O ano está a terminar e com ele surgem as inevitáveis mudanças de carreira, associadas à natural ambição humana de crescimento pessoal e profissional.
Todos os anos, por esta altura, o mercado de trabalho entra numa dinâmica acelerada de entradas e saídas de profissionais em diferentes áreas e funções.
Querer ir mais longe é normal, saudável e desejável. Mas sabemos também que as mudanças comportam riscos e medos, tantas vezes suportados por crenças negativas que nos paralisam, e impedem de crescer mesmo sendo capazes de suportar as famosas “dores de crescimento” e sair da zona de conforto.
Duas razões ocorrem para que uma transição de carreira seja tão difícil.
Falta de apoio profissional
Até há bem pouco tempo, os caminhos a seguir em determinadas áreas ou carreiras eram standard (por exemplo, caso quisesse ser advogado, o seu percurso inicia-se na licenciatura em Direito, passando pelo estágio até ser partner numa sociedade de advogados, ou abrir o seu próprio escritório). Conforme a sua escolha, os dias e as etapas da sua carreira irão suceder-se desde o estágio até à reforma.
A sociedade fez-nos querer que estas etapas eram sequenciais e não deviam ser questionadas ou modificadas.
Nos velhos patrões profissionais e societários, as alterações ou divergências eram vistas com elevada desconfiança, e quem tinha a ousadia de agir e pensar fora da caixa era visto com elevada desconfiança, revelando um toque de loucura.
Com o surgimento dos novos paradigmas de carreira, e com a importância cada vez maior das questões relacionadas com o propósito, legado, satisfação pessoal e profissional, as transições e mudanças (mesmo as mais radicais e controversas) tornaram-se cada vez mais comuns e normais (e ainda bem!).
Atualmente começar numa carreira ou área, e, posteriormente, passar para a área do lado, seja esta mudança mais ou menos radical, é uma ação normalizada no mercado de trabalho, cuja avaliação mesmo aos olhos dos recrutadores e patrões gera menor controvérsia.
Perda da identidade profissional
O segundo obstáculo relaciona-se connosco e com a nossa identidade e sentido de pertencimento.
Somos seres sociais e precisamos de pertencer a uma tribo, grupo e organização, e precisamos igualmente que dentro do nosso grupo nos reconheçam e apreciem.
A possibilidade de termos uma carreira apoiada numa organização estável que nos permita ter uma certa previsibilidade dos nossos dias ajuda-nos a gerir a ansiedade e desmotivação e garante-nos uma natural estabilidade.
Por esse motivo, a transição de carreira ao pôr em causa esta estabilidade gera-nos um natural receio, que por vezes nos impede de avançar para metas mais ambiciosas e que nos podem trazer maior satisfação pessoal e profissional mais lá à frente.
Quais as soluções para ultrapassar estes obstáculos?
Normalmente nestes processos de mudança ou transição, o primeiro passo ou remédio que nos dão passa pelo autoconhecimento.
Ainda que o autoconhecimento seja essencial para tudo na vida, na realidade, este modelo tradicional de reflexão sobre quem somos pode ser insuficiente para suportar este tipo de processo, podendo até fomentar um maior estado de ansiedade e indecisão. Maioritariamente apenas conseguimos identificar o que não queremos ou de que não gostamos, mais do que saber para onde vamos no próximo estágio da nossa carreira.
A solução para esta dificuldade parece estar nos modelos iterativos de carreira, ou seja, EXPLORAR e ADAPTAR-se (à boa maneira do mindset AGILE).
Não existem respostas prontas quando falamos em mudar de carreira (vejamos isso, como algo positivo, já que foi esta mesma linearidade que dificultou a vida a milhares de profissionais quando ponderam mudanças).
Para realizar uma transição mais pacífica teremos de ativar as nossas redes de networking, melhorar skils, correr riscos, percorrer processos de entrevistas, testarmo-nos para perceber se vai de encontro às nossas expetativas e, acima de tudo, aprofundar conhecimentos.
O planeamento estrito de todas as etapas pode nem sempre ser possível, nem desejável. Explorar novas ideias e hipóteses de carreira vai ajudá-lo a perceber o que funciona melhor para si e o que deve eliminar.
Acima de tudo, deve aproveitar o “intervalo” e ver este processo com naturalidade.
Começar a percorrer todas estas etapas é um processo natural, com todas as dúvidas e questões que são inerentes, e que leva tempo.
Abraçar o processo de indefinição é uma estratégia válida nos processos de mudança e transição de carreira.
Permita-se ir abandonando o seu antigo “EU” para redescobrir todos os dias um novo mais alinhado com as suas novas habilidades, valores e propósito.