Tenho medo dos tutoriais, dos artigos e das dicas intermináveis para os pais a propósito do primeiro dia das aulas. Como se, sem nada disso, eles, só por si, ficassem aquém daquilo que se espera.

E tenho (ainda mais) medo que haja quem lhes diga — como se os pais se tratassem como crianças — que, na véspera do primeiro dia da escola, os seus filhos têm de se deitar a horas. E de acordar calmos, sem gritos e bem dispostos. Havendo quem lhes recomende um sorriso e comentários simpáticos e positivos sobre a escola, os professores e os “coleguinhas”…

É bom que, no primeiro dia das aulas, os pais, com algum comedimento, possam estar na escola! Mas tenho medo de que, a partir daí, eles e ela falem muito pouco. E que isso “estrague” as crianças.

É bom que fervilhemos todos um bocadinho com o nervosismo de um dia tão importante. Por mais que aquela azáfama toda de pessoas possa ser demais. E não dê senão um espacinho para que as crianças olhem umas para as outras, enquanto fintam a vergonha e o embaraço e a curiosidade. E as ganas de correr por ali adiante, sem reservas, enquanto, de mansinho e a medo, se aproximam entre si.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas, a certa altura, já não se entende bem se o primeiro dia de escola será das crianças ou dos pais. Por mais que eles confraternizem. Que se troquem números de telefone. Que se encham de fotografias. E que se tomem como colegas uns dos outros. (E, porque sim, que passem a tratar-se por tu.) E se façam, de pronto, grupos de WhatsApp que passam a ter um tráfego de mensagens digno de uma grande cidade nas horas de ponta.

É bom que se faça do primeiro dia de escola uma espécie de festa. Claro! Desde que as crianças e os professores tenham espaço e privacidade para se aproximarem mais e mais para que tentem conhecer-se. Aquilo que fascina também assusta; sim. Mas o ponto zero do primeiro dia do resto da escola começa quando a mãe abre a sua mão e de dentro dela a mão de uma criança é encaminhada para a de uma pessoa um bocadinho estranha que, a partir dali, faz parte da sua vida. E de quem, sem se saber como, é suposto que se goste. Quanto ao resto, logo se vê.

Por isso, é bom o primeiro dia da escola! Mas se ele for, sobretudo, para as crianças é capaz de ser melhor.