O que é que querem da vida? Quem é que vêem junto de si? Como é que imaginam lá chegar? Com quem é que pensam consegui-lo?
Será crise de meia idade querer-se ser jovem para sempre? E, se for, é mau que seja assim?
“Que sentido é que tem a minha vida?!…” É deste modo que ninguém começa. Reconhecem, antes, que procuram equilíbrio. Que entre compromissos, filhos e trabalho sentem que há agendas para tudo menos para si mesmos. Que, se não tivessem filhos, seriam, seguramente, nómadas digitais. Que aspiram a viagens, longas e solitárias, que lhes tragam o reencontro consigo mesmos e a paz que não têm. Que esgravatam, sem critério, em livros de autoajuda, em retiros ou em seminários, com os gurus internacionais do momento, à procura de soluções óbvias, fáceis e inspiradoras para mudarem quase tudo sem que mexam em quase nada. Que planeiam uma peregrinação, um novo desporto, uma maratona ou um desafio inovador para encontrarem as provas de superação de que são capazes. Ou que fantasiam, um dia, largar tudo e abrir um bar de praia, algures, nas Caraíbas. No final, se bem que nunca comecem por aí, perguntam-se, nas entrelinhas: “que sentido tem a minha vida?!…”. Que é uma forma de reconhecerem que não se reconhecem nela. Que não vislumbram nela a sua cara. Que não mandam nela. Que não é uma vida tão boa assim. Nem é muito bonita. Ou que não são tão felizes com ela como desejam ser.
“Para que é que serve a minha vida?” pode parecer mais um sacrilégio do que uma pergunta que se faça. Mas é legítimo que ela se vinque. Porque há-de perdurar a resignação silenciosa de que se trabalha e trabalha e trabalha só para pagar contas e saldar impostos? Ou, considerando os compromissos que se acumulam, porque haverá a vida de os ter transformado em pequenos hamsters que não param de correr sem que nunca saiam do mesmo lugar? Ou, apesar de terem uma família e um casamento, porque há-de um grande amor estar para a sua vida como as miragens para o deserto?
Os homens de 40 anos não são adolescentes fora de tempo. É verdade que aligeiram o visual e trocam o formal pelo casual. De preferência, de marca. E que tão depressa são despachados e empreendedores com, a seguir, pecam pela forma envergonhada como se pensam, se viram do avesso e se põem a crescer. Mas, no final de contas, desejam uma vida inspiradora. Uma vida que amem. E que os leve a sentirem-se em paz. Que, ressalve-se, não é a aspiração a uma vida à margem dos conflitos. Mas um sentido para a vida. Que faça de cada conflito uma nova oportunidade para serem mais felizes.
Os homens de 40 anos – depois de se ter uma casa, uma família, uma carreira e um carro topo de gama – não são o protótipo de quem procura uma namorada 10 anos mais nova para se afirmar, vitoriosamente, sobre a modorra que sentiam no lugar da sua vida. Mas será pecado que aspirem a um sentido para a vida?… Pecado é – isso, sim – que o façam no pretérito. Cheios de “Eu gostava”. Ou “Se eu pudesse”. Porque o pretérito é mais um vislumbre de desistência do que uma prova de vida.
Onde a psicologia entra – e o aconselhamento, a autoajuda e o coaching não chegam — é que termos quem contribua para fazermos as sínteses a que não chegamos, no meio de tudo o que parece emaranhado e sem muito sentido na vida, nos ajuda a definir problemas. Contribui para nos conhecermos. E desata os nós com que nos transformamos. É verdade que há uma publicidade enganosa nessas “soluções light” da transformação humana que condiciona milhões de pessoas. Porque havemos nós de olhar para o passado e de o esmiuçarmos se o que interessa é resolver o presente e projectar o futuro? A “fórmula simplista” é mais ou menos colocada desta forma. Mas olharmos para o passado não significa ficarmos atolados num lodo de traumatismos. Antes serve para discernir o bom e o mau com que nos fizemos. E percebermos que muitos dos impasses que vivemos, ao dia de hoje, se relacionam com experiências, imagens e exemplos que, de nunca terem sido mexidos, se parecem com “defeitos de fabrico”. E que roubam sentido à vida.
É mau que os homens de 40 anos procurem um sentido para a vida? Não! Mas a superação e a inspiração que procuram está, bem no meio das coisas emaranhadas, dentro deles. E “A pessoa” que mais os poderá ajudar poderá, até, estar ao pé de si. (Que não será “só” alguém que se anule para que eles não deixem de se imaginar guerreiros. Que não será “só” a mãe dos filhos e uma espécie de “mãezinha” para eles. Ou não será “só” amável e amante.) Mas que veja na procura do sentido da vida uma equação com a qual um e outro se sintam comprometidos. A partir da qual se isolem problemas e se façam escolhas. Em que se aceite o erro e a falha mas de que não se fuja nem da determinação nem da humildade. E que, no final de tudo, que os leve a aceitar, com ganas de viver, os 40 como o fim da adolescência. E o princípio de uma vida vivida com impressão digital. De forma intensa. Cheia mas serena. Assim não se fuja, nunca, do sentido da vida.
Será crise de meia idade querer-se ser jovem para sempre? E, se for, é mau que seja assim?