A pandemia e agora a guerra trouxeram para a ribalta o tema da reversão da globalização.

Mas a tendência para aumentar as intervenções protecionistas no comércio internacional não é de hoje. A Global Trade Alert indica que entre 2009 e 2019 houve um aumento de 50% no número de intervenções protecionistas no mundo. A fadiga política com a globalização, as crescentes preocupações de segurança, em particular face à China, e uma vontade de os Estados Unidos serem menos interventivos no palco internacional são os principais motivos para esta mudança. Desde então, o número de intervenções mais do que duplicou devido às sanções. Mas quando a guerra acabar, não é claro que o mundo volte a abraçar entusiasticamente a ideia da globalização.

Esta semana o FMI divulgou os resultados de uma simulação sobre a economia global, caso se intensifiquem as tensões entre os dois blocos: de um lado os Estados Unidos, a Europa e os apoiantes da Ucrânia, e do outro a China, a Rússia e os seus aliados. Alguns resultados dependem da forma como os países estão distribuídos pelos blocos, mas há algumas conclusões que são transversais, num cenário em que o comércio de matérias-primas energéticas e de minerais entre os dois grupos de países é completamente bloqueado:

  • Redução no PIB global de 0,3% nos três primeiros anos depois do choque e aumento da inflaçaõ em 0,4% no primeiro ano. No caso da Europa o efeito sobre a inflação poderia ser superior a 1%.
  • Redução entre 10 e 20% no investimento global em energias renováveis e veículos elétricos, face a um cenário em que não há fragmentação.
  • Outros efeitos incluem um aumento da incerteza económica global, o que tornaria a política monetária mais complexa, efeitos sobre os preços dos bens alimentares, com efeitos muito negativos para os países em desenvolvimento.

Ainda que a desejável paz seja alcançável num prazo não muito longínquo, é importante entender que esta tendência de fragmentação global não surgiu do nada e poderá já não voltar atrás, mesmo depois do fim da guerra. Para além do potencial efeito sobre o crescimento e a inflação, o aumento do protecionismo poderá ser um entrave importante ao combate contra as alterações climáticas.

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