Isto é gozar com as pessoas. Então, depois de tantos anos de estudos de viabilidade, de alternativas, de impactos ambientais e quejandos, vem agora o Dr. Costa lançar outro estudo e, pasme-se, incluir nele a nova alternativa Santarém!

E porque não as Caldas da Rainha, Coruche, Setúbal, ou mesmo Vendas Novas?

A minha sugestão para resolver a coisa de vez é a seguinte. Primeiro arranja-se um mapa da região-alvo. Claro que determinar exactamente a extensão da área admissível para o futuro aeroporto de Lisboa, ou da grande Lisboa, ou do país em geral conduzirá a mais estudos. Mas, enfim, que se despachem sobre este preliminar. Até porque o país não é assim tão grande.

Depois é fácil. Determinada a escala apropriada, algo que talvez requeira mais uns quantos estudos, a meu ver não muito demorados, cola-se o mapa num suporte circular de material à escolha. Neste passo, por razões que aqui não interessa especificar, é imprescindível que o suporte circunscreva o mapa usando o menor diâmetro possível. Creio que para tal bastará um matemático, a menos que se ache preferível nomear uma comissão técnica, embora, claro, isso possa atrasar o processo.

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Agora vem a parte importante, porque dela resultará a decisão final sobre a localização do futuro aeroporto. O mapa, colado no suporte circular, é colocado de maneira a poder girar em torno do seu centro. Uma espécie de roda da sorte. Tudo isto, como se verá já de seguida, é no intuito de deixar todos os participantes em igualdade de circunstâncias, independentemente da pontaria de cada um e, de uma forma geral, para evitar as maroscas.

Falta escolher os decisores. Esta será a fase mais demorada do processo. O Dr. Costa, sendo o PS o partido no governo, nomeará de direito os seus. Como agora parece haver vontade de uma decisão consensual, deve autorizar-se o PSD do Dr. Montenegro a indicar também uns quantos. E, para que não se diga que o processo não foi democrático, cada partido com representação parlamentar deverá indicar os seus, na proporção directa do número de deputados. Melhor ainda, é possível recrutar uns tantos cidadãos incautos que passem pela rua na altura da decisão, adicionando-lhe assim a participação da sociedade civil.

Cada jogador (perdão, cada decisor) é munido de um número fixo – previamente estabelecido de acordo com a escala do mapa – daqueles dardos de jogar de que tanto gostam os ingleses nos seus pubs. O mapa é então posto a girar no suporte giratório e cada decisor, colocado a uma distância razoável, atira-lhe à vez as suas setas. No final, a concentração de setas no alvo determinará a decisão. Vejo três possibilidades. Havendo claramente uma única área de maior concentração, aí será o local do novo aeroporto. Se forem duas ou mais áreas de igual concentração, faça-se corresponder a cada uma seu aeroporto. Estando as setas tão homogeneamente distribuídas que não seja possível determinar áreas de maior concentração, não se faz nenhum aeroporto. Ou, num golpe de génio, faz-se apenas meio.

Esta é a versão democrática e por maioria. Caso no final haja zangas, retiram-se todas as setas do malfadado mapa, entrega-se uma única ao Pedro Nuno Santos – aliás ao cidadão António Luís Santos da Costa – e ele que se desenrasque.