O  Santo Padre realizou há dias uma visita oficial à Bélgica durante a qual fez várias declarações que pareceram passar um pouco despercebidas pelos media no nosso país. Com excepção dos abusos sexuais de menores, tema em que o Papa Francisco voltou a reiterar a posição da Igreja de repulsa e combate a estes horrendos acontecimentos.

Um dos momentos mais altos desta visita foi quando o Papa se deteve perante o túmulo do rei Balduíno, em oração, por breves minutos e no fim, exortou os belgas (mas também o mundo que o ouviu) para se inspirarem nele num momento tão difícil da história da Humanidade em que o aborto é uma das maiores causas de morte a nível mundial e, consequentemente, fez votos para que se continuasse com a causa de beatificação do rei. Nos anos 90, a Bélgica aprovou a lei que despenalizava o aborto, e o rei Balduíno abdicou durante 36 horas do seu trono para não promulgar tal lei. Infelizmente, esta passou e hoje em dia são realizados cerca de 18 mil abortos todos os anos na Bélgica. Ainda assim, a postura recta e de convicção do próprio rei, demonstrou verdadeiramente que a política necessita cada vez mais de pessoas com fé e com princípios.

Para além disto, no retorno da Bélgica para Roma, o Papa Francisco ainda teve oportunidade de, por uma última vez, tocar neste tema e, de maneira, precisa, firme e sem quaisquer rodeios disse aquilo que por vezes algumas pessoas têm medo de dizer: «os médicos que realizam abortos são assassinos!». Tocou neste ponto extremamente sensível, redirecionando o cerne do problema não para as mulheres que, em situação extrema, recorrem ao aborto por considerarem que é a única forma de salvação e por estarem em estados emocionais muito debilitados, mas para os médicos que se aproveitam da situação e que realizam o ato em si, usurpando toda a dignidade do ser humano, quer da mulher que está em situação debilitada, quer do nascituro. Claramente, o juramento que é realizado pelos médicos que advoga pela defesa da vida e da dignidade humana em qualquer circunstância, é esquecido por estes indivíduos.

A OMS estima que todos os anos ocorrem cerca de 73 milhões de abortos por todo o mundo, o que corresponderia a 7x a população portuguesa, sendo que há data em que escrevo isto, são já 34 milhões de abortos realizados, conforme o Worlometer. Os números que nos apresentam são desoladores e levam-nos verdadeiramente a ter que repensar o futuro em que queremos viver, como deverá efectivamente um Estado comportar-se relativamente à vida humana. Temos que focar o debate na criança que está por nascer e criar o máximo de condições para que uma mãe tenho o desejo de manter a gravidez, com saúde e com qualidade. Contudo, aí o problema já seria no setor da saúde e para isso, seriam necessárias mais umas quantas centenas de palavras para apontar aquilo que está errado e que deve ser alterado.

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O Santo Padre não tem visita marcada para Portugal, pelo menos nos próximos tempos. Todavia, como seria a sua reacção ao saber que o aborto no nosso país, só em 2022, foi realizado cerca de 15 mil vezes e que este tornou-se lei através de um referendo nacional? Será que iria dar pulos de alegria por saber que a soberania popular foi consagrada e que o que importa é a opinião da maioria? Não me parece sinceramente, até porque esta não é uma questão de maioria ou minorias: são vidas que estão em jogo, milhares de vidas. Até é um tanto humilhante, um país que no seu Art.1 da CRP proclama abertamente a «defesa da dignidade da pessoa humana», conter uma lei tão moralmente execrável.

Contudo, por mais lamentável que isto possa parecer, como se diz popularmente, «a Esperança é a última a morrer», e portanto, nada disto nos deverá inquietar, sobretudo porque sabíamos que isto mais dia menos dia iria acontecer. Recordemos o evangelista Lucas «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram» (Lc 23: 28-29).

Demos graças ao Senhor!