«Alienação» significa deslocar no tempo e no espaço um determinado fenómeno de modo a dissociar o sujeito do seu equilíbrio existencial para subjugar a sua mente. Adulterar a relação entre a designação e o conteúdo de palavras-chave é a técnica eficaz, equivalente a fabricar drogas alucinógenas e poder introduzi-las sem controlo no mercado recrutando abertamente dealers no ensino, comunicação social, partidos políticos, mundo das artes e espetáculos, redes sociais.
Num mundo assim, as pessoas ou controlam as palavras ou são controladas por elas. Essa é a fronteira entre razão e alienação, sanidade mental e loucura, liberdade e opressão. Deixo cinco entradas do dicionário de palavras-droga alucinógenas.
1 Colonialismo
Os mais ferozes na condenação do «colonialismo» europeu são os que não tiverem experiência vivencial do fenómeno colonial quando e onde existiu. África elucida. Para os alienados se protegerem baniram da história o olhar dos colonos europeus que viveram efetivamente o fenómeno no tempo e espaço. Como a realidade não se verga, no Ocidente viram-se forçados a banir, por acrescento, as conversas sobre África para escaparem à dolorosa comparação entre as condições de vida das populações colonizadas e as das populações «libertadas» da atualidade. Como a doença da desorientação no tempo e espaço não passa, os alienados instigam o jovem negro nascido e criado em Lisboa ou Paris, tão ignorante da África vivida quanto os ditos, a assumir-se «vítima» da «escravatura», «colonialismo», «fascismo» ou «racismo» bastando que escreva um rap ritmado, com molde importado dos Estados Unidos da América, e possua um cérebro condizente com a alucinada relação com o tempo e espaço impingida na escola ou na comunicação social, meios artísticos, por aí adiante.
2 Fascismo
O fascismo existiu em Itália enquanto fenómeno político e social. O momento inicial foi a Marcha Sobre Roma (1922) e estendeu-se até ao fim da segunda guerra mundial (1939-1945). O seu tempo histórico e o seu espaço territorial concretos são esses, podendo antecipar-se o fim para 1943, quando Benito Mussolini perdeu o poder, depois morto em 1945. Adulterando a factualidade do tempo e do espaço, as elites portuguesas identificam o fenómeno em Portugal e têm horror a quem ouse constatar o óbvio: Salazar não foi fascista. Confundir fascismo com autoritarismo conservador é confundir o inconfundível, é meter na cabeça das pessoas que querer mudar com estridência (fascismo) é o mesmo que querer escapar sem ondas a mudanças (autoritarismo conservador). Anoto que as «provas» do «fascismo» do Estado Novo (1926/1933-1974) acentuaram-se após o seu desaparecimento. Falta desenterrar Salazar para lhe explicar que ele era «fascista» e não sabia, uma vez que o Comité Central do Partido Comunista Português (PCP) assim o determinou para todo o sempre.
3 Nazismo
A palavra nazismo é droga dura. O fenómeno é específico da Alemanha entre 1933 e 1945 e fortemente identificado com o seu líder. Os mesmos que garantem o «fascismo» póstumo de Salazar deslocam o nazismo da Alemanha de Hitler para Portugal de Salazar. Para atormentarem as mentes, deslocam o fenómeno também no tempo e garantem que está de regresso através dos «neonazis». Considerando o percurso histórico da sociedade portuguesa é como garantir que de uma galinha nascerá um ganso. De resto, não existe melhor definição de ditadura do que a imposição de uma visão homogénea do passado coletivo. A esquerda conta a história dela e a nossa. Nós calamo-nos. Construiremos uma democracia decente e uma sociedade saudável quando impusermos o direito de, também nós, podermos contar a nossa história e a da esquerda.
4 Progressismo
O progressismo dos russos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e da Suécia social-democrata são casos exemplares de danos mentais causados em indivíduos e coletivos resultantes da falta de evidências empíricas na construção do conhecimento. Defensores dos povos oprimidos, qualquer desses regimes representava sociedades sem experiências históricas concretas de contacto com a diferença racial, religiosa, cultural, identitária, existencial. No extremo oposto, estão os povos colonizadores e «imperialistas» europeus, em especial portugueses, ingleses ou franceses que, desde os séculos XV e XVI, saíram do seu espaço para explorar África, Ásia ou Américas. A realidade forçou os últimos a irem conhecendo, por experiência vivida, as virtudes e vícios dos povos daqueles territórios e as suas próprias virtudes e vícios na relação com a diferença, a forma de produzir conhecimento válido, uma vez que o tempo e o espaço são intransponíveis.
Quanto mais indivíduos e sociedades vivem distantes de experiências vivenciais concretas e alimentam-se de narcisismos patológicos, tanto maior a sua propensão para radicalizarem juízos condenatórios sobre a conduta dos outros, dos que de facto viveram a experiência do relacionamento com a diferença.
Durante a guerra de África (1961-1974), os sociais-democratas suecos destacaram-se como fortemente antiportugueses e pró-Frelimo, em Moçambique. A carga alienada do seu progressismo acabaria por sobressair no desabamento do seu superior moralismo multicultural a partir do momento em que, pela primeira vez na sua história e já no século XXI, tiveram de lidar, eles mesmos e no seu país, com uma minoria imigrante culturalmente distinta, a minoria islâmica. O convívio na Suécia está a revelar-se socialmente corrosivo entre aqueles que se autoproclamavam mestres da bondade humana no tratamento da diferença. É tempo de lhes lembrar que os colonos portugueses, ingleses e franceses fizeram muitíssimo melhor quando eram minorias, por vezes ínfimas, em África criando sociedades moral, social e economicamente reguladas e prósperas durante o período da dominação colonial efetiva (entre finais do século XIX e a segunda metade do século XX). Basta comparar essa época com os períodos históricos anterior (pré-colonização) e posterior (pós-colonial).
Os russos soviéticos foram ainda mais longe. Nunca haviam abandonado o seu provincianismo mental resultante de uma história milenar voltada para o interior do seu extenso território. Quando já não havia reis absolutos na Europa, Portugal incluído, os russos ainda eram dominados por um czar, Nicolau II. A partir de 1917, trocaram-no pelos ainda mais criminosos Lenine e Estaline. Milagre dos milagres. Sem experiências históricas fora do seu espaço, num ápice os russos soviéticos passaram a alegar conhecer melhor do que ninguém todos os povos da terra e decidiram «libertá-los». A realidade desfez a alienação. A experiência russa fora do seu território ancestral ocorreu na Europa de Leste e resultou na opressão pura e simples de povos que nem eram muito diferentes deles, e sem qualquer contributo para a evolução civilizacional ou prosperidade económica dos povos dominados. Ainda assim, o progressismo soviético continua a inspirar a esquerda destacando-se hoje o ultra alienado «globalismo» desavindo ancoragens elementares no tempo e espaço. Haverá melhor definição de loucura?
5 Racismo
Para quem admita a validade atual da palavra, o «racismo» resiste como fenómeno deslocado dos Estados Unidos da América para a Europa. Desde a origem e para sempre, a ancestralidade do outro lado do Atlântico pertence apenas à minoria índia, pelo que brancos e negros estão condenados a disputar entre si filiações legítimas a um espaço territorial que nunca lhes reconhecerá ancestralidade e, por isso, as disputas raciais estarão sempre latentes entre os alienígenas. Europa e África são de outra natureza. Os colonizadores europeus praticaram a discriminação racial num outro tempo histórico e fora do seu espaço territorial ancestral. Com as independências e com o fim dos impérios, as populações negras assenhoraram-se dos seus espaços ancestrais em África. A população branca, por seu lado, viu a legitimidade da sua identidade confinada ao seu espaço originário, a Europa. Logo, o caldo de tensões raciais à americana jamais será reproduzível nas sociedades europeias e africanas onde a legitimidade da maioria racial não é questionável, a não ser por indução artificial de um parto sem gravidez. As minorias brancas em África estão hoje livres dessa alucinação e no antigo bastião do Racismo, a África do Sul, levam, calam e morrem. Na Europa, que garante e garantirá uma inigualável justiça inter-racial, os autoproclamados representantes das minorias negras, pelo contrário, semeiam conflitos raciais, por exemplo em Lisboa ou Londres, supondo-se em Nova Iorque. Por excesso de mimo branco, divertem-se a insultar a dignidade da maioria que os acolhe na sua terra ancestral. Não creio que esses antirracistas esperem milagres da sua alienação, apenas subsídios pagos através de impostos custeados pelos europeus civilizados que insultam.
Sociedade inteligente e palavras-droga alucinógenas são antónimos
O dicionário de palavras-droga alucinógenas poderia ter outras entradas: «capitalismo», «ciências sociais», «comunismo», «discurso de ódio», «eurocentrismo», «extrema-direita», «homofobia», «imperialismo», «islamofobia», «multiculturalismo», «nacionalismo», «neoliberalismo», «populismo», «social-democracia», «socialismo», «xenofobia» e mais umas poucas. A recusa do consumo dessa família de palavras e respetiva pedagogia removeriam os seus fabricantes e traficantes para onde merecem, o hospício da história, e abririam as portas à sociedade inteligente.