Através do Instituto +Liberdade fiquei a saber que o número de funcionários públicos aumentou pelo sexto ano consecutivo. De 655 mil em 2015 passámos a 726 mil, no primeiro trimestre deste ano. Sabe quantos eram em 2011? 728 mil. Infelizmente, não há coincidências.

Olhando para estes números somos forçados a concluir que algo não está bem. Entre 2015 e 2019, o  governo de António Costa reduziu o défice das contas públicas ao mesmo tempo que o número de funcionários públicos aumentou. Como é que tal foi possível com mais ordenados para pagar? A resposta é simples: com o dinheiro grátis vindo do BCE, o crescimento económico derivado do turismo e as cativações de despesa na saúde e na educação. Com a suspensão do turismo e o necessário fim das cativações (devido à pandemia), os défices regressaram e encontramo-nos totalmente dependentes do BCE. Por algum motivo o montante nominal da dívida pública não desceu até 2019. A soberania a que PS, BE e PCP tanto se referiam deve ser isto: depender da boa vontade de um banco central dominado por alemães. Não deixa de ter graça não fossem tantos os que se deixam iludir.

Mas adiante.

O que pretende o PS? Por que razão contrata mais funcionários públicos quando é sabido que a ineficiência do Estado não se resolve com mais pessoal, mas com rigor? A resposta a esta pergunta também é simples, embora dolorosa: porque o PS quer um país dócil. E para tal precisa de um eleitorado que dependa financeiramente do poder político instalado. Lamentavelmente está a consegui-lo. É lamentável para o país, mas também para os funcionários públicos que diariamente e, apesar de os estímulos serem no sentido contrário, exercem as suas profissões com zelo e de forma escrupulosa. Não deve ser fácil.

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Mais de 700 mil funcionários públicos serão cerca de 3 milhões de pessoas a dependerem do ordenado que o Estado paga a pelo menos um membro de cada família. Com uma dívida pública a rondar os 140% do PIB (mais de 270 mil milhões de euros!) dificilmente se farão reformas que tornem o Estado solvente e ainda capaz de levar a cabo as suas funções. Não é de ânimo leve que se aceitam cortes salariais em troca de vantagens abstractas, mesmo que necessárias em nome do país. Ora, se isso não é possível como é que o PS pensa continuar a financiar o Estado social? Como é que os socialistas contam pagar os ordenados dos funcionários do Estado e as pensões dos pensionistas? As escolas e os hospitais? As estradas e as pontes? Os quartéis dos bombeiros e as esquadras da polícia? As forças armadas, incluindo a manutenção dos aviões, dos tanques e dos navios? As instalações onde funciona a democracia, onde estão os tribunais e as conservatórias? A resposta a esta nova pergunta também não é difícil: com dinheiro europeu.

Com os fundos europeus e com o Plano de Recuperação e Resiliência.

No próximo dia 12 de Junho passam 36 anos que Mário Soares, Rui Machete, Jaime Gama e Ernâni Lopes assinaram o tratado de adesão de Portugal à CEE. Foi nos Jerónimos e fizeram-no com pompa e circunstância. A razão não era para menos. Nesse dia Mário Soares no seu discurso nos claustros dos Jerónimos referiu que: “Precisamos de persistir na via que temos trilhado nos últimos dois anos, praticar uma política financeira de rigor e de verdade, lutar pela estabilidade política como elemento essencial de recuperação económica e de modernização e aprofundar as instituições democráticas, designadamente mediante a prática da solidariedade nacional, da concertação social e do diálogo”. Goste-se ou não de Soares o discurso está nos antípodas do que o PS faz desde António Guterres (o actual secretário-geral das Nações Unidas, incluído). Na verdade, 36 anos depois do discurso de Mário Soares o projecto do PS é outro: usar o dinheiro europeu para pagar ao maior número de pessoas no Estado e garantir vitórias eleitorais.

O sentimento de impunidade do PS não nasce do nada, mas da falta de escrutínio. A situação não difere muito da que sucedia no Estado Novo (sendo que não temos os índices de crescimento económico conseguidos na década de 60 e que duraram até 1973). Casam-se uns com os outros, distribuem lugares uns aos outros, elogiam-se uns aos outros e a propaganda profissionalizou-se de tal modo que começa no Primeiro-Ministro e acaba nos jornais de freguesia que (pagos com os impostos) são deixados nas caixas de correio, como se fossem gratuitos. Eduardo Cabrita não se demite, António Costa não o demite, Pedro Nuno Santos é a prepotência em pessoa que usa o nosso dinheiro, Mariana Vieira da Silva fala de um modo pretensioso para jornalistas que não a questionam. A táctica está na mentira camuflada de verdade formal que, tecnicamente, não tem nada a apontar, mas que é totalmente falsa.

O jogo socialista parece brilhante do ponto de vista do caciquismo político. Mas este jogo apresenta riscos. O primeiro está no efeito pernicioso da utilização de fundos públicos para cativar votos; o segundo, em fazer depender o país de um equilíbrio instável e que não vai durar para sempre. Basta que a inflação aumente para que o BCE feche a torneira. Se tal acontecer, os funcionários do Estado, a quem lhes foi prometida estabilidade, estarão prontos para apoiar quem lhes garanta ordem e segurança. Não seria a primeira vez. Ainda vamos a tempo de evitar este perigo, mas o PS não ajuda porque o seu interesse é imediato.

Há quem entenda, como Clara Ferreira Alves, que a esquerda portuguesa é muito inteligente porque entalou a direita. Da minha parte não vejo qualquer inteligência em onerar o Estado, hipotecar a vida das pessoas e viver de subvenções alemãs. Incentivar um país de dependentes não tem nada de espectacular; é apenas uma afronta aos que nos prometeram uma realidade diferente e aos que acreditaram e trabalharam para ela.