Começo com um sentido obrigado ao nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que, para além de ser excelente na arte de tirar selfies, também permitiu clarificar a situação política portuguesa. Ah! Parece que afinal, não.

Entramos no pós eleições e estamos numa situação ainda mais confusa, à beira da ingovernabilidade. Como disse o poeta em Hamlet, algo está podre no reino da Dinamarca.

Este quadro de instabilidade não é mais que o fruto do desgoverno da geringonça. António Costa precisava de um vilão para se perpetuar no poder e ajudou a criar um partido que agora não consegue controlar.

O PS, o BE e o PCP foram incompetentes. O povo não está feliz e não se sente representado. Por muito que o repitam, a união da esquerda não trouxe melhoria à qualidade de vida dos portugueses, antes pelo contrário, provando que as suas medidas não funcionam. O que me parece distópico é que, no final do dia, continuem a não ouvir o grito de revolta dos portugueses.

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Quando a insatisfação aumenta, os partidos reaccionários capitalizam, sempre foi assim. O que mudou, foi que neste momento, acabou o período esquerda vs. direita e começou o período descontentes vs. status quo, o que é bastante mais perigoso por ser mais emocional que racional.

Não votei Chega. Nunca votarei Chega. O Chega é um partido que reúne um determinado número de valores que são incompatíveis com a minha visão de uma sociedade justa e equitativa, ao mesmo tempo que padece da falta de outros tantos que considero essenciais. Representa a ignorância de confundir patriotismo com nacionalismo e o falso sentimento de orgulho por algo que não se fez. O apego a tradições bacocas desprovidas de sentido. O clubismo e o seguidismo.

Porém, aquilo que para mim é pouco mais que boçalidade, não o é para cerca de um milhão de portugueses. Para um milhão de portugueses é um farol de esperança de uma vida melhor e acreditar num sistema democrático envolve ouvir e respeitar o voto dos outros. Portugal não tem um milhão de fascistas, racistas, xenófobos ou homofóbicos. Se assim fosse, a solução para o país seria bastante simples. O que Portugal tem, é pelo menos um milhão de desesperados, ignorados e descontentes com a sua vida.

E qual é a resposta da esquerda? Braços de ferro e tomadas de força, como se não tivessem tido responsabilidade na governação. A prova do radicalismo do BE, PCP e deste PS é a falta de soluções práticas e humanas para os problemas das pessoas.

A confusão e falta de pragmatismo de não entenderem como o mundo funciona e que Portugal não é um microcosmos onde pudesse ser implementado um sistema comunista. A falta de cultura democrática e a desresponsabilização total pela situação actual, completam o pacote esquerda 1.0.1 para 2024.

Quando aquilo que o país precisa são consensos e união contra o extremismo e em prol da estabilidade, a esquerda, responde com pedras na mão e mais polarização. Não se combate o extremo extremando posições com dogmas ou chavões autocráticos. Podem todos gritar “não passarão” em uníssono que nada resolve. Já passaram. E agora? Ideias extremas combatem-se ao centro, com racionalidade e serenidade.

Ser de Esquerda não é nem um voto de pobreza nem ser incapaz intelectualmente. Há nobreza em muitas das ideias e no humanismo dito de esquerda e daí, enquanto liberal, me sentir no centro político aproveitando as boas ideias de cada um dos lados. Ser de extrema esquerda (ou direita, para todo o efeito), porém, é geralmente pouco mais que ignorância e hipocrisia.

Os partidos socialistas, esses, não são carne nem peixe, são lulas. Esbanjam, têm uma birra ideológica cada vez maior com os privados e não sabem gerar sociedades produtivas. Tudo isto porque a base é um Marxismo Light, numa economia de mercado global o que, no fim da linha, resulta numa pobreza e desigualdade desastrosas. Enquanto o porco engorda, os animais da quinta comem uns farelos.

A esquerda não sabe perder e não é construtiva quando perde. Só destrói e manipula. Quem por estes dias ouve Ana Gomes a falar só fica com a certeza de duas coisas: que não são democratas e que não há pluralismo.

Muitos dos políticos como Pedro Nuno Santos, padecem de um subjectivismo radical que alicerça o seu “conhecimento” na emoção e não na experiência vivida. Narcisistas. Bullies autoritários e tirânicos. Inseguros, frustrados, invejosos e impressionáveis.

O Livre com o seu progressivismo não-populista, pode ser uma boa alternativa, mas se Rui Tavares é alguém com quem parece ser possível conversar, o resto do partido é uma incógnita e podemos estar perante mais sectarismo como o de Joacine Katar Moreira.

A triste verdade é que Salazar não morreu. Salazar vive dentro de todos os portugueses medrosos. Os carentes. Os cobardes. Os paternalistas. Os que se esquecem que o dirigismo e o autoritarismo, seja de esquerda ou de direita, só conduz a sociedades onde não há razão de viver e a vidas sem propósito.

A democracia ensina-nos que o voto do povo deve ser ouvido. Que é o pior sistema político, excepto todos os outros. Que o combate político não é feito através de exclusão ou de linhas vermelhas. Que é fundamental respeito, diálogo e entendimento, mesmo quando desprezamos o oponente. Que normalizar não é aceitar. Há que entender, normalizar este voto de puro descontentamento e combater o crescimento destas ideias com reformas que promovam o desenvolvimento do país. Um país mais desenvolvido e educado, é um país menos radical. Um país ao centro é um país próspero.

O peso, recai neste momento, ao que tudo indica, sobre Luís Montenegro que, sendo fiel à sua palavra (ao ponto de a esquerda não o entender), tem a responsabilidade de governar bem e de, principalmente, combater este descontentamento, sob pena dele se tornar incontrolável.