No meu tempo jogava-se Pac-Man. Um boneco amarelo que percorria um labirinto confinado ao tamanho dos écrans. Agora joga-se Pokémon. Um boneco amarelo que percorre um labirinto do tamanho do mundo.
No meu tempo corria o boneco. Agora, corremos nós!
Desenvolvido pela Niantic e lançado a 06 de Julho, o Pokémon Go é um jogo de realidade aumentada baseado em geolocalização que permite aos jogadores capturar Pokémons no mundo real. O jogo faz uso de GPS e da câmara dos smartphones permitindo aos jogadores interagir num ambiente virtual, cheio de Pokémons. Mas isto não acaba aqui! Ao longo dos nossos dias de quotidiano, monótonos e enfadonhos, podemos localizar e capturar os bicharocos, treiná-los e lutar com eles.
E será o jogo assim tão estúpido? Talvez. Mas os números são, até agora, surpreendentes. Desde o seu lançamento, o jogo foi mais instalado em Android que em iPhone e o número de utilizadores activos por dia pode em breve ultrapassar o Twitter.
São “só” 15 milhões de tweets. Um número bem superior aos alcançados pelo Euro e pelo Brexit.
Outro dado interessante é a utilização média diária que é superior à do Instagram, de acordo com a Reuters.
São “só” 43 minutos por dia!
Com este jogo estúpido aos olhos de muitos, o valor de mercado da Nintendo aumentou brutalmente, apenas seus primeiros dois dias.
São “só” cerca de 7,5 mil milhões de dólares a mais para a criadora japonesa de jogos.
Mas porque é que este jogo é tão popular? Porque razão miúdos e graúdos andam agarrados aos telemóveis? Por duas razões muito simples, digo eu… Em primeiro lugar, o jogo joga com a nostalgia da rapaziada da minha idade, que jogou Game Boy nos anos 90, permitindo-nos recordar os dias felizes cheios de “cartuchos” que eram trocados até mais não, mais jogos houvessem. Em segundo lugar, porque lança um dos desafios mais procurados pela raça humana: caçar e coleccionar. Independentemente de como e quando nascemos, se jogámos ou não Game Boy ou Sega, se éramos fãns do Pac-Man ou não, este Pokémon Go desperta-nos a vontade de “ir atrás” de “ter” e “colecionar”.
Eu já experimentei. (Claro!) Continuo a achar mais piada ao boneco amarelo que fica limitado ao formato do écrãn, que ora foge ora persegue fantasmas coloridos.
Para além do mais este Pokémon Go traz outro (grave) problema: o peso da nossa cabeça aumenta consideravelmente! São “só” 22 quilos após tanto tempo dobrado sobre um smartphone…
Dean da Escola de Tecnologias, Artes e Comunicação na Universidade Europeia, Vice-Reitor no IADE-U
carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt