“Problemas de comunicação”? Acho que todos já ouvimos desculpas melhores e mais plausíveis. São desculpas que não passam mesmo disso e que não convencem ninguém.

Os contornos da relação entre a Joacine e o Livre são ainda desconhecidos. Motivos estes que, apesar de nos ultrapassarem em grande parte, trazem consigo uma enorme interrogação: Mas, afinal, Joacine está no parlamento para representar o partido e quem nele votou ou para se fazer a si representar em exclusivo?

Acho que Joacine Katar Moreira, a mulher mais falada dos últimos tempos, conseguiu o que queria e talvez seja por isso que têm sido umas atrás das outras: abstenção num voto de “condenação da nova agressão israelita a Gaza e da declaração da Administração Trump sobre os colonatos israelitas”; falha na entrega do projecto sobre a Lei da Nacionalidade, uma das suas maiores bandeiras; o pedido de escolta; os ainda desconhecidos e verdadeiros motivos para os problemas de comunicação entre a deputada e o partido.

A deputada do Livre sabe bem aquilo que quer e aquilo que pretende representar. Joacine sabe que não está a representar quem votou no partido nas legislativas, Joacine sabe que as únicas coisas que representa na Assembleia são a arrogância, a ambição desmedida, o desrespeito e até o próprio racismo de que se diz, acerrimamente e repetidamente, contra.

Ao argumentar que terá ganho as eleições sozinha e que não necessita que o partido a ensine a ser política demonstra uma arrogância sem igual e uma necessidade de se fazer valer sozinha. Talvez se esqueça daquilo que é um partido e daquilo que um só deputado representa no parlamento.

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Acredito que Joacine sabe muito bem para o que veio: para fazer valer a sua agenda ideológica. Joacine sabe muito bem o que quer: um palco para se fazer ouvir. É, por isso, que as suas atitudes não só se explicam pelas suas motivações ideológicas como, também, se explicam pela vontade que tem de as impor aos outros.

A sua defesa pelos direitos das mulheres e pela protecção das minorias não me convence e não me convence porque traz em si uma enorme carga de exclusão e de repressão. Quando a defesa das minorias serve para excluir em vez de incluir, quando estreita o olhar e impossibilita a real compreensão da sociedade. A desigualdade social não se prende unicamente com as questões de género, de etnia, de orientação sexual. A desigualdade social vai muito para além disto e é nesta compreensão alargada e completa que um bom político se revela.

Note-se, também, que nunca se ouviu falar tanto de um assessor de um deputado como o caso do assessor de Joacine Katar Moreira. Nunca nenhum assessor teve tanto palco e tantas oportunidades de se fazer ouvir. Talvez por ser um assessor do género masculino que usou saia no dia da tomada de posse da Assembleia da República ou talvez porque vai para o Twitter pedir que se “largue o osso”. Bem, não sei, mas sei que todos os motivos são bons para se dar nas vistas e que esta é, sem dúvida, a estratégia adoptada.

Calculo que andar nas bocas do mundo fosse um dos desejos do Livre, mas certamente que não por motivos que o descredibilizam e que o arruínam enquanto partido estreante na Assembleia da República. O grito de vitória que fizeram soar no dia das eleições é agora um silêncio e o Livre tem em mãos um osso duríssimo de roer.