“Conforme oportunamente transmitido ao Presidente da Câmara de Lisboa e ao Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente, o Governo assegura todo o apoio que seja necessário para garantir o sucesso deste evento extraordinário para crentes e não crentes”. A frase é de António Costa e foi publicada na sua conta oficial no Twitter, a 27 de Janeiro de 2019. Faz agora 4 anos. Nessa altura, é preciso recordar, o país vivia em festa desde 2016. O dinheiro barato e os benefícios da aplicação do programa da troika que davam alguma folga, somavam-se a uma série de acontecimentos fortuitos que governo e Presidente da República aproveitaram para seu benefício político: a vitória da selecção nacional de futebol em 2016, a vitória no festival da canção em 2017, a visita do Papa Francisco a Fátima nesse mesmo fim-de-semana. Até a homenagem ao Zé Pedro dos ‘Xutos e Pontapés’ no Rock in Rio em 2018 serviu de pretexto para vermos Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues e Fernando Medina a dançarem ao som de ‘A Minha Casinha’. Qualquer pessoa com bom senso, além de embaraço, temeu o pior. Mas festa é festa e foi esse o sentimento incutido pelos maiores responsáveis do Estado.

Como o próprio Presidente da República afirmou aquando da sua visita à China em Abril de 2019, “quem quer estar na roda, está na roda. Quem está na roda, dança. Quem não quer estar na roda, não dança daquela vez, dança da próxima”. De 2016 a Fevereiro de 2020 a festa foi rija e Marcelo e o governo PS dançaram até mais não. Tanto dançaram que o mais natural seria caírem da roda. É precisamente dessa queda que Marcelo, Costa e Medina querem fugir. Dela fogem como o Diabo da Cruz e da responsabilidade que é o custo da Jornada Mundial da Juventude. Fazem-no enquanto ignoram os contratos assinados, contratos que foram assinados porque quiseram. Porque enquanto foi valeu a pena regozijaram-se com a alegria fácil; agora fingem nada perceber das derrapagens de uma empreitada que, apesar de adiada um ano, se encontra atrasada.

A realização em Lisboa da Jornada Mundial da Juventude foi encarada pelo Estado como um mais evento equiparável à Websummit ou a um qualquer congresso empresarial que traz para o país um milhão de pessoas. Para o Estado, a JMJ é uma oportunidade de negócio, mais um acontecimento festivo que desvie as atenções, algo próprio de ditaduras ou de democracias com maus governos. Desde 2016 que o Presidente da República e o Governo apostaram num modelo de desenvolvimento assente em eventos que momentaneamente chamem pessoas a Portugal para gastarem dinheiro em cafés e restaurantes. É fácil e não implica as chatices das reformas que Portugal necessita. É um modelo medíocre, inconsequente, incapaz de gerar riqueza e que traz consigo uma factura pesada a que se somam consequências nefastas. No entanto, foi esse o modelo que Marcelo, Costa e Medina quiseram, aprovaram e festejaram. É o modelo que também serve de base à candidatura de Portugal à realização do Mundial de Futebol de 2030, em conjunto com a Espanha e a Ucrânia. Hoje em dia poucos se opõe a essa hipótese que se vê como mais uma oportunidade, outro um incentivo à actividade económica. Mas num país como Portugal, com tantos eventos que foram um fiasco financeiro, já não se compreende tamanha inocência.

No caso concreto da JMJ o conceito de Estado laico que o PS diz prezar foi esquecido em nome de uma vantagem política imediata. Agora que os tempos fáceis acabaram, agora que os custos chegam, os governantes que tomaram as decisões que vamos pagar querem fugir das suas responsabilidades políticas. É precisamente essa tentativa que não pode passar sem resposta. O escrutínio falhou no tempo dos afectos, mas deve estar presente quando do pagamento da conta. Porque numa democracia a responsabilidade do que corre mal não é atirada para o elo mais fraco; é assumida pelo poder que tomou as decisões.

P.S: No passado fim-de-semana fui eleito membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal pela lista do Rui Rocha. Sem contar com as últimas autárquicas e legislativas, nas quais integrei as respectivas listas em Lisboa, nunca fiz política. Fiz por ter uma vida profissional que me permitisse, com a minha idade, estar num partido de forma responsável e como cidadão livre que sou. Mas também porque até ao momento não existia em Portugal algo como a IL, um partido que visa quebrar o ciclo socialista que empobrece o país. Sei que na política, além da nossa vontade e entrega, pouco depende de nós. Por isso só posso garantir que farei o que estiver o meu alcance para que no fim entreguemos aos nossos filhos um país melhor, mais livre, mais responsável, mais respeitado, mais digno. Um país onde os Portugueses vivam bem. Que seja causa de admiração e que inspire os demais.

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