A prática de exercício físico foi fortemente afetada pelo confinamento associado à Covid-19. Para os atletas de competição e para todos aqueles que praticam desporto de uma forma regular, o dever de permanência no domicílio afectou significativamente o nível de actividade desenvolvida. A paragem na actividade física regular tem efeitos fisiológicos conhecidos logo nas primeiras semanas sobre o sistema cardiovascular, com a diminuição da capacidade aeróbica, mas também sobre o sistema musculoesquelético, com diminuição da força muscular e flexibilidade, entre outros.

Estes efeitos fisiológicos podem favorecer o aparecimento de lesões na fase de retoma, pelo que estar atento ao seu aparecimento é determinante para uma prática saudável, assim como procurar aconselhamento médico atempado para evitar complicações.

São várias as lesões do aparelho musculoesquelético, que podem ser classificadas como macrotraumáticas – resultantes de agressão capaz de causar lesão muscular, óssea ou articular – ou microtraumáticas, também conhecidas por lesões de sobrecarga, resultantes de pequenos traumatismos de repetição.

Existem factores de risco intrínsecos, como a idade, o género, o estado de saúde, as anomalias anatómicas, a condição física, a composição corporal, a destreza motora, alguma história de lesão anterior, entre outros, assim como factores extrínsecos, como o tipo e o local de treino, o equipamento desportivo, as condições atmosféricas e os maus hábitos de vida, entre outros.

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Existem lesões mais frequentes associadas a determinadas modalidades. A título de exemplo, no futebol prevalecem as lesões musculares da coxa, a entorse do tornozelo e do joelho, enquanto no atletismo predominam as lesões de sobrecarga como a tendinite no joelho e no pé, a fascite plantar (lesão no calcanhar) – e ainda lesões musculares, afectando sobretudo os músculos da coxa. Já no ciclismo predominam as lesões em torno do joelho e musculares da coxa, assim como do antebraço e cotovelo, dores na zona lombar e cervical e ainda as lesões resultantes de quedas (sobretudo punho e ombro). No ténis e paddle destacam-se as lesões do ombro, inflamação dos tendões na zona do cotovelo, as entorses do tornozelo e joelho e as lesões musculares da perna. No golfe, registam-se, sobretudo, lesões articulares do ombro, cotovelo, punho e joelho, assim como da coluna lombar.

E como são diagnosticadas e tratadas as lesões desportivas? Se as lesões macrotraumáticas são facilmente diagnosticáveis, as microtraumáticas sofrem por vezes atrasos de diagnóstico que potencialmente prejudicam o tratamento e o retorno ao treino. Nestas, “escutar o corpo” é fundamental, valorizando os sintomas de forma racional e procurando ajuda especializada. São sinais de inflamação e de alarme clássicos: dor, calor, rubor e edema ou derrame.

Actuar de forma a controlar precocemente o processo inflamatório passa por parar a actividade, colocar gelo, fazer contenção elástica, elevar e descarregar o membro. A procura de profissionais especializados em medicina e traumatologia desportiva permitirá um diagnóstico e tratamento mais rápido e eficaz. O diagnóstico pode passar pela realização de exames complementares como Raio-X, Ecografia, TC ou Ressonância Magnética.

Enquanto o tratamento da maioria das lesões microtraumáticas é conservador, já as macrotraumáticas têm, por vezes, indicação para tratamento cirúrgico. Para um resultado final optimizado, o diagnóstico precoce e tratamento adequado são determinantes para diminuir o tempo de paragem e a ocorrência de recidivas. Neste âmbito, o respeito pelos tempos de recuperação e uma reintegração progressiva no treino ou competição são fundamentais.

Deixo cinco conselhos essenciais para quem vai recomeçar a prática de exercício após este período prolongado de confinamento:

  • Faça um check-up desportivo antes de começar a praticar qualquer modalidade;
  • Se não pratica desporto há algum tempo, recomece de forma gradual, aumentando progressivamente a intensidade e a duração do treino;
  • Antes de praticar exercício físico faça sempre um aquecimento de cerca de 10 minutos;
  • O calçado deve ser sempre adequado à modalidade desportiva que vai praticar;
  • Se sentir dor, interrompa o treino e procure ajuda médica especializada.

E não se esqueça: quando existir suspeita de uma lesão, não devemos hesitar em procurar ajuda especializada. As unidades de saúde desenvolveram protocolos e circuitos de segurança para doentes e profissionais que nos permitem responder às suas necessidades em total segurança. Pratique desporto, mas sempre com saúde.