No dia 6 de Outubro vamo-nos deitar com os números elevadísimos da abstenção a ecoar na nossa cabeça. Revoltados uns, indiferentes outros, mas no fundo é impossível não constatar que há uma sociedade que quer ficar de fora e que vive tranquilamente ignorando, aceitando, cooperando.
Na televisão, na rádio e nos jornais as sondagens a confirmaram-se e temos os próximos quatro anos decididos. Mais um mandato que nos vai condenar a mais injustiças, a mais escândalos, muitas insuficiências e mentiras, a uma sede de poder desmedida, a mais impostos e a vidas em perigo. Os comentários políticos vão ser muitos, as críticas ainda mais, mas a vida continua. Amnésica como a sociedade é só vai perceber tarde que, afinal, o quadro cor-de-rosa que lhe pintaram não é real. Mas os dias vão passando, chegam os meses e na infinidade que são quatro anos esquecemo-nos de tudo novamente.
O que me interessa partilhar, para além das muitas suposições que podemos fazer, é que ainda vamos a tempo de alterar a história e de a escrever de outra forma. 43,00% foi o valor da abstenção em 2015, valor recorde em eleições legislativas. Quer isto dizer que houve quase tanta a gente a votar como a não votar. No eleitorado que se abstém está uma profunda desilusão com a classe política, são sinais de frustração, de falta de esperança e de indiferença. Esquecem-se que isto é o mesmo que colocar nas mãos do poder instalado um trunfo valioso. Uma sociedade indiferente e amnésica é muito mais conveniente que uma sociedade que procura saber mais, que se questiona e que participa.
A história pode ser verdadeiramente diferente se nos envolvermos, se nos encontrarmos com o país e se fizermos dele uma prioridade. Queremos ou não queremos deixar de ser uma sociedade que vive refém das decisões dos outros? Queremos ou não que o nosso lugar seja considerado, que a nossa voz seja ouvida? A abstenção do presente é um atentado ao passado e ao futuro porque ignora e despreza um direito conquistado a custo por muitos e porque nos impede de ver mais além. Estas palavras bem que podem passar por demagogia barata ou por mera utopia, mas a questão é tão prática quanto o ir às urnas no domingo, dia 6 de Outubro. A história pode ser diferente se o quisermos, se nos envolvermos e se ousarmos na escolha.