Muitos fazem as coisas normais para resolver os seus problemas, ao mesmo tempo que as estendem às populações pobres da zona. Estou a pensar nas necessidades de água corrente e potável, algumas pequenas infra-estruturas por onde circular para ir às compras necessárias para a Família, levar as crianças à Escola todos os dias, completando com outras soluções também importantes como zonas desportivas para os jovens, aprendizagem do canto e música, de alguma arte, para a qual a gente nova tem propensão.

Era esperado avançar-se com respostas a alguns assuntos básicos, com o apoio de instituições com dinheiro, criadas para esses fins, como é exemplo o Banco Mundial. Porém, com frequência, os fins próprios de uma grande organização são preteridos por interesses particulares.

As grandes obras como barragens necessitam de um conjunto de estruturas de canalização, para que a água seja levada para as terras agrícolas do maior número de pessoas pobres, para que possam trabalhar e tirar da terra e dos recursos postos ao dispor, os meios de sua subsistência e da sua família.

Tenho visto e escrito “casos” de estudo de um grande número de pessoas singulares que se dão conta das carências básicas não satisfeitas e se lançam a empreender. Encontramos, em todas as partes do mundo, iniciativas de pessoas de elevada sensibilidade que começaram a atuar e que foram avançando e crescendo até impactar milhões de indivíduos.

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Lembro-me do famoso Aravind Eye Care System, em que o Dr. V, oftalmologista e cirurgião, começou a cuidar da visão e ajudar as pessoas sem meios a que pudessem ter acesso às cirurgias das cataratas devolvendo-lhes a visão e tornando-as aptas a trabalhar. De uma clínica com 11 camas, hoje cresceu para 14 grandes hospitais, onde apenas 40% dos utentes pagam a sua conta e os restantes 60%, por serem pobres, podem dispensar o pagamento, recebendo os mesmos tipos de atenção médica, da melhor qualidade. Desta forma:

  • Hospitais Terciários.  ………………..……7
  • Hospitais Secundários……………….……7
  • Clínicas de Olhos, Comunitárias ……… 6
  • Centros de Visão                ………..   …107

O número de pacientes cuidados nesse ano foi de:

  • Total de Pacientes Examinados   ……………..5,76 Milhões
  • Cirurgias, Laser e outros procedimentos…704,378 Milhões
  • Óculos dispensados…………………………..…827,729 Milhões
  • 50% dos procedimentos são gratuitos ou altamente subvencionados.

O Grameen Bank, conhecido por Banco dos Pobres, fez muito sucesso e teve impacte junto dessas populações. Ele nasceu em Dhaka, pela mão do Prof. Muhammad Yunus, hoje Presidente interino do Bangladesh. Ele presenciava no seu caminho para a Universidade, centenas de pessoas carenciadas que iam tendo uma morte lenta dia-a-dia, por não terem com que se alimentar. A par das aulas de Economia tentou fazer algo pelos que morriam e fez um levantamento das 42 pessoas/famílias, que precisavam de $27 dólares para comprar as matérias-primas e depois elaborar e vender, ganhando algo para a sua própria subsistência.

De facto, era muito pouco dinheiro para tanta gente. E, paradoxalmente, os bancos não emprestavam a quem precisava. Ficava-lhes a solução de ir aos usurários que o faziam a troco de altos juros, não deixando nada a quem trabalhava.

Foi difícil para Yunus convencer os banqueiros de que ficaria como fiador dos empréstimos feitos, no caso de haver alguma falha na devolução. Eles aceitavam a solução enquanto o fiador estava próximo, mas nunca poderia ser uma solução autónoma.

Ao não encontrar compreensão dos bancos, Yunus criou o Grameen Bank, tendo podido ajudar com micro-empréstimos a milhões de pessoas pobres, desejosas de trabalhar. Elas sabiam o que produzir, onde vender e a quem. Só faltava o insignificante dinheiro.

Com a experiência que foi adquirindo, Yunus fez algumas afirmações rotundas, para convencer a Banca Comercial de um conjunto de verdades que não eram nada claras para eles.

Emprestar a pobres é um negócio rentável, mesmo quantias mínimas. As pessoas pobres são muito responsáveis face aos compromissos assumidos. Apesar de serem quantias muito pequenas, havia muita gente pobre a quem emprestar. Mesmo que o lucro por cada empréstimo fosse insignificante, ao ser elevado o número de empréstimos, será possível ter benefícios compensadores para continuar a investir e a cobrir os custos de funcionamento do sistema.

O Grameen Bank dependia dos Bancos Comerciais para conseguir o capital para emprestar. Poderia ter recorrido ao Banco Mundial, mas não o fez, porque os objectivos eram diferentes. O Banco Mundial faz grandes empréstimos e o Grameen faz micro-empréstimos a pessoas sem recursos.

Com o Grameen a funcionar ficou bem claro que a ideia do microcrédito era de grande valor e, por isso, ela se difundiu em muitos países. Nunca Yunus perguntou em que queria investir o microcrédito. O pobre é que sabe onde investir e produzir para vender a seguir, recebendo o valor necessário para repor o empréstimo e ter com que alimentar a família. Foi o Grameen que deixou claro que queria apostar nos empréstimos a mulheres empreendedoras, pois elas compreendiam as necessidades da família e quase nunca falhavam aos compromissos assumidos.

Verificou que os que viviam abaixo da linha de pobreza levavam em média 8 anos a ultrapassá-la, mesmo com microcréditos. Daí que tenha tido várias iniciativas paralelas, como de empresas de telecomunicações móveis, em que muitas pessoas punham ao dispor dos outros o seu telemóvel, comprado com crédito, e os tempos de comunicação, como a prestação de um serviço.

Criou também outras empresas de comercialização de produtos artesanais na Europa e nos Estados Unidos. Entende-se que os produtos artesanais não são valorizados nas zonas próximas onde são produzidos, pois a pobreza é geral. Compensa muito exportá-los para onde são apreciados e vendidos a bom preço.

Nesta linha de ideias, o Prof. C. K. Prahalad, de origem indiana e consultor de muitas Multinacionais, afirmava com a sua experiência e com o estudo de variadas situações, o que diz a sua obra The Fortune at the Bottom of the pyramid. Este título é sugestivo na Índia por ter aplicações em vários setores, sempre com grande êxito e numa perspectiva de chegar a toda a gente necessitada de um certo tipo de serviços e produtos. Bons exemplos disso são o sistema de telecomunicações indiano e toda a indústria farmacêutica, com grande sucesso na Índia e em todos os mercados de exportação, ricos e pobres.