias são reais, outras nem por isso.

Costa, com a preciosa consultoria e ajuda do mais popular presidente de todos os tempos, e mestre absoluto em comunicação política, tem vindo a gerir a comunicação do Governo e do Estado com mestria absoluta. Ele é o maestro e Marcelo o grilo falante, que lhe dá conselhos on-line, real time.

Como resultado, a confiança dos consumidores portugueses está no pico máximo dos últimos 17 anos, como se pode ver nesta notícia do Observador. A confiança das empresas ainda não disparou, mas pelo menos não caiu como seria de esperar de um governo suportado pela estrema esquerda (mas sobretudo pelo presidente). E a economia, apesar da Geringonça, vai evoluindo positivamente. O consumo interno está a subir, as exportações estão a subir, o desemprego e a dívida a descer.

Até um certo ponto, a gestão de expectativas é de facto uma das mais importantes missões do Governo, com a preciosa ajuda do presidente. A ideia de que temos de dizer a verdade sempre e acima de tudo, como defendeu sempre Pedro Passos Coelho, é uma filosofia que não move a confiança do povo. O autocondicionalismo que Pedro Passos Coelho imprimiu ao país e ao seu Governo foi constrangedor. Não viajar em primeira classe, viver em Massamá e passar férias em Quarteira, são alguns exemplos, que ao contrário do esperado, só lhe trouxeram desrespeito. E obrigar o país a enfrentar a realidade nua e crua, a fazer sacrifícios para os quais não estavam preparados, até pode ser filosoficamente meritório e educacional, mas num sistema democrático, em que o populismo do Governo tem de fazer parte da receita, não podia durar muito tempo.

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O povo, infelizmente, gosta de ser enganado. A incompetência da estrutura de comunicação e na gestão de expectativas foi e é, na minha opinião, a principal falha do PSD de Pedro Passos Coelho.

A questão é saber se tudo isto é ou não sustentável, como alertou Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas. As interrogações vêm de todo o lado que entende os truques de Costa e Centeno. Comissão Europeia, Agências de Rating, Eurogrupo, FMI, OCDE, etc, etc… Sem cativações nas empresas públicas, sem efeitos extraordinários, não haveria deficit nos 2,1%. Tudo manobras de maquiagem para a ilusão ser consistente. Que engana o Povo e os comentadores menos preparados, mas não engana quem sabe.

E o que fazem Costa e Marcelo? Assobiam para o lado. Descredibilizam as instituições Europeias em Portugal, sorriem e acenam quando estão lá fora, gozam com Teodora Cardoso e com todos os que se puserem no caminho da gestão de expectativas positivas. Permitem-se a coisas inacreditáveis, como segurar um ministro que mente, para não por em causa o modelo.

Esquecem-se de um importantíssimo detalhe: podem enganar muita gente durante muito tempo, mas não podes enganar toda a gente durante todo o tempo.

Consultor, CEO Lift World