“Quando não se sabe para onde ir, qualquer caminho serve”, (Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”).
Já aqui escrevi várias vezes sobre o tema: após a ciência nos dar a conhecer as Alterações Climáticas a sociedade quer fazer algo a respeito pedindo aos governos políticas nesse sentido – a Ação Climática visando a descarbonização. E no que escrevi (por exemplo aqui) destaquei a importância de debater os caminhos a seguir porque toda a ação tem implicações económicas, logo afetando a vida dos cidadãos, e porque economia e política são escolhas entre caminhos, cada um dos quais com sinuosas curvas e pedras no caminho.
Todavia, o debate público sobre o assunto está demasiado extremado, dividido entre barricadas: de um lado os que não acreditam em nada disto e se recusam a apoiar qualquer coisa que seja só ao ouvirem a palavra “clima”, e do outro os que acham que tudo o que se faça nesse sentido é positivo sem olhar a consequências na escolha dos caminhos escolhidos e que qualquer aspeto que se pretenda aclarar sobre uma qualquer medida só pode ser uma demonstração de negacionismo.
É assim que se aceitam medidas não pensadas, seja a universidade de Coimbra proibir o consumo de carne de vaca (E quem delas vive? Não discutimos o despovoamento do meio rural? E o vasto leque de produtos que nos dão? Não pretendemos reduzir plásticos por exemplo? E as vantagens delas em pastoreio extensivo para a biodiversidade e o risco de incêndio? E a saúde humana, já que é a própria ONU a defender dietas mistas como mais saudáveis e mais ecológicas? Etc.), seja o arranque de Montados para instalação de parques solares (Novamente e a biodiversidade? E a saúde dos Ecossistemas? E o papel das florestas enquanto sumidouro de carbono?), seja a subsidiação de carros elétricos (E quem tem pouco dinheiro para carros novos? E quem não mora numa vivenda para o poder carregar em casa? E a mineração de Lítio com impacto nas paisagens ou, pior, nos países africanos com crianças escravizadas?)… Nunca mais saía daqui com exemplos, ainda ontem a Helena Matos falava aqui sobre os voos curtos entre as altas esferas da União Europeia… Nada disto bate a bota com a perdigota!
Pois é, a verdade é que nada disto é simples e as escolhas não podem ser impensadas, não discutidas, feitas em cima do joelho só porque sim, só porque são supostamente feitas no caminho correto sem olhar às pedras desse caminho – isto é, sem olhar a custos ou a consequências nefastas que qualquer opção acarreta… estes devem ser sim pesados para medida a medida se avaliar se a escolha compensa.
Até lá? Temos joias da descarbonização, como as duas que a seguir vos trago para questionar se já nelas pensaram:
– foi o PCP a levantar a questão: então não é que os barcos da Transtejo, elétricos, estão a ser carregados com geradores a gasóleo? Temos aliás visto isto em situações semelhantes: ainda o outro dia a Volvo na apresentação de um veículo elétrico, lá tinha o gerador a gasóleo… Enfim, pesou-se o custo dos barcos? O custo das baterias (parece que no tempo de vida do barco têm que ser substituídas duas vezes)? O custo r“eputacional de usar geradores a gasóleo? Etc., etc.? Não, não se pensou em mais nada que no anúncio de que se faz qualquer coisa…
– e esta: trabalho numa freguesia de Lisboa (São Vicente) com problemas em lidar com as ervas nos passeios, problema comum a toda a cidade de Lisboa e bem a todas as cidades da Europa com as restrições à aplicação de herbicidas em espaço urbano. A razão prendia-se com a OMS classificar o glifosato como potencialmente cancerígeno. A resposta foi a do costume: proibir. E as consequências dessa proibição, foram pensadas? Alguém pensou que comer Chouriço tem pior classificação pela OMS que o herbicida? Alguém pensou nos custos para os serviços autárquicos (20 a 30 vezes superiores)? Nas dificuldades e impactos (diz o meu amigo e conhecido agrónomo Carlos Aguiar que o meio rural acorda atualmente ao som de motorroçadoras… pois a cidade também…)? No que respeita à descarbonização, já se avaliou o impacto de milhares e milhares de motores a queimar dia sim dia sim gasolina e a emitir CO2 para a atmosfera?
Enquanto não exigirmos ponderação e debate nestas escolhas de caminhos a seguir, o que continuaremos a ter são – ainda por cima caros – tiros nos pés para nos dificultarem a caminhada. Qualquer caminho serve? Então como dizia o Gato de Cheshire, não vamos a lado nenhum assim…