O turismo em Portugal vivia um momento de explosão aquando do advento da corrente pandemia, no ano de 2020. Fruto do esforço de numerosos(as) empresários(as) e do estímulo das entidades públicas, o ano de 2019 havia registado o maior número de visitantes externos da história do nosso país.

O sol, a praia e o golfe continuavam a ser tão atraentes como nos anos anteriores – mas a oferta turística encontrava-se em fase de diversificação e expansão. A própria sazonalidade, embora mantendo uma importância considerável, estava pouco a pouco a libertar o seu anterior domínio absoluto. Sob o ponto de vista económico, o turismo constituía, na ocasião, parte significativa das exportações do país e até de toda a economia.

A pandemia gerou uma situação diametralmente oposta – com quebras de visitas turísticas durante o ano de 2020, para muitas empresas, superiores a metade. Portugal era, em 2019, um destino seguro. Em 2020, nenhum destino era seguro – com a possível exceção relativa das ilhas atlânticas.

O impacto do turismo não se limita às empresas turísticas – os transportes, o sector têxtil ou a restauração estão entre os sectores afetados indiretamente pelo colapso do turismo. Se o turismo tem um peso desmesurado na economia, tal deve-se à debilidade de muitos outros sectores – o problema não está na parte que funciona, mas sim nas que não funcionam. Se muitos empregos do sector são pouco qualificados, serão provavelmente melhores do que o desemprego.

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Neste momento, prepara-se a época turística principal de 2021. Interessaria dar passos no sentido de uma recuperação, tão rápida quanto possível, da situação prévia à pandemia. Alguns princípios a considerar são apresentados em seguida.

  • Longe dos olhos… longe das reservas. As campanhas, a presença digital, são importantes, uma vez que os nossos parceiros europeus são nossos amigos, mas estão em busca dos mesmos turistas que nós. A concorrência é forte – há muitos empregos em jogo nos nossos parceiros europeus, tal como por cá.
  • É necessário que existam empresas neste sector com qualidade de oferta. O turismo depende mais das estratégias dos empresários do que da intervenção do Estado. Ao Estado compete prestar atenção a este setor da economia, de forma a favorecer a desejada recuperação. A qualidade da oferta é um fator crítico para permitir, seja a fidelização, seja a recomendação.
  • A sustentabilidade ambiental deve ser uma bandeira a apresentar, mas tem obviamente que ser genuína. E, como disse Torga a propósito do Douro (“não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza”), para poder mostrar a natureza, é necessário preservá-la. O ordenamento do território deve contemplar não só, mas também, a vertente da sustentabilidade – não será apenas o betão que irá atrair turistas.
  • A aposta em infraestruturas com impacto turístico pode fazer sentido, em alguns casos, mas de forma equilibrada e sem prejudicar o anteriormente exposto, com atenção especial à ferrovia.
  • Sem confiança não haverá turismo. No contexto da pandemia em curso, a questão sanitária é crucial. A retoma dependerá da conectividade aérea, mas os turistas só irão acorrer se tiverem confiança nas condições locais. No que respeita à campanha de vacinação presentemente em curso, faria sentido rever os critérios, por forma a atribuir prioridade aos profissionais do sector do turismo. Um determinado hotel poderia, por exemplo, ostentar a expressão “fully vaccinated staff” para indicar que todos os profissionais em contacto com os clientes estariam com a vacinação efetuada.
  • Seria importante garantir a possibilidade de entrada no país ou de regresso à origem, independentemente do estado da pandemia, para pessoas com reservas pagas, sendo desejável incluir os países parceiros em acordos deste tipo.

Subscritores do memorando do grupo de reflexão “Dez da Noite” (abril de 2021):

Carlos Abreu Amorim
Filipe Basto
Pedro M. Froufe
Miguel Guimarães
Paulo de Morais
José Pedro L. Nunes
Luís Rocha
Maria de Belém Roseira
Nuno Ferreira da Silva
Orlando Monteiro da Silva
João Almeida e Silva