Com o aproximar das eleições europeias, e com a urgência de temas centrados em Bruxelas, os partidos portugueses apresentam os seus “ases”, isto é, os seus cabeças de lista para este desafio eleitoral, cuja importância apesar de muito menosprezada ainda, tem vindo a crescer em relevância e impacto direto nas nações que compõem a União Europeia. Na ordem do dia crescem temas como o tratado pandémico, o aumento descontrolado dos fluxos migratórios externos, a influência dos tecnocratas no futuro dos Estados Membros e as posições de política externa, sendo estes apenas exemplos relevantes de caminhos a trilhar no pautar do futuro conjunto da Europa, mas essencialmente de cada Estado Membro dentro da sua independência, identidade e soberania.

Mencionando brevemente partidos de menor dimensão, mas centrando posteriormente nos três principais partido, que discutem entre si a vitória nestas eleições, a estratégia de Bloco de Esquerda e Iniciativa Liberal passou muito por uma rotação de posições, essencialmente no caso Bloco com a troca de Marisa Matias por Catarina Martins, e no caso da IL por uma aposta na antiga figura central do partido, como “ponta-de-lança” para a estreia em Bruxelas, mas também pela experiência de Cotrim em ser deputado único (cenário mais provável no que diz respeito à IL e à sua representação dentro do grupo europeus dos liberais).

Centrando-me nos principais partidos, o Partido Socialista utiliza uma dupla estratégia, primeiro tentando lançar a antiga ministra da saúde, responsável pela gestão da Covid-19, que para muitos e nos quais me incluo foi danosa e revelou enormes fragilidades de Marta Temido, mas por outro lado a estratégia foi bem mais focada no seio do partido. Em terceiro da lista, Pedro Nuno Santos coloca Ana Catarina Mendes, que de forma conhecida tem aspirações à liderança do PS, e que vê agora o seu líder partidário afastá-la do centro de decisão, para a longínqua capital belga, retirando-a da agenda diária nacional e do respetivo protagonismo, reduzindo assim a potencial concorrência. Se no PS a estratégia é interna, no PSD é questionável e causa estranheza. Com Rui Moreira a ser apontado como cabeça de lista mais provável, o nome de Sebastião Bugalho causou pasmo na opinião pública, em especial por este sempre se ter auto-referido como independente e isento, talvez já em campanha, e seguindo os exemplos de Marcelo, Portas ou Marques Mendes, para este momento. Talvez o PSD julgue ter um trunfo valioso numa figura ainda jovem, porém acredito que os desafios europeus atuais exigem uma experiência de vida e conhecimento de causa para o qual o currículo exclusivo de comentário político não serão suficientes, e que ao contrário da opinião de Montenegro, não atrairá o voto jovem (destacadamente no Chega), porque para merecer a confiança dos jovens não basta partilhar a década de nascimento.

No caso do Chega, a apresentação do seu cabeça de lista foi feita há algumas cenas e incidiu no antigo embaixador e representante diplomático português em vários cantos do globo, António Tânger Corrêa, que se distingue dos restantes candidatos pela sua experiência extensa a nível profissional, pessoal e política. Para mim, a diferença entre o candidato do Chega e respetiva visão do partido para estas eleições, em relação aos restantes partidos, tem por base o foco na experiência relevante para os desafios europeus, com toda a experiência do embaixador na Bósnia e Sérvia, mas também no Médio-Oriente (inclusivamente em Israel), na China e no continente americano, gerindo situações de enorme complexidade em territórios manchados por conflitos, exigindo uma enorme capacidade de negociação, mediação e decisão, que colocará em prática no contexto europeu após as eleições de junho, ao passo que os restantes partidos olharam para as europeias como uma forma de premiar, rodar quadros ou até de exilar adversários internos, não conferindo às Europeias a sua devida importância.

É por isso para mim claro, que o partido que deu maior importância e relevância às Europeias, na escolha do seu cabeça de lista, foi o Chega, que optou pela experiência e inegável capacidade do embaixador Tânger Corrêa, enquanto os restantes partidos utilizaram este ato eleitoral de enorme importância para resolver questões internas, tendo priorizado o seio partidário e não o impacto europeu no futuro de Portugal.

Resta agora contar os pontos, porque os “ases” já estão na mesa, e esperar por outros trunfos que possam contribuir para a contagem final e para a ação de Portugal no contexto europeu, em tempos nos quais a decisão parte de Bruxelas, que tão desesperadamente precisa de ser reformada.

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