No dia em que em fui buscar as “minhas” peregrinas uma delas perguntou-me como se chamavam os meus filhos. Quando lhe digo Vasco e lhe vou explicar que é um nome só nosso ela responde: “Wait, I know one Vasco, da Gama”. [Espere, eu conheço um Vasco, da Gama]

Nasceu em Goa, apelido português, sabe a palavra “arroz” parecida com a do concani que falam em casa que agora é em Londres. Foi dos pais e dos avós que herdou a fé católica (e o gosto pelo futebol, mas isso já é outra coisa) levada há muitos, muitos anos, para a Índia pelos portugueses. E eu que tanto “prego” pela importância destas jornadas também para o reforço da ligação de Portugal ao mundo lusíada, senti-me, ainda mais, em casa. Como acredito que elas e o milhão que com elas veio se sentiu. Pela alegria nas ruas, pela emoção do encontro, por estas nações unidas de paz.

E depois chegou o Papa, que veio do fim do Mundo a esta cidade que uma vez mais dá mundos ao mundo. Falou a cada um de nós daquilo que de facto importa: a mudança e a bondade na construção desta Casa Comum. Chamou todos e cada um pelo seu nome. A alegria dos peregrinos e a força das palavras e dos actos de Francisco contagiaram a cidade. É possível ser bom, é possível ser verdadeiro, é possível com pequenos actos fazer a nossa parte. Contamos todos, disse ele. E em cada passo que deu fez-nos acreditar.

Num mundo em que o materialismo e o liberalismo desenfreado propagam o individualismo e o abandono do outro, este Homem bom repete uma e outra vez os passos de Jesus e nunca desiste de nós. Uma mensagem universal e comunitária com mais de 2000 anos, base do ciclo novo que a humanidade tem de iniciar. É que há um antes e um depois destas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa e cada palavra do Papa Francisco nos diz isso. A escolha é entre o caminho que leva ao Bem e um outro que leva ao Mal: de que lado queremos estar é escolha livre, nossa. De onde vimos, quem somos, pouco conta. O que interessa é a responsabilidade e o amor que pomos em cada acto que fizermos.

Quase no fim, falando com outra das “minhas filhas” nestes dias, falámos na Paz que Francisco nos dá e na força que daqui levam. Com origens também na Índia, vive na católica Irlanda, tão marcada ainda por uma igreja que em dado tempo se perdeu em parte da sua essência. Parecia que a conhecia da vida toda. Falámos de esperança, da família que tem espalhada pelo mundo e que aqui também veio encontrar, de valores que promovem a dignidade do Homem e que não têm fronteiras. Do tão jesuítico discernimento. Do “hospital de campanha” que temos de ser em permanência. De uma economia baseada na sustentabilidade e na não exploração do ser humano. No dizer de forma tão simples mas tão direta, eficaz e às vezes até tão dura, o que tem de ser dito. É este o Mundo de Francisco; este o mundo que as duas queremos e por isso tão bem nos compreendemos. De e em Portugal, nas Ilhas Britânicas, na Índia ou no Dubai. Por Francisco e por todos nós. E, para quem acredita, com Nossa Senhora por companhia. E com todo o simbolismo que esta passagem da organização à Coreia do Sul tem para Portugal: afinal também foram os portugueses os primeiros a lá levar esta boa nova que cada vez se torna mais urgente aplicar.

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