O desporto é para todos. Esta é uma afirmação verdadeira e deve ser um propósito de qualquer governo. Um povo com hábitos desportivos é um povo mais saudável, com melhores índices de felicidade, de produtividade, criando menos pressão no SNS, etc., etc. Além disso o desporto carrega consigo civilidade.
Alta competição é outra coisa. Tem como base uma modalidade desportiva, mas não é desporto. Posso jogar ténis todas as semanas. Só me faz bem. Se fosse tenista de alta competição, o prazer do jogo, as bem feitorias à saúde, etc, etc ficavam para 2º plano. Os resultados é que contam.
As nações, usam a alta competição para promoção dos seus regimes políticos, das suas sociedades. Comecei a seguir com atenção os JO em 1976, quando um finlandês aldrabão ganhou ao nosso Carlos Lopes. Na altura a RDA, através de um programa de doping estatal, criou a fama de ser um país de supermulheres. Os jogos de 1976 terão sido o turning point entre desporto e alta competição. Até essa data, os desportistas passavam semanas na aldeia olímpica, namoravam, divertiam-se. Agora, vão na véspera da sua prova e regressam no dia seguinte. É a alta competição: resultado, resultado, resultado.
Em Portugal, fruto da canga socialista, não se faz a separação entre as duas realidades – desporto vs alta competição – pois existe uma aversão a apostar em resultados, em vencedores, em detrimento de quem não tem hipóteses de vencer nuns jogos olímpicos, p.ex.
Queremos dar a todos as condições que, em Portugal, são escassas e, portanto, deviam ser dadas apenas a quem tem hipóteses de vencer.
É assim tão difícil de perceber que não somos uma grande potência – em nada – e que não podemos ir a jogo a todas?! No fundo é fazer na alta competição, aquilo que se pretendeu fazer na economia (também falhado devido ao nosso socialismo) através da criação de clusters.
É claro que, de tempos a tempos, aparecem uns epifenómenos que merecem ser apoiados. P.ex., Diogo Ribeiro pode ser uma dessas situações (é de dar, face à sua juventude, um desconto às suas tão portuguesinhas, tão futebolísticas, declarações de que a comida era má e o colchão duro – não era para todos?).
Assim e excluindo situações extraordinárias, para quê apostar em disciplinas onde a genética é factor primordial? Não somos um povo alto. Não conseguiremos ter atletas muito altos em tal número, na base, para que apareçam vencedores, no topo. A velocidade é outra situação similar. As pessoas de origem africana foram abençoadas com a capacidade de serem mais rápidas. Para quê apostar numa velocidade portuguesa que nunca passará da mediania?
A alta competição vive de resultados e não é por se colocar umas verbas nos orçamentos, que os ditos vão aparecer.
Reafirmo: Desporto para todos? Sim. Alta competição para todos? Não.
Cabe aqui recordar – com muita saudade e pena – o desaparecimento da escola portuguesa de meio-fundo e fundo, que tantas alegrias (resultados) deu a Portugal. Nesse caso parece que o epifenómeno se chamava Mário Moniz Pereira…
Relembro esta nossa, desaparecida, escola, para salientar as escolas que, em outros países, se mantêm: Finlândia e Grécia no dardo, Jamaica na velocidade, Etiópia no fundo, etc, etc. Não se vêm estes países a ir a todas, pois não?
Onde pode – e deve – Portugal apostar: Futebol, Vela, Canoagem, Rugby de 7, Triplo salto (uma boa escola que tem conquistado o seu espaço), o Judo, o ciclismo e, se ainda for possível recuperar, o meio-fundo e fundo. A estas apostas – ou outras, já que estas são sugestões – deverão ser dadas as melhores condições, mesmo que em detrimento de terceiros.
Depois, perante um plano a 2 ciclos olímpicos afirmar: em 2032 iremos competir por medalhas nestas modalidades. Infelizmente para se poder fazer uma afirmação destas é preciso ter coragem, que é qualidade que não abunda. É mais fácil dar uns trocos a muita gente e depois, ficar contente porque se conseguiu chegar a uma meia-final…