Hoje acordei e li as notícias da minha cidade: “mulher morta a tiro numa loja” e “dezenas de imigrantes envolvem-se em confrontos junto ao Hospital de Santo António” e “homem esfaqueado na Praça da República está em estado grave” e tenho de parar porque me choco com o que o meu Porto se tornou. A cidade está a ferro e fogo. Ninguém se sente seguro, por aquilo que se ouve nos transportes públicos e nos cafés. Há medo de sair à rua. E isto não aconteceu ao acaso porque há três anos, quando fui candidato a presidente da Câmara do Porto, bem avisei. Tive reuniões com o comando metropolitano do Porto da PSP e com a coordenação da PJ. Fui com um especialista estrangeiro em segurança que alertou para os indícios que a situação ia piorar. Passados três anos, o Porto está irreconhecível e não estou contente porque eu tinha razão. Na verdade, dava tudo para ter estado completamente errado.

Pior do que tudo, é não haver um plano para melhorar a situação. Sacrificamos a nossa privacidade para ter mais segurança através de câmaras que espiam grande parte da cidade, mas vemos hoje que servem como instrumento de acusação criminal e não como forma preventiva de assegurar a vigilância de pessoas e bens. O executivo da Câmara e o PS são os principais culpados da situação calamitosa da segurança no Porto, porque os governos locais de Moreira e nacionais de Costa foram absolutamente incompetentes e inertes. E o primeiro passo para que a paz volte à cidade é fazer justiça: acusar criminalmente os políticos culpados por esta situação, desde liberais a centristas. Porque a época de encolher os ombros perante a incompetência da gestão económica e social tem de acabar. Quem prejudica gravemente a vida de centenas de milhares de pessoas tem de estar na prisão. Sejamos brutalmente honestos: a criminalidade no Porto está a piorar a um ponto que talvez seja necessário começar a pensar em colocar militares a patrulhar as ruas.

A governação atual da Câmara expulsou os portuenses de certas zonas da cidade e colocou hotéis e alojamentos locais e multinacionais. Mas em outras zonas deixou tudo ao abandono, as pessoas à sua sorte, com o tráfico e o consumo de droga a ser feito à vista de todos e de forma impune. Se o caos é a herança de Moreira e o centralismo foi a marca de Costa, temo que leve muito tempo a voltar a colocar o Porto na normalidade de há alguns anos atrás. O problema da assimetria e miséria sociais na cidade aumentou exponencialmente com o liberalismo militante do executivo da Câmara e a indiferença do poder central de Lisboa. Há filas cada vez maiores na sopa dos pobres e nos albergues noturnos. É certo que hoje em dia não se vê um único cão ou gato abandonado na rua, mas em cada passeio há gente a dormir ao relento. Os valores portuenses morrem a cada dia. A alma acolhedora do Porto está a fechar-se, não por egoísmo ou avareza, mas por medo do crime descontrolado.

É fundamental um plano de emergência imediato para o Porto. É fundamental começar por assumir que a governação liberal, centrista e socialista criaram um movimento que destruiu a cidade e que é hora de apanhar os cacos. Há três anos, eu pedi policiamento apeado, mas hoje exijo patrulhamento das ruas para garantir a segurança dos cidadãos. Há três anos, eu dei várias ideias para melhorar a situação económico-social da nossa cidade, mas hoje exijo uma junta de salvação local, a demissão imediata dos vereadores destes dois pelouros e a elaboração de um plano de recuperação. Porque o problema da segurança advém de múltiplos fatores que estão inter-relacionados: graves assimetrias na cidade, com um fosso entre ricos e pobres; falta de infraestruturas e serviços de apoio a toxicodependentes; problema habitacional, com muitos portuenses a viver em condições miseráveis; tráfico de estupefacientes em cada esquina; perda da cultura e identidade portuenses, que levaram à desorganização social e à glorificação de comportamentos criminosos. Não, de nada vale colocar a culpa nos outros, como é costume dos incompetentes. Quem diz que o problema são os imigrantes, esquece-se que eles são apenas vítimas: vieram em busca de uma cidade que aparece nas brochuras como atraente, mas que não tem o mínimo de condições de acolhimento. Por outro lado, a aposta económica foi totalmente no turismo, necessitando apenas de mão-de-obra intensiva e mal paga de jovens de países subdesenvolvidos. Há casos de imigrantes a viver miseravelmente às dezenas em restaurantes, amontoados e sem o mínimo de condições humanas. Não, a culpa não é dos imigrantes, mas sim de quem promoveu esta economia local anacrónica e de quem não deu resposta ao problema da emergência social – de que tanto falei há três anos atrás.

Nós que somos do Porto, não voltaremos a ser enganados por políticos servos de interesses e de figuras públicas sedentas de poder. Nós que somos do Porto, não voltaremos a confiar em quem governou e destruiu a cidade, nem em quem não fez oposição credível. Nós que somos do Porto, não abdicamos dos nossos valores, que incluem o respeito absoluto pela vida humana e compaixão pelo próximo, mas também o zelo pela segurança dos nossos filhos e a proteção da nossa propriedade privada. Os nossos antepassados resistiram a guerras e invasões, por isso também isto passará. Nós somos o Porto e ninguém brinca com a nossa dignidade.

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