“E a maioria crianças”, dizia em Fátima o Bispo Ornelas, com o ar sacerdotal de quem concede aos fiéis a Verdade Revelada, a propósito das vítimas da guerra entre Israel e o Hamas.
Na melhor das hipóteses, o Bispo Ornelas mentiu por ignorância, já que os números que refere são do grupo terrorista Hamas, ao passo que até a suspeita e parcialíssima ONU calculou, em 08 de Maio, que 40 % das baixas árabes são homens em idade militar, isto apesar de estes se esconderem deliberadamente em túneis, e instalações civis
Na pior das hipóteses, o Bispo Ornelas não é ignorante, mas um intrépido antissionista progressista, ou seja, um revivalismo recauchutado do clássico antissemita, daqueles que acham que os judeus mataram Jesus que, para os efeitos tidos como convenientes, passa a ser palestiniano. Claro que a coisa podia ser posta ao contrário, já que, pela mesma bitola romana, foram os palestinianos que mataram o judeu Jesus, mas o Bispo Ornelas não atende a esses pormenores.
Para esta espécie antiga, que recentemente espreita de novo à superfície, os sionistas continuam inexplicavelmente a bombardear os civis inocentes de Gaza, e tudo isso vemos em directo, pela televisão das “autoridades de Gaza”, ou seja o Hamas, com os corpos a serem levados pelas ruas, em direcção às câmaras, (obviamente, sempre mulheres e crianças, por vezes as mesmas) em procissões de gente zangada, que gesticula, esbraceja e berra muito, especialmente quando as câmaras estão a filmar. São 35 000, a maioria crianças” dizem as televisões, citando fielmente as credíveis “autoridades de Gaza”.
Para os indignados antissionistas, que se manifestam aos pinotes nas universidades ocidentais, na guerra justa contra os judeus, tudo se aproveita, incluindo a morte, coreografada ao estilo de Pallywood.
O “genocídio”, o “holocausto” dos civis inocentes, é tudo o que há a saber do conflito, mas nestes civis inocentes não se incluem aqueles milhares, árabes e judeus, que perderam a vida em ataques e truques do Hamas.
E isso permite-lhes verbalizar sem pudor, sem freio, com virtude e orgulho, o ódio ao judeu.
É às “autoridades de Gaza”, esses beneméritos das intifadas, que há que agradecer a oportunidade de tantas criaturas poderem novamente dar voz ao ódio milenar que os queima por dentro, e, além disso, passarem por boas pessoas, porta-vozes dos oprimidos, que lutam pelo bem, e pela paz, contra os opressores judeus e isso.
Não precisam de saber mais para ser progressistas e sinalizar a sua virtude, até porque se souberem mais, é provável que as coisas deixem de lhes parecer tão simples e, quiçá, hesitem antes de expressar a forte indignação. Pode até dar-se o caso de que se vejam perante o perigoso impulso de estudar o assunto com mais profundidade.
Assim, abençoados pela pobreza de espírito, o que sabem sobre a Palestina basta-lhes, veio do Tik Tok, dos sites das “autoridades de Gaza” e das fontes progressistas, de total confiança, porque partilham da mesma profundidade da espuma.
São pessoas que, nestas épocas de catarse, se sentem também felizes por dizerem e escreverem o que lhes vai mesmo no negrume da alma, como aquela estudante americana que se dizia injustiçada por não poder expressar livremente o seu profundo sentimento anti-judeu (sic) coisa que, como sabemos, não acontecia sequer na Alemanha, pelas décadas de 30 e 40 do século passado.
Estes modernos antissionistas reivindicam o direito de vilificar os judeus, de preconizar o que Israel pode ou não pode fazer, com ar grave, intolerante e indignado, brandindo cartazes e bandeiras palestinianas, e envergando o keffiyeh aos quadradinhos, copiado do terrorista, perdão, resistente, egípcio, Yasser Arafat, tão fashion como as camisas do Che, ele mesmo responsável pelo fuzilamento de centenas de homens.
Com o indómito keffiyeh ao pescoço, ou pintado nas unhas, sentem-se lutadores da causa, gente boa, gente de “bem”, gente que tem razão, que está do lado certo, que luta pela justiça e pela paz, e que resolve milhares de anos de História com umas boutades no Eurofestival, umas tendas junto da Faculdade, e um cartaz de “Palestina livre, do rio ao mar”.
Que rio? Que mar?
Não sabem, nem lhes interessa.
O que gostam é de denunciar vigorosamente as acções “desproporcionadas” sionistas, que para eles surgem no vazio, numa realidade virtual em que não houve ataques, ataques, assassínios, mísseis e sequestros de israelitas.
E têm a certeza de que qualquer resposta israelita a um ataque, por mais judeus que mate ou tente matar é, por natureza, desproporcionada e “genocídio”.
Os judeus, esses só podem reagir mostrando a língua, desde que não seja desproporcionada.
É muito difícil para estes progressistas antissionistas europeus e americanos, perceber porque razão isto é assim há dezenas de anos, apesar de ser claro para eles que o problema é a “ocupação”.
Gaza não estava ocupada? Ora isso é provavelmente propaganda sionista, porque toda a gente sabe que a resistência luta contra a ocupação.
E sendo assim, por que razão Israel bombardeia os palestinianos? Por que não se faz a paz? Por que razão não há um cessar-fogo? (A propósito, a 6 de Outubro de 2023, havia um cessar-fogo em vigor).
Esta “causa justa” contra o alegado “ocupante” improváveis companheiros de estrada, como a esquerda progressista, os talibans islamistas e os neonazis, num propósito comum: a caça ao judeu!
Outras lutas, outras “causas”, os massacres no Sudão, na Ucrânia, no Tibete, na Síria, no Curdistão, no Paquistão, no Afeganistão, não congregam estas criaturas, não as tiram de casa, não as empurram para os pinotes da indignação e das lutas pelas “causas”. Falta-lhes o ingrediente principal, falta-lhes o judeu!
E é tão libertador para eles poderem verbalizar todo aquele ódio reprimido contra os poderosos judeus, que, nos seus delírios, controlam o mundo, fazem genocídios desproporcionados, bebem o sangue de civis inocentes, e outras indizíveis maldades, mas não conseguem sequer controlar o exíguo pedaço de areia onde vivem, um território do tamanho do Alentejo.
Que lhes interessa saber de milhares de anos de história? Não querem saber disso para nada, o sofrimento dos judeus nada lhes diz, alguns acreditam até que merecem o que lhes acontece.
Muito menos lhes interessa saber que a ONU reconheceu Israel e um estado árabe na região da Palestina, os judeus aceitaram e os árabes não, atacando imediatamente os judeus. Não uma, mas repetidas vezes!
Tampouco lhes interessa saber que Gaza, Judeia e Samaria estiveram 20 anos sob as soberanias egípcia e jordana, não se tendo formado aí nenhum estado palestiniano. E que, pelo contrário, esses territórios foram usados para atacar militarmente Israel.
Saber isso, seria complicar demais.
Preferem pois ouvir o Tik Tok, activistas do ódio e patéticos cantores progressistas, que ignoram orgulhosamente a história e a geopolítica, mas estão cheios de certezas sobre a “ocupação” e os malvados judeus.
No fundo é tudo muito simples: os opressores são os judeus e os oprimidos, os bons, são as “autoridades de Gaza”.
Mesmo que estes tenham como objectivo aniquilar Israel e liquidar judeus. Mesmo que lancem milhares de mísseis a partir de infantários, hospitais, casas e escolas, sobre povoações israelitas. Mesmo que se façam explodir em autocarros civis israelitas. Mesmo que matem atletas judeus em Jogos Olímpicos. Mesmo que matem deliberadamente crianças à facada e à queima-roupa, violem raparigas e mulheres, decapitem homens à sacholada e sequestrem bebés e idosos. Mesmo que utilizem a própria população para se esconderem atrás dela e lhe roubem a comida, os medicamentos a paz, o futuro e a vida.
No fundo, é bom, para estes activistas do “bem”, serem ignorantes e poderem, do alto dessa ignorância, sinalizar virtude, denunciar os judeus, berrar “genocídio”, lamentar os pobres palestinianos apesar de terem elegido as “autoridades de Gaza”, derramarem lágrimas de crocodilo por eles e fazerem manifestações com as indumentárias da moda, e o cachecol aos quadrados ao pescoço, é tão trending, e as unhas, ui as unhas pintadas assim, é um must revolucionário chic.
Cessar-fogo já, façamos de conta que em 8 de Outubro nada aconteceu, salvemos as “autoridades de Gaza”, “Palestine free, from the river to the sea” e essas coisas.
Para estas criaturas, Israel tem todo o direito de se defender, desde que não se defenda.
Milhares de mísseis sobre as povoações israelitas, bombas, massacres, violações e sequestros, são apenas resistência à ocupação e não justificam, de maneira nenhuma, que os judeus se atrevam a defender-se.
Isso é, bradam, genocídio desproporcionado!
A solução é óbvia para estes exemplares: Israel deve ceder, deve aceitar as exigências das “autoridades de Gaza” .E como estes querem destruir a “entidade sionista” e usam bombas para isso, os judeus têm de se sentar à mesa, perceber a justa luta dos oprimidos e negociar o modo como isso será feito, nada mais. Se os árabes dizem que a terra é deles, os judeus só tem de esquecer que já lá estavam há milhares de anos, centenas, dezenas de anos e entregar a terra às “autoridades de Gaza”.
Todos os antissionistas progressistas sabem, e juram, e cantam, que a violência não resolve nada, especialmente a israelita. Já a deles, em roda livre nos campus universitários, e a das “autoridades de Gaza”, sobre os judeus, essas sim, resolvem, são justas e importa salvar as “autoridades de Gaza”, exigindo um cessar-fogo que os deixe ficar com os reféns e com a capacidade de continuarem a fazer o que fazem há dezenas de anos: matar judeus!
António Guterres pede isso todos os dias, os aiatolas também, o sultão turco bate palmas e os activistas das causas, e cantores do Eurofestival, como “nossa” Iolanda, e a tresloucada irlandesa, reforçam, virtuosos e ignorantes como abóboras, nos seus ridículos atavios árabes e manicures progressistas.
Já as cançonetas, valha-nos Deus!