Recentemente, a Executive Digest noticiou que Portugal está a perder estrangeiros devido ao aumento do custo de vida. Lisboa, que era vista como um paraíso para nómadas digitais, enfrenta agora uma crise que afeta tanto os moradores locais como os estrangeiros.

Segundo a publicação, o desequilíbrio entre os salários dos nómadas digitais, que precisam ganhar pelo menos 3.280 euros por mês para se qualificarem para o visto de residência, tem contribuído para a inflação e aumento do custo de vida, criando óbvias tensões com os portugueses cujo salário médio mensal ronda os 1.000 euros.

Portugal é um dos países mais centralistas da Europa, um caso raro onde mais de 40% da população está concentrada em apenas duas áreas metropolitanas. O excesso de pessoas em Lisboa e Porto está a degradar o ecossistema local criando preços insuportáveis, menor segurança pública e evidente perda de qualidade de vida.

Se a situação continuar, o excesso de pessoas nas grandes cidades irá empobrecer o país. Perderemos população qualificada em idade ativa, agudizando o nosso envelhecimento populacional e teremos menos procura turística, prejudicando um dos sectores que mais contribui para o PIB nacional.

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Para reverter esta situação, Portugal precisa de fixar a sua população jovem e qualificada e, ao mesmo tempo, continuar a atrair estrangeiros, de preferência qualificados e em idade ativa. Fixar uns e atrair outros é essencial para inverter o envelhecimento da população e, com as políticas certas, ajudar a combater a desertificação do território.

O novo governo português, nos seus primeiros 100 dias, mostrou competência em várias iniciativas: o avanço do novo aeroporto de Lisboa, sinais claros para a alta velocidade ferroviária, resolução de litígios antigos com classes profissionais preponderantes, redução de listas de espera hospitalares, etc. No entanto, assustaram-me a falta de sinais para a urgente reforma do território.

A desertificação tem consequências gravíssimas para Portugal. O abandono das áreas rurais aprofunda as desigualdades sociais – perpetuando a disparidade de oportunidades em função do local de nascimento – provoca o desaparecimento de serviços essenciais, aumenta a propensão a catástrofes naturais, compromete a produtividade e sustentabilidade do território e agrava o êxodo rural, aumentando a falta de recursos humanos qualificados e sobrecarregando os centros urbanos.

A criação de políticas para ocupar o território desertificado tem de ser um imperativo nacional, que não pode ser adiado nem encarado com resignação.

Existem exemplos bem-sucedidos de reversão de migrações para grandes centros urbanos: França, a Alemanha, o Canadá, a Suécia ou a Finlândia. Países e regiões onde existem casos de sucesso através do reforço de infraestruturas de acesso e telecomunicações em zonas menos povoadas, do desenvolvimento de políticas de descentralização de serviços e empregos públicos ou da criação de incentivos fiscais para revitalizar zonas menos populosas.

É urgente que Portugal siga bons exemplos europeus e crie políticas que transformem o interior do país num espaço atrativo, em que seja bom viver. Os dias de sol e o bom “mood” nacional, fundamentais à fixação e atração de jovens, não têm de se limitar aos maiores centros urbanos.

A criação de condições para a ocupação do território desertificado é factor chave para reduzir desigualdades sociais, aliviar a pressão nos grandes centros urbanos, diminuir o nosso envelhecimento populacional, minorar as catástrofes naturais e assegurar um futuro próspero e equilibrado para o país.

Agir agora, com visão e liderança, é crucial para transformar Portugal.