António Costa achou por bem anunciar medidas para os jovens na rentrée do Partido Socialista, agindo assim ao mesmo tempo na qualidade de secretário-geral do PS e de primeiro-ministro, mas poder-se-ia ainda ter confundido com o Pai Natal, visto que em vários jornais nacionais pode ler-se em letras gordas “Costa oferece prendas a jovens”.
O seu contexto é particularmente interessante, não pedira Costa autorização para, em vez de fazer um comício de rentrée, dar uma aula aos jovens socialistas. Seria esta uma tremenda masterclass, não tivessem anunciado os jornais no dia seguinte que o partido perdeu quase metade das intenções de voto entre os jovens desde as legislativas. Afinal, esta consistiu numa manobra para angariar os votos deste grupo etário.
Entre as medidas, que de ofertas têm pouco, encontramos a devolução de propinas de universidades públicas a quem ficar a trabalhar em Portugal, que, juntamente com a promessa de IRS zero no primeiro ano de trabalho (que já teria sido prometida por Medina), serve para fixar cá a fatia jovem trabalhadora do país. Talvez mais eficaz tivesse sido tornar o país mais atrativo, visto que vivemos no país com os segundos salários mais baixos da Europa Ocidental e com a oitava carga fiscal mais elevada sobre o trabalho, o país dos jovens que saem de casa dos pais mais tarde na Europa, com 34 anos ou, finalmente, o país em que 72% dos jovens recebe menos de 950 euros!
Para os universitários, haverá passes de transportes grátis para todos até aos 23 anos e apoio ao alojamento estudantil (que varia entre os 200 e os 300 euros). Não se preocupa o nosso Primeiro-Ministro por as gerações mais novas serem as mais escolarizadas, mas com o incremento salarial por cada ano adicional de escolaridade cada vez menor. Certamente, também não se preocupa com a falta de alojamento estudantil e de rede de transportes para os jovens irem até à universidade.
Por último, foi prometido um cheque-livro de 100 euros para jovens de 18 anos e uma semana de férias nas pousadas de juventude com quatro viagens de comboio para quem concluir a escolaridade obrigatória. Estas últimas medidas, que pretendem aumentar o consumo de cultura dos nossos jovens, não terão efeitos a longo prazo, visto que os jovens portugueses com ensino superior perderam mais de 10% de poder de compra em menos de 10 anos.
Costa terá muito a aprender com Sócrates – o filósofo, não o político! Este é retratado na República como um grande pessimista sobre a ideia da democracia, já que compara uma sociedade a um barco para questionar o porquê de todos termos capacidade de eleger o líder de um país. Afirma que, entre qualquer pessoa, ou um conjunto de pessoas educadas sobre o mar, todos optariam por escolher os segundos para serem eles a decidir quem governaria o barco em que fossem a bordo. Isto não significa que para este apenas uma elite devesse votar, mas significa, sim, que votar é uma habilidade e que, portanto, teria esta de ser ensinada aos seus cidadãos. Neste sentido, deixar os cidadãos votar sem educação seria tão irresponsável como deixá-los guiar um navio numa tempestade.
Noutra metáfora, que consiste num debate entre um médico e um vendedor de doces, explica que enquanto o último comunica ao público que o primeiro os magoa e que não lhes oferece doces, mas sim poções amargas; a resposta do médico seria sempre defensiva. Explicar que anunciar doenças e ir contra as vontades dos eleitores seria para os ajudar, em última instância, nunca consistiria numa resposta suficiente para convencer o público, pelo que o resultado seria inequivocamente a eleição do vendedor de doces.
Ora, sondagens de junho mostram que o partido com o eleitorado mais jovem é a Iniciativa Liberal com 51% dos seus eleitores na faixa 18-34 anos. Estando o nível de escolaridade fortemente relacionado com a idade, é normal que a IL não tenha expressão entre as pessoas menos escolarizadas (as mais idosas) e dois terços dos seus eleitores tenham formação superior. Contrariamente, os socialistas têm maior peso (43%) nos menos escolarizados e apenas um terço tem formação superior.
De facto, os eleitores menos escolarizados tendem a votar em partidos que lhes fazem promessas vagas, como aumentos de pensões e em ordenados, enquanto o mesmo não acontece com a população mais escolarizada, que teve o privilégio de ser alertada para os perigos da demagogia. Os jovens portugueses ilustram perfeitamente esta opção de voto: optam pelo caminho mais difícil, que nunca elegeria o comerciante de doces.
Voto que honremos a democracia que já nos é intrínseca em Portugal, ao fazer escolhas ponderadas e a olhar com ceticismo para ofertas repentinas. Não elejamos mais vendedores de doces. Aliás, todos sabemos que, depois deste mandato, teremos de recorrer a um médico para nos livrar das cáries.