Uma das consequências da “geringonça” que saiu das eleições de 2015 foi o fim da ideia de que governava o partido com mais votos. Por razões variadas tinha sido esta a tradição até então, mas sem qualquer respaldo constitucional. A partir daí ficou claro que em Portugal, como na maioria dos países democráticos, as eleições legislativas são para eleger deputado. Depois governa o partido que conseguir assegurar apoios suficientes na Assembleia da República.
Isso significa três hipóteses: uma maioria de esquerda liderada pelo PS, um bloco central liderado pelo PS ou pelo PSD, uma maioria de direita liderada pelo PSD. Excepto no caso de um bloco central, é indiferente se o partido com mais votos é o PS ou o PSD, só interessa qual dos blocos tem mais deputados.
Como funciona uma maioria de esquerda sabemos bem: uma economia estagnada, serviços públicos degradados, a carga fiscal mais alta da democracia, uma país empobrecido e um Primeiro-Ministro a vangloriar-se da sua governação.
A segunda opção é o bloco central. Um governo que junte António Costa e Rui Rio com uma super-maioria, muito provavelmente com deputados suficientes para uma revisão constitucional. Um executivo liderado por dois homens que olham para o escrutínio parlamentar com incomodo, que consideram que a comunicação social tem por dever louvar o governo, ambos rodeados de gente pouco recomendável. Resumindo, mais do mesmo, mas com ainda mais poder.
A terceira opção é uma maioria de direita. Um governo liderado pelo PSD com apoio dos restantes partido da direita. O voto útil para quem deseja que o país mude de direcção é nos partidos à direita do PSD, para criar uma maioria capaz de governar, mas também de obrigar Rio a manter-se desse lado da “força”. Na actual conjuntura votar no PSD pode ser votar à esquerda, ao centro ou à direita.
Neste momento temos três partido de direita capaz de eleger deputados: Chega, Iniciativa Liberal e CDS. Votar útil é votar naquele partido que permita uma solução estável de governo e que obrigue o PSD a ser realmente alternativa ao PS.
O Chega já demonstrou não ser capaz de qualquer estabilidade. Com pouco tempo de vida já passou de hiperliberal na economia para estatista. Primeiro afirmava que o Estado não tem nada que prestar serviços, agora está disposto a gastar milhares de milhões na TAP. Em dois anos no Parlamento demonstrou ser incapaz de aprovar uma única proposta. André Ventura tão depressa diz que jamais será muleta do PSD, como afirma querer ser ministro de Rio. Afirma que é a direita anti-sistema, e depois tem candidatos saídos do PS, com passagem pelo Bloco, que acabam a cabeças de lista do Chega. Já todos percebemos que o Chega grita muito e faz pouco. Cada deputado que o tiverem no parlamento, a gritar de forma inconsequente, é menos um deputado para uma maioria estável de direita.
Depois temos a Iniciativa Liberal. Eu percebo o fascínio com a IL: gostam de parecer modernos, cosmopolitas, urbanos. E aqui entra o fascínio português com o “progresso”. De facto pouco mudou nos últimos cento e vinte anos, e se a cultura já não vem de Paris, mas dos países nórdicos ou do Báltico, continua a ficar-nos curta nas mangas. Mas tudo somado, a grande novidade da IL é o seu programa económico. Programa esse que, descontado as atordoadas ideológicas e com o realismo que marca os dirigentes dos liberais, na prática é bastante igual ao do PSD e do CDS: menos impostos, menos escalões no IRS, possibilidade de escolha na saúde e na educação, etc.
O problema, e a razão pela qual a Iniciativa Liberal não é um voto útil para quem quer uma alternativa ao socialismo, é que no seu desejo de não ser confundido com as “cabeças velhas” da direita, a IL limita-se a querer ser um gestor de sucesso. João Cotrim de Figueiredo, mais do que ser Primeiro-Ministro, quer ser o CFO de Portugal. A IL esta disposto a seguir toda a agenda cultural da esquerda, desde que os deixem tomar conta das contas. A liberdade para estes liberais é não haver salário mínimo, de resto o Estado pode continuar a doutrinar crianças nas escolas, a decidir quando um doente pede para morrer, ou que espectáculos culturais podem passar na televisão.
O CDS é o único partido à direita que, para além de permitir uma solução de governo estável e defender uma agenda económica mais livre, defende também uma cultura diferente. Para o CDS a liberdade não se esgota na economia: é também a liberdade dos pais educarem os seus filhos, é a liberdade de recusar ideologias transformadas em dogmas, é a liberdade de gostar ou não de corridas de toiros. Sobretudo o CDS sabe que não há liberdade sem dignidade. Que não há liberdade quando é preciso escolher entre a fome e um salário de miséria, não há liberdade quando a alternativa é entre maus cuidados de saúde e a morte, não há liberdade quando para fugir à miséria é preciso vender o corpo. E defende-o sem qualquer problema de parecer “cabeça velha”, porque não acredita no parolismo de ter que ir importar cultura em caixotes, num país com quase 900 anos de história de abertura ao mundo. Por isso defendo que o CDS é o voto útil.
Consigo imaginar a objecção que quem me lê está neste momento está a pensar: como é que um partido com tão maus resultados nas sondagens pode ser uma alternativa? Não vivo num mundo paralelo e sei bem que as sondagens não são favoráveis ao CDS. Mas a verdade é que, como tantas vezes as empresas de sondagens tem dito nos últimos anos para justificar falhanços consecutivos, as sondagens são instantâneos daquele momento concreto. O que realmente conta são os votos nas urnas e esses estão por lançar.
Graças à “geringonça” hoje é possível votar com clareza. Quem quer uma economia estagnada, com serviços públicos cada vez mais degradados e impostos cada vez mais altos é só votar à esquerda. Quem não quer, mas está disposto a arriscar vote no PSD. Quem só quer protestar tem o Chega. Quem quer um CFO vote na IL. Quem realmente deseja uma mudança para o país, uma economia mais livre, uma política centrada na dignidade Humana, o respeito pela nossa história e cultura, já sabe que tem um voto útil, o CDS.
Jurista