A CP em certas zonas do país vende passes a 200 e 300 euros que fazem o cidadão português deslocar-se em pé no comboio numa viagem de longo curso, como é o caso do comboio intercidades entre Évora a Lisboa, o único a parar em localidades com bastante população como é o caso de Casa Branca ou Vendas Novas.
Este caso surreal e típico de um país do terceiro mundo não se fica por aqui pois a venda dos “flexi passes” da CP só é feita em certas estações geridas pela própria, fazendo os seus clientes deslocar-se mais de 50 km para adquirir um passe todos os meses.
Estou a referir-me aos passes exclusivos da CP, que esta faz questão de só vender em raras estações, como é o caso da estação de Pinhal Novo que é a única estação a sul do Tejo a vender este género de passe só para os utentes que apenas utilizam a CP.
Quem mora em Vendas Novas, no Pragal ou em terras circundantes tem de forçosamente deslocar-se a Pinhal Novo.
Mas não pense o leitor que isto acaba aqui.
A forma como a CP emite estes passes é totalmente arcaica, senão vejamos; o tempo de espera para receber o passe é de seis dias, através de um modus operandi mais arcaico ainda do que o passe L1 ou L123 da Carris que eu utilizava nos anos oitenta.
O passageiro para obter este “flexi passe” da CP tem de preencher um formulário à mão, e entregar uma foto com fundo liso (se não, não é aceite pelos serviços da CP) e obrigatoriamente em papel “fotográfico”.
Após este procedimento, o cliente paga mais seis euros pelo cartão e espera ao balcão infinitamente, enquanto uma fila de gente, cheia de pressa, espera e desespera aguardando que o funcionário preencha os campos de software no computador, que preencha um formulário à mão também ali no atendimento ao público, que emita um recibo com o NIF para o cliente e que por fim desabafe connosco a seguinte pensamento: “tomara que eles aceitem a requisição e não mandem para trás no único dia de semana de correio interno que temos com os serviços centrais”.
Entretanto o utente dos comboios da CP vai gastando cerca de 10 euros por bilhete emitido num papel enorme, inimigo do ambiente, em cada viagem que faz, aguardando que o flexi passe chegue um dia a casa.
É curioso que a CP, quando trabalha em passes combinados com a empresa de comboios “fertagus” ou com o metropolitano (passe navegante), já não apresenta este sistema de solicitação do passe dos tempos da Pré História.
Este modo de aquisição do passe apresenta-se a nós como um procedimento do terceiro mundo quando o comparamos ao que acontece em Londres ou em outra capital europeia onde adquirimos o passe para um mês ou para vários dias, numa máquina após um simples pagamento. Se juntarmos a esta burocracia da CP a burocracia de anexarmos uma declaração camarária que nos dá desconto para aquisição do “flexi passe”, podemos então esperar um mês para possuirmos o dito passe. Entretanto, em bilhetes, à espera do passe, o passageiro gasta em idas e vindas mais de 300 euros.
Seria bom alguém informar o governo que a maior parte da população não tem menos de 23 anos, nem é reformada para beneficiar de descontos. Seria bom informarem o partido Livre e o governo que a maior parte da população nunca andou de comboio regional pois são inúteis para ir todos os dias trabalhar. Seria bom informarem o primeiro ministro António Costa e o presidente Carlos Moedas que Lisboa é só uma cidade de Portugal e muita gente já saiu da capital por falta de condições económicas. Seria bom informarem o governo que as pessoas da classe média não podem pagar 300 euros para ir em pé num comboio ou 20 euros por dia em bilhetes, à espera de um passe que se arrasta nos corredores da CP.