Inicio com uma explicação: este texto era para ser intitulado de idiotas úteis. No entanto e porque tenho alguns bons amigos a quem se podia colar o epíteto, alterei o mesmo.

Quem são, portanto, estes amigos – que respeito – a quem escrevo? São todos aqueles que sendo de direita (+/- liberal) estão cansados da corrupção, da verdadeira vergonha nacional que são, e têm sido, os governos do PS bem como das alucinações hipócritas do Bloco.

Este povo de direita entende que é necessário votar no Chega para assustar os interesses instalados do PSD/CDS e, com esse voto, colocar “na ordem” esses partidos, obrigando-os a uma governação mais à direita, que corte a eito, que “limpe a casa”.

Dito assim, faz sentido. O Votómetro do Observador deu-me 82% de votante no Chega (julgo que porque o CDS não existia como resultado das minhas escolhas, uma vez que integra a AD) talvez porque, entre outras razões, se tenha a ideia que o Chega é defensor do NÃO ao aborto (o que não é verdade, uma vez que no seu programa não está prevista a revogação dessa Lei) e porque nas questões do Votómetro não existia uma pergunta relativa às preocupações que eu possa ter com essa chaga portuguesa que é o sexo com animais.

Assim e apesar do resultado que me foi dado nesse inquérito, não irei votar Chega. A principal razão sendo a de que, tal voto, é um voto desperdiçado, uma ajuda à camarilha socialista. Quantos mais votos no Chega, menos votos na AD (qual é a dúvida?) e mais hipóteses tem o PS de ficar em 1º.

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A teoria de que um voto no Chega é um voto para mostrar um cartão amarelo ao PSD/CDS é, lamento, uma ideia pueril – para ser simpático. Tratar-se-ia de um disparate e sem direito a VAR – no imediato – para correcção dos efeitos.

O susto pregado pelo Chega aos interesses instalados já foi dado – e ainda bem – mas não deve passar do nível a que chegou. Partidos há, que, são úteis num determinado nível. É o caso do Chega: Falam sem rodeios (e na maior parte das vezes com soluções erradas) de problemas reais aos quais os outros têm receio de dar voz: A imigração é um problema que tem de ser olhado de frente e quem disser o contrário ou é burro ou mentiroso; O sistema funciona mal quando investiga e julga a corrupção; As forças de segurança, bem como as Forças Armadas, merecem mais e melhor; A ideologia de género e a política de cancelamento, passou de ridícula a uma intromissão agressiva.

Tudo bons temas que o Chega fala a alto e bom som. O problema é que falta o resto. E o resto é muito. E não fala, não só porque lhe falta o tempo para isso, bem como – principalmente – porque não tem ninguém capaz de pensar o resto dos assuntos. A crença que, ganhando, o Chega seria diferente e capaz de governar o país, é apenas isso: uma Fé, aliás uma fezada. Um partido que anuncia querer o fim do IVA na compra de habitação, que se preocupa com a disseminação da zoofilia e deseja o direito à greve nas forças de segurança é o que é: um grupo de pessoas pouco preparadas que querem ser políticos, chefiados por um político que ainda não está preparado.

O Chega atingiu o ponto de inflexão da curva de Laffer em termos políticos: Quantos mais temas quiser abordar, mais votantes perderá. Deixemo-lo, portanto, ficar onde está, a falar dos assuntos que os outros não querem, um género de melga azucrinante que nos vai lembrando que, em algumas situações, o Rei vai – de facto – nu.

Volto de novo aos meus amigos de direita. O que pretendemos todos nós? 1) Colocar no governo da Nação o centro-direita; 2) Acabar com ideias arcaicas e estatizantes de um PS perdido no tempo e colado ao Bloco; 3) Fazer esquecer as dezenas e dezenas de contratações de amigos e familiares; 4) Empossar um governo para os portugueses e não um que governe para o PS e seus protegidos. Tudo isto se consegue, conferindo ao nosso voto o antónimo de inútil: eficácia (Dicionário online da Porto Editora).

Não se trata assim, de um apelo ao voto útil. Voto útil é quando se pede que alguém vá contra as suas ideias, as suas crenças, o seu âmago (como quando Cunhal disse aos comunistas para votarem Soares). Na teoria de Cunhal, o voto útil em Soares era desvantajoso (antónimo de útil no mesmo dicionário) para Freitas do Amaral. E foi. Mas, ao contrário dos comunistas à altura, todo este povo de direita não precisa de bicarbonato para digerir o voto na AD. Sempre foi o seu voto. Pode estar entristecido com situações/pessoas, mas sabe que é ali o seu lugar. Todos aqueles que se revêm no Chega e gostavam de ver esse partido governar, pois que votem, sejam eficazes nos seus propósitos. O meu texto é para aqueles que dizem que não querem o Chega a ganhar, mas apenas a crescer para assustar. Ora, votar em alguém que não se quer que ganhe, criando com esse gesto, desvantagem a quem – de facto – se quer que ganhe, faz do acto de votar uma inutilidade.